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"Saneamento" da Volkswagen: início de retrocesso trabalhista?

(av)14 de junho de 2006

A maior montadora da Europa quer que seus empregados trabalhem mais pelos mesmos salários. Rejeitada pelo sindicato, a medida é apresentada pela VW como inevitável, e não exclui cortes. E há até quem esteja satisfeito.

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Funcionários da VW ficarão a ver estrelas?Foto: dpa

Os planos de "saneamento" da Volkswagen são assunto de discussão, para além dos muros da empresa. Segundo o governador da Baixa Saxônia, Christian Wulff, da União Democrata Cristã (CDU): "Todos nós precisamos fazer mais, render mais, sem receber compensação salarial, temos que ser aplicados, nos afirmar".

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Horst Neumann, diretor de pessoal da VolkswagenFoto: AP

Em meio a pesados problemas financeiros, a maior montadora da Europa quer que seus funcionários trabalhem mais, pelo mesmo salário. "Estamos planejando retornar à jornada semanal de 35 horas", declarou o chefe de recursos humanos da VW, Horst Neumann, em seguida às conversas preliminares com o sindicato dos metalúrgicos, IG-Metall, nesta segunda-feira (12/06), em Hannover.

O que fazer com tantas horas de trabalho?

Estender a atual semana de 28,8 horas para 35 horas, sem pagamento concomitante, equivale a uma redução salarial de 20% para os empregados da multinacional. O negociador-chefe do IG-Metall, Hartmut Meine, rejeitou a sugestão: "Não haverá discussões salariais com a Volkswagen".

Meine chamou a atenção para o fato de que a montadora está com excesso de pessoal: "No momento, não temos nem trabalho suficiente para manter todos os empregados ocupados numa semana de 28,8 horas".

Essa afirmativa é confirmada pelo diretor do conselho de empresa da VW, Bernd Osterloh: "Não vejo alternativa para a semana de quatro dias, uma vez que a firma não está em condições de definir o que acontecerá com o pessoal".

Tempo de sacrifícios?

Ainda assim, o governador Wulff insiste em que se iniciem as "negociações de saneamento" entre a montadora e os sindicalistas, "existencialmente importantes" para a competitividade e a manutenção dos postos de trabalhos na VW.

"Nos próximos meses haverá decisões sobre investimentos, sobre onde se produzirá quais automóveis e em que volume. Para tal, os sítios de produção em nosso Estado devem estar em excelente forma." A Baixa Saxônia é a segunda maior acionista da empresa.

A semana de quatro dias foi adotada pela Volkswagen em 1994, como parte de um acordo salarial abrangente. Reação à crise de faturamento da empresa de 1993, a medida visava a salvar 30 mil postos de trabalho nas seis fábricas do oeste alemão.

Quebrando compromissos

Na época, o acordo foi considerado extremamente inovador, sobretudo porque não houve redução de salário proporcional à da jornada semanal. Entretanto, como resultado, os custos da VW por hora de trabalho são 20% mais elevados do que os da concorrência: 54 euros, contra 39 euros, em média.

Os acordos também incluíam o compromisso de evitar cortes de pessoal até final de 2011. Contudo, no decorrer das negociações com o IG-Metall, Neumann revelou que a empresa precisa diminuir severamente seus quadros.

Segundo o diretor de pessoal, será "muito, muito difícil" manter todos os atuais 100 mil empregos nas seis fábricas em questão. É possível que 20 mil postos tenham que ser sacrificados, admite. Recentemente, o conglomerado passou a oferecer a seus funcionários alternativas como aposentadorias precoces e vantagens nas demissões voluntárias.

Seriedade em jogo

Por outro lado, peritos estimam que a adoção da semana de 35 horas resultará em perdas de pessoal bem maiores do que se pensava, ou seja, todo o atual excedente de 30 mil postos da VW na Alemanha. Para evitar cortes dessa ordem, a montadora pretende transferir para o país a produção de novos modelos.

Arndt Ellinghorst, analista do Investmentbank Dresdner Kleinwort Wasserstein (DrKW), considera praticamente impossível um aumento da capacidade dos sítios de produção no oeste alemão.

No fundo, a meta da VW é reduzir seus custos em 20%, o que implicaria economizar um bilhão de euros, afirma Ellinghorst. Ele critica o fato de a empresa não haver apresentado, até agora, um programa claro de saneamento: "Chega uma hora em que se duvida de sua seriedade", comenta o economista.

Para Horst Neumann, o ideal seria a proposta de prolongamento da jornada passar na primeira rodada. Porém logo acrescenta: "Isso não ocorrerá". Nas preliminares de 12 de junho, a VW sugeriu um modelo de reestruturação em três etapas, incluindo aumento de produtividade, redução dos custos de produção e maior eficiência. Uma segunda rodada está em planejamento, ainda para antes do segundo semestre.