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Sem os americanos ficaria pior

Estelina Farias28 de outubro de 2003

O motivo da série de atentados em Bagdá foi falta de segurança e de perspectivas, o alvo são os estrangeiros e a meta é a saída dos americanos, mas isto mergulharia o Iraque na guerra civil e no caos total.

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Terror atinge a Cruz Vermelha InternacionalFoto: AP

Assim se resume a opinião da imprensa na Alemanha. Por unanimidade, ela aponta uma reconstrução rápida do Iraque como única saída para o beco em que os americanos se meteram.

Uma retirada das forças de ocupação americanas e britânicas teria conseqüências fatais, como destaca o jornal Badische Zeitung, pois "os seguidores do ex-ditador Saddam Hussein, unidos com os combatentes de Osama Bin Laden, mergulhariam o Iraque numa guerra civil e a população ficaria totalmente impotente". Por isto, mais esforços internacionais seriam a única resposta para a tentativa dos terroristas islâmicos de impedir a internacionalização da reconstrução do Iraque.

Bagdá foi abalada na segunda-feira (27) por uma onda de atentados orquestrados contra a representação da Cruz Vermelha Internacional e quatro postos policiais em Bagdá, com saldo de 42 mortos e 224 feridos. A onda de terror prosseguiu nesta terça-feira com a explosão de um carro por um suicida na cidade de Fallujah (oeste do Iraque), deixando quatro mortos.

Visão míope

- Após a série de atos terroristas em que morreu mais um americano, elevando as baixas dos Estados Unidos para 112 depois dos bombardeios há quatro meses, o governo do presidente George W. Bush não pode mais negar que está encostado na parede. Tanto no Iraque quanto em casa, pois corre o risco de perder o poder na próxima eleição, como observou o Neue Ruhr Zeitung.

"Mas quem exigir a retirada das forças de ocupação do Iraque é tão míope quanto o governo Bush e sua doutrina de prevenção", escreveu o jornal. Este acha que a ONU não poderia substituir os EUA, seja em termos militares ou de ajuda humanitária, mas ainda seria tempo de formar alianças e a conferência dos doadores, que juntou US$ 40 bilhões em em Madri na semana passada, foi um bom começo.

Der brasilianische Sergio Vieira de Mello, UNO, Porträt
Encarregado da ONU no Iraque, brasileiro Sergio Vieira de Mello, morto em atentado com caminhão-bombaFoto: AP

O Ostsee Zeitung também vê perigo de uma guerra civil e exorta os americanos e seus aliados a não capitularem no meio do caminho: "Enquanto o Iraque não puder se estabilizar com as suas próprias forças, os ocupantes têm de permanecer e tratar de restabelecer a normalidade, pois é exatamente isto que o resto do regime de Saddam Hussein e os terroristas islâmicos querem evitar".

Mais dinheiro e tropas

Para o Hamburger Abendblatt, os EUA encontram-se numa via sem retorno, desde que optaram pela guerra para destituir o regime de Saddam Hussein. "Agora, a comunidade internacional tem de dar um apoio maior, com mais dinheiro e até tropas, se necessário, para a estabilização." O que não pode acontecer é uma capitulação dos EUA no meio do caminho, concluiu o Abendzeitung.

A onda de terror iniciada no domingo com o ataque ao hotel Rachid, que hospedava o vice-secretário da Defesa americana e arquiteto da guerra, Paul Wolfowitz, mostrou, segundo o jornal General-Anzeiger de Bonn, que a situação no Iraque estagnou. O governo americano, por sua vez, parece mais desesperado que a ágil guerrilha iraquiana, que não só recruta seguidores do velho regime, como encontra apoio em círculos terroristas islâmicos.

A propósito, uma pesquisa revelou que 67% dos iraquianos vêem os americanos como potência de ocupação indesejada, mas por medo das conseqüências, só 10% desejam a retirada imediata dos americanos. Este teria sido o objetivo da onda de atentados no primeiro dia do Ramadã (mês de orações dos islâmicos), mas eles só servirão para enervar ainda mais os soldados americanos e fazê-los atirar mais rápido, na opinião do comentarista da Deutsche Welle, Peter Philipp.

"Com isso eles vão atingir a mesma meta dos terroristas, que é manter a população à distância e ainda mais hostil" aos americanos, acrescentou. "Só depois de experimentar progressos na sua qualidade de vida, a população do Iraque vai se opor ao terror e barrar o caminho de seus autores", profetizou o comentarista.

O governo alemão, que foi radicalmente contra a guerra, advertiu os americanos que, sem uma perspectiva política bem definida, não haverá progressos no Iraque.