'Honrarias não bastam'
23 de junho de 2008Deutsche Welle: Sr. Schlöndorff, seu novo filme, Ulzhan – Das vergessene Licht (A luz esquecida) foi apresentado há pouco no Festival do Filme Alemão, em Ludwigshafen. O evento é dedicado, sobretudo, a obras de novos diretores. É um elogio para o senhor, um velho marinheiro do cinema alemão, haver sido convidado?
Volker Schlöndorff: Sim, e como! Notei que lá o conceito de "filme de autor" volta a ser valorizado. Quem ainda acredita no cinema como sétima arte hoje? Estabelecê-lo como tal já foi uma vez nossa nobre meta! E este é um festival que volta a tentar justamente isto com o cinema alemão. Acho fantástico! Pois todos os que atualmente trabalham e são bons – Tom Tykwer, por exemplo, ou Christian Petzold e outros – são autores!
O senhor começou a fazer filmes na década de 1960 e hoje é um dos diretores mais experientes da Alemanha. O que mudou, desde então, para os jovens diretores? O que é ser debutante em cinema hoje?
Quando fiz meu primeiro filme nos anos 60, O jovem Törless, não havia, por exemplo, a televisão. O mercado cinematográfico era gigantesco, e quando aparecemos com o "jovem cinema alemão", encontramos um público sedento, que se atirou sobre as nossas produções. Na época, alcançávamos um milhão de pessoas com filmes que hoje não conseguem nem 10 mil espectadores! Isso foi naturalmente um grande início.
Em seguida, veio uma longa fase de vacas magras, durante a qual – é preciso dizer –, foi a vez de a televisão nos salvar. Hoje, ocorre uma explosão que torna as coisas muito difíceis. Hoje se produzem duas ou três vezes mais filmes do que então, talvez dez vezes mais, também na Alemanha, justamente. Isso é possível graças à técnica digital, que é fácil, e também às numerosas subvenções. Mas é muito difícil encontrar espectadores. O acotovelamento nos cinemas é grande, a cada semana são lançados 12 filmes. Quem é que consegue se impor assim?
E, por outro lado, há cada vez menos salas de projeção. Nos últimos tempos o senhor tem tratado bastante da situação na Alemanha.
Sim, estou sempre para baixo e para cima, como um pregador no deserto, por último no congresso das cinematecas alemãs. O cinema, enquanto lugar, tem simplesmente que ser preservado. Precisamente nas cidades pequenas e médias, que, de resto, vão se transformando num amontoados de bares e supermercados. O cinema é um lugar de encontro, de troca, uma experiência comunitária para muitos. Não se pode ficar sempre sentado no sofá ou no bar.
Consideremos a sua carreira. Recentemente o senhor declarou que, na época, o Oscar por O tambor lhe abriu muitas portas, e que sem este Oscar não haveria sobrevivido na indústria cinematográfica. O que isso significa? Que só sendo famoso de verdade é possível continuar a trabalhar...?
... sim, sendo famoso ou tendo sucesso no sentido de ganhar dinheiro. Apenas os louros da glória não bastam. É preciso ter feito alguns filmes com que as salas, as distribuidoras e os produtores ganhem um monte de dinheiro, de modo que, no futuro, tenham sempre a esperança: "Bom, quem sabe ganhe de novo". Acho que esta é a receita! Mas, claro, os filmes feitos – quer tenham recebido um Oscar ou tido boas bilheterias, como A morte de um caixeiro viajante ou O viajante (Homo Faber) – também permitem que você sobreviva numa época de vacas magras e, apesar de tudo, receba propostas. Ou ao menos seja chamado de volta, quando lançar um projeto.
Que conselho daria agora aos jovens cineastas? É um valor em si fazer cinema nos Estados Unidos? Seja em Hollywood, seja na cena independente da Costa Leste?
Sim, é um valor em si por se tratar de uma experiência muito, muito forte. Algo que não se pode aprender teoricamente. É preciso estar lá. E ter trabalhado duas, três vezes, e ver quão duro é o vento da economia de livre mercado lá, onde não há nenhuma subvenção, e como tudo é protegido aqui. E isso estimula, é claro, você diz: "Um filme assim tem que provocar de algum jeito, chamar a atenção, ser diferente". Produzir algo apenas "bastante bom" não basta. Na Alemanha, é possível sobreviver quase toda uma vida "em fogo baixo". Mas para realmente colocar o pé no mundo, é preciso ter passado por essa experiência.