"Só me interessa o que não entendo"
17 de fevereiro de 2005Gerhard Richter inventa imagens. Seu principal tema é a pintura. Há décadas, ele cultiva um profundo ceticismo filosófico em relação à imagem cotidiana que as pessoas fazem da realidade. Richter foi assistente de fotógrafo profissional. Em 1962, usou pela primeira vez uma foto como ponto de partida para pintar. Desde então, coleciona sistematicamente fotos para usá-las como base da pintura.
Não foi à toa que ele se consagrou no mundo das artes com seus motivos cotidianos desbotados, extraídos da fotografia. "Gosto de tudo aquilo que não tem estilo: dicionários, fotos, a natureza, de mim mesmo e das minhas imagens. Afinal, estilo é um ato de violência, e não sou violento", escreveu Richter em suas anotações de 1964/65.
Hoje ele trabalha com estruturas moleculares invisíveis, entre outras coisas. O imenso Strontium tem nove metros quadrados e consiste de centenas de esferas moleculares desfocadas em cinza e preto, numa seqüência gerada por computador.
Trajetória de leste a oeste
Gerhard Richter nasceu em Dresden, em 1932, cresceu em Oberlausitz e abandonou a Alemanha Oriental alguns meses antes da construção do Muro de Berlim, em 1961. Antes disso, ele trabalhara como pintor de cenários em Zittau, pintara faixas para uma cooperativa e estudara na Academia de Arte de Dresden. No Ocidente, ele começou a cursar do zero a Academia de Arte de Düsseldorf. Os trabalhos da época em que viveu na Alemanha Oriental não constam do índice de suas obras.
"Mais ou menos um em cada vinte quadros é realista", disse uma vez o pintor, numa de suas raras entrevistas. "Quando a pessoa está farta de uma coisa, tem que partir para outra." Por exemplo, misturar todas as cores primárias e expô-las em formato de telas cinzas (Vermalung, grau, 1972).
Ou decompor a escala de pigmentos de acordo com as tabelas industriais (Zehn grosse Farbtafeln, 1966/72). Ou construir espaços pictóricos com motivos abstratos violentamente coloridos (tríptico Faust, 1980, em amarelo e vermelho).
Nº 1 de 100
Hoje Richter é considerado um dos pintores contemporâneos mais influentes. Em 2004, foi eleito pela revista Capital o artista mais renomado do mundo. A revista avalia desde 1970 a projeção de artistas internacionais, de acordo com um sistema de pontos conferidos pelo êxito de exposições e publicações. Na opinião de curadores, jornalistas e diretores de museu, Gerhard Richter fez dez mil pontos em 2004.
Suas obras são altamente cotadas no mercado internacional de arte. Em 2001, a pintura a óleo Drei Kerzen (Três Velas, 1982) foi leiloada pela Sotheby's por 5,4 milhões de dólares. "São um milhão e oitocentos mil dólares por vela", gracejaram os colecionadores, sem esconder um certo constrangimento. Eles não haviam contado com isso.
A alta de Richter no mercado começou em 1998, quando a obra Seestück (Peça Marítima, 1969) foi avaliada pela Christie's em 300 ou 400 mil libras, mas acabou sendo arrematada por um milhão e 400 mil libras (dois milhões de euros). Desde então, Richter se tornou impagável.
Cara aquisição
Stadtbild Madrid (Imagem Urbana Madri, 1968) mudou de dono em 2003, nos Estados Unidos – uma história curiosa. O Museu de Arte de Bonn, que abriga a coleção Richter do empresário Hans Grothe, de Duisburg, havia emprestado este quadro para a turnê de uma retrospectiva e não o tinha recebido de volta. Por uma simples razão: o filho de Hans Grothe vendera o quadro nos Estados Unidos.
Em média, um Richter custa de 300 a 400 mil euros. "Não tenho nenhuma intenção, nenhum sistema, nenhuma direção. Não tenho programa, estilo, interesse." Foi assim que o pintor formulou seu credo, em 1966. Até hoje ele se mantém fiel a esses princípios.