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'O poder do Oscar é muito grande!'

Ina Rottscheidt (av)25 de janeiro de 2007

O drama alemão "A vida dos outros" foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A DW-WORLD entrevistou o diretor Florian von Donnersmarck.

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Florian Henckel von DonnersmarckFoto: picture-alliance/ dpa

DW-WORLD: Parabéns, Sr. Henckel von Donnersmarck! Como foi para o senhor receber a notícia de que fora indicado para o Oscar?

Florian Henckel von Donnersmarck: Fiquei muito aliviado, pois também sabia quanta gente espera e torce por isso. É claro que a indicação não dependia mais de mim. A batalha, pela qual agora recebo essa distinção, eu já havia lutado há dois anos. Mas naturalmente você pensa que estaria decepcionando as pessoas se não fosse indicado.

Estou na França, na terça-feira (23/01) apresentei meu filme na estréia em Toulouse, e os franceses abriram uma enorme garrafa de champanha, é claro, e encomendaram logo novos cartazes com o complemento "indicado para o Oscar 2007".

Como o filme A vida dos outros (Das Leben der Anderen) está sendo recebido na França?

Das Leben der Anderen Georg Dreyman (Sebastian Koch) feiert seinen Geburtstag; rechts: Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck).
Sebastian Koch e Martina Gedeck em 'A vida dos ouitros'Foto: presse

Muito bem. É espantoso o quanto os franceses sabem sobre o tema. E também estão lançando o filme em grande estilo, com 120 cópias, proporcionalmente tantas quanto na Alemanha. E é claro que isso me deixa muito feliz, pois na França é que se escrevem as opiniões sobre o cinema mundial. Por exemplo, quando os franceses descobriram Michael Haneke, ele se tornou de repente, também para nós na Alemanha, um grande diretor.

Um filme alemão funciona no exterior?

Naturalmente os espectadores estrangeiros não estão habituados a assistir a um filme alemão com legendas. As produções de Hollywood são dubladas na maioria dos países, e os norte-americanos estão acostumados a só ver mesmo filmes em inglês. Para eles é inusitado ter que ler durante duas horas, só assistindo ao filme, por assim dizer, com o rabo dos olhos. É um outro tipo de experiência cinematográfica. Por isso, mesmo os filmes alemães mais bem-sucedidos só alcançam sucesso modesto no estrangeiro quando comparados com os norte-americanos. Por exemplo, Das Boot (O barco – Inferno em alto mar) é, até hoje, o filme alemão de maior sucesso nos Estados Unidos, onde conseguiu arrecadar cerca de 11 milhões de dólares. Para um filme norte-americano, mesmo para a menor produção independente, isso seria um fiasco gigantesco. Assim, é melhor não esperar demais. Mas você também alcança uma elite aberta para a cultura, é claro, e isso também é positivo.

Descontadas as legendas, o filme também funciona do ponto de vista do conteúdo? Afinal de contas é preciso conhecer as circunstâncias históricas.

Não é preciso conhecer tanto assim a história alemã para entender o filme. Senão eu teria feito algo errado e ele só se prestaria às universidades. Acho até que os norte-americanos gostam de que não seja tudo preto ou branco. Penso que, justamente agora, eles sentem que essa pintura em branco e preto, também por parte do atual governo – quando, por exemplo, ele fala do "eixo do mal" – não lhes valeu grande coisa, pelo contrário. E acredito que isso também ajuda o meu filme, e que os norte-americanos estão mais abertos a questões político-morais agora do que há cinco anos, talvez.

A que se deve o sucesso de seu filme?

Am Filmset Das Leben der Anderen Florian Henckel von Donnersmarck (Regisseur) mit Ulrich Mühe (l)
Ator Ulrich Mühe (esq.) e Von Donnersmarck no set de filmagemFoto: presse

Fiquei muito surpreso que Volver, de Almodóvar, não haja sido indicado. Para ele é certamente um golpe bem duro, pois sempre foi um queridinho da "Academy". Por outro lado, isso é também um indicador de quão incrivelmente bons são os outros filmes que concorreram com ele, já que até um Almodóvar ficou de fora.

Meu filme também conta sobre coisas que os espectadores internacionais conhecem e compreendem. Além de Stasi e serviço secreto, ele trata também de questões gerais humanas: como é a sensação de ter a esfera privada violada? Como é estar envolvido com o poder absoluto? Como é ter medo? Isso interessa e toca as pessoas.

Como está se preparando para a entrega do Oscar, em 25 de fevereiro?

É claro que estou bem nervoso, mas tento me acalmar, lembrando que ganhar ou perder está agora fora do meu âmbito de controle. Vai depender de como outras pessoas vejam meu filme, coisa que não tenho como influenciar. Sempre dizem que tudo depende da propaganda e das campanhas, mas não é verdade. São tantos cineastas bem-sucedidos e importantes juntos, e eles não se deixam influenciar pelo fato de alguém lançar um anúncio maior ou fazer um discurso elegante. Para eles, o que conta é se o filme os tocou, portanto simplesmente tento não estar tão nervoso.

Ao mesmo tempo, é claro que eu sei que receber o Oscar significaria uma grande mudança na minha vida. Pergunte a Volker Schlöndorff o que significou para sua vida ganhar um prêmio tão gigantesco logo no início de sua carreira, ou seja, em 1980, pela filmagem de O tambor. O poder dessa estátua é mesmo muito, muito grande!