A fonte secou para o Iraque
23 de outubro de 2003Como a guerra dos Estados Unidos e a Grã-Bretanha, que acabou de afundar a economia do Iraque, a conferência de doadores de recursos para a reconstrução do país também está gerando muita polêmica. Grupos e ONGs engajados na causa iraquiana argumentam que deveria ser realizada uma conferência dos credores do Iraque e não de doadores de recursos.
A dívida externa do Iraque é calculada em 325,5 bilhões de euros, dos quais 3,74 bilhões de euros são exigidos pela Alemanha. Só por reparações de guerra, Bagdá deve cerca de 170 bilhões de euros ao Kuwait. Mas no caos, miséria e insegurança em que o país se encontra depois da guerra deste ano, o endividamento parece ser um mal menor, segundo analistas internacionais. Defensores de um perdão da dívida iraquiana argumentam que é uma ilusão pensar que ela possa ser paga com venda de petróleo. Antes da Guerra do Golfo, em 1991, sua receita com petróleo era de US$ 15 bilhões.
Ao abrir a conferência em Madri, com representantes de 70 países e ONGs, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, exigiu que os EUA e seus aliados garantam mais segurança no Iraque. O Banco Mundial e a ONU estimam que são necessários mais de 30 bilhões de euros para a reconstrução do Iraque até 2007, mas Annan advertiu que esta obra não depende apenas de dinheiro e só o próprio povo iraquiano pode garantir um avanço de suas instituições.
A fonte alemã secou
– Os EUA, que lideraram duas guerras contra o Iraque, prometeram contribuir com US$ 20,3 bilhões (17,73 bilhões de euros). Sem maiores explicações, a Alemanha, que foi contra a guerra que derrubou o regime de Saddam Hussein este ano, avisou que a sua fonte secou. A titular da pasta encarregada de questões do gênero, Wieczoreck-Zeul, mandou o secretário adjunto de seu ministério, Erich Stather, para a conferência de doadores em Madri. A política social-democrata justificou a sua permanência em Berlim com o argumento de que a presença de ministros em conferências do gênero implica, automaticamente, mais promessa de ajuda. "E eu não posso nem quero fazer isto, como o chanceler [chefe de governo Gerhard Schröder] já deixou bem claro", afirmou.A posição de Berlim é clara: a ajuda para a reconstrução do Iraque se limita à soma de 115 milhões de euros, com a qual se comprometeu até agora, incluindo a parte alemã na ajuda humanitária da União Européia de 200 milhões de euros. Mais do que isto não é possível, como destacou o ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer. "Tudo isto junto equivale às nossas possibilidades", disse o político do Partido Verde, chamando a atenção para a grave crise econômico-social que a Alemanha enfrenta.
Não significaria, porém, que o governo alemão esteja de mãos vazias em Madri. Embora tenha sido contra a guerra, a Alemanha teria grande interesse na estabilidade e na reconstrução o país e entende que a ONU deve desempenhar um papel mais importante. A supremacia dos americanos não vai garantir a reconstrução, segundo a ministra Wieczorek, porque só depois que os iraquianos tiverem um governo próprio as instituições financeiras internacionais vão conceder créditos ao Iraque.
Além do mais, é preciso segurança interna, acima de tudo, para que as reservas de petróleo possam ser exploradas novamente e a economia iraquiana fique novamente sobre suas próprias pernas.