Entrevista
17 de agosto de 2009
Volker Schlöndorff é um dos mais importantes cineastas alemães, mas raramente trabalha como diretor de teatro. "E uma luz brilha na escuridão", de Leon Tolstói, é o título de sua mais recente encenação, montada na Alemanha e na Rússia.
Deutsche Welle: A peça trata de como se deve viver de fato. Compartilhar tudo, dar tudo o que se possui – como o fez Tolstói em sua vida – ou se seria o caso de cuidar só de si mesmo. Se a gente pensar na crise econômica e no debate sobre o salário dos executivos, o tema é bastante atual.
Volker Schlöndorff: Conheço Tolstói somente como romancista e gosto muito de lê-lo. Com a idade, a gente passa a ler livros como Guerra e Paz ou Anna Karenina com um interesse muito, muito maior. O que se revela, então, não é somente um drama individual, um herói ou heroína que geram identificação, mas sim um vasto panorama de pessoas e destinos. E cada um não deixa de ter razão à sua moda. Isso requer um grande espaço.
O teatro, na verdade, é justamente o oposto. Deve ser um aglomerado, direcionado para poucas pessoas e um único conflito explosivo. Esta peça não tem nada disso. É um verdadeiro panorama, como muitos fragmentos, diversos cenários evocados em todos nós por meio do texto. No fundo, a cenografia é a natureza e o ser humano que luta para descobrir como viver do jeito certo. Não acredito que se possa medir isso pela atualidade.
O que você enfoca na sua montagem de Tolstói em meio a esse "vasto" tema?
Muitas vezes na vida, eu mesmo me deixei seduzir por ideias. E certamente também acabei seduzindo outros a embarcar nessas ideias. É por isso que me interessa até que ponto a pessoa é responsável pela infelicidade que ela causa, e até que ponto isso é inevitável. Assim como o protagonista da peça, Tolstói também gostaria de ter dado tudo para os outros.
Ele gostaria de ter vivido de acordo com o Sermão da Montanha, compartilhar tudo com todos, dar a terra aos camponeses, e com isso ele acabou destruindo completamente a sua família. Os jovens que o levam a sério acabam em um batalhão penal ou no hospício ou na Sibéria. E, mesmo assim, ele acredita na verdade de suas ideias. Esse é o enfoque. Não tenho nenhuma resposta. Apenas mostro o seu drama.
Você se deixou inspirar pelos lugares da montagem, Neuhardenberg e Yasnaia Poliana?
Em primeiro lugar, existe a inspiração de um evento ao ar livre. Eu não arriscaria ir para o Deutsches Theater. Isso não coaduna com a minha profissão. Aqui fora me sinto automaticamente mais próximo do cinema, pois estamos encenando na natureza. Quando chove, quando faz calor ou sol, isso faz parte.
Mas também há qualquer coisa de lúdico. É um prazer de verão, na verdade. Talvez um pouco sério demais, mas não deixa de ser um prazer de verão. A gente fica sentado aqui, dá uma saída... E suponho que na Rússia será a mesma coisa.
As relações russo-alemãs nem sempre foram um prazer de verão. Isso tem alguma influência sobre a abordagem da encenação?
Isso é o principal, é claro. Acredito que, se a encenação tivesse sido só em Neuhardenberg, não teria provocado nem a metade da excitação. A necessidade de incluir um certo misticismo russo ajuda a entender melhor o outro lado. Na verdade, não sabemos nada sobre a Rússia, sobretudo no Oeste da Alemanha. Não sei como é na outra parte do país, o quanto se conhece de fato a Rússia. E, mesmo que se conheça, devem ser conhecimentos sobre a Rússia revolucionária e o que surgiu disso. Mas, da cultura russa mesmo, se sabe bem pouco, mesmo quem tenha lido o lúdico Dostoievski. Mas agora isso bate à porta, pois – querendo ou não – há uma dependência recíproca.
Será que a Rússia pertence à Europa ou é uma outra cultura, uma cultura própria? E, caso o seja, que cultura? Uma asiática, ou talvez mais espiritual, ou bem mais materialista? Essa é então uma forma de abordar a peça.
A encenação ainda não foi apresentada na Rússia. Qual o proveito desse contato para você até agora?
Quando se estuda a literatura russa do século 19, é inevitável não se sentir superficial. Temos a sensação de que os verdadeiros poetas e pensadores não somos nós, os alemães; tudo isso é somente a superfície. Os russos, sim, caem de imediato no existencial.
E então, como diz este aqui, ao reconhecer que isso é o certo, então dou tudo para os outros, sem consideração pela família, e vou para o deserto. Esse é um tipo de coisa que não conhecemos aqui. Nem na nossa vida, nem na nossa literatura.
Trata-se do absoluto naquilo que se espera da vida. Talvez também seja algo de absoluto na capacidade de sofrer, como se costuma dizer. Mas todo o cuidado é pouco! Isso é um clichê! Devo admitir que sim. Ou então se diz: uma certa cordialidade na convivência com os outros. Atenção! Clichê! Ou seja, começamos a notar quando representamos um russo e quando representamos um clichê, sem saber do que se trata. No fundo, só podemos representar a nós mesmos, alemães.
Isso é o que também tentamos fazer na peça. Não tentar dar uma de russo, mas dizer: é assim que entendemos, e portanto é o que vamos representar. Por outro lado, isso também volta a nos tornar muito vulneráveis.
Autor: Werner Herzog
Revisão: Roselaine Wandscheer