Rússia reporta segundo dia de ataques de drones ucranianos
6 de dezembro de 2022A Rússia anunciou nesta terça-feira (06/12) que está tomando "medidas pertinentes" para proteger suas instalações de ataques de drones ucranianos. O anúncio ocorreu poucas horas após Moscou ter denunciado um novo ataque, que provocou um incêndio num aeroporto. Na segunda-feira, o Kremlin já havia reportado outros dois ataques de drones contra bases militares russas. Kiev não reivindicou diretamente a responsabilidade, mas celebrou o ocorrido.
"A linha de continuidade destes ataques terroristas, assumida abertamente pelo regime ucraniano, é um fator de perigo. Por isso, estamos tomando as medidas apropriadas", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O governador da região russa de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia, afirmou nesta terça-feira que um ataque com um drone provocou um incêndio num aeroporto. Vídeos da cidade de Kursk mostraram um grande incêndio na área do aeroporto, que é usado exclusivamente para voos militares.
"Na sequência do ataque com um drone, um reservatório de combustível do aeroporto em Kursk foi atingido. As chamas foram controladas. Todos os serviços de emergência encontram-se no local", disse Romam Statovoy no Telegram, ressaltando que aulas em duas escolas da região foram suspensas em razão das chamas.
Segundo a mídia local, uma instalação militar na região de Baza também teria sido atacada por drones nesta terça-feira.
Ataques a bases aéreas
Na segunda-feira, a Rússia já havia acusado Kiev de ter atacado com drones duas bases aéreas, deixando três mortos e quatro feridos, segundo o Ministério da Defesa russo. As duas bases de aviação são estratégicas para a Rússia e ficam localizadas a centenas de quilômetros da fronteira ucraniana. Embora os ataques tenham atingido alvos militares, a Rússia considerou os atos como "terrorismo".
Os ataques de segunda-feira atingiram a base de Engels, na região russa de Saratov, e a unidade militar de Dyagilevo, na região de Rayzan, onde se encontram aeronaves estratégicas usadas naguerra de agressão russa contra a Ucrânia.
Na base de Engels, localizada a 600 quilômetros a leste da fronteira ucraniana, encontram-se os bombardeiros nucleares Tu-95 e Tu-160, que têm sido usados nos ataques contra o território ucraniano. Já na base de Dyagilevo, a cerca de 500 quilômetros a nordeste da fronteira ucraniana, estão aviões de reabastecimento.
Os enormes bombardeiros Tupolev de longo alcance que a Rússia posiciona em Engels são uma parte importante de seu arsenal nuclear estratégico, semelhante aos B-52 implantados pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria. A Rússia vem utilizando essas aeronaves desde outubro para destruir a rede de energia da Ucrânia, com ondas quase semanais de ataques com mísseis.
Em agosto, a Ucrânia realizou uma série de ataques contra bases militares na Crimeia, incluindo o aeródromo de Saki, na península anexada pela Rússia em 2014.
Novos ataques à Ucrânia
Os ataques de drones fora das fronteiras russas ocorrem em um momento em que o Kremlin realiza uma campanha para destruir a infraestrutura civil da Ucrânia, incluindo a de energia e transporte. Na segunda-feira, sirenes de alerta voltaram a soar em toda a Ucrânia e regiões como as de Kiev, Odessa e Sumy voltaram a ficar sem energia – uma estratégia russa para dificultar o aquecimentos das casas.
Nesta terça-feira, a Rússia reiterou que os ataques foram justificados militarmente. O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, disse que eram "ataques maciços com armas de alta precisão e longo alcance contra o sistema de comando militar, plantas de armamento e objetos conectados a eles, a fim de quebrar o potencial militar da Ucrânia".
O jornal americano The New York Times, citando um alto funcionário ucraniano, disse que os drones envolvidos nos ataques de segunda-feira foram lançados do território ucraniano, e pelo menos um dos ataques foi feito com a ajuda de forças especiais próximas à base.
Para especialistas, se a Ucrânia consegue atingir alvos tão longe da fronteira, como as bases aéreas, pode atingir, também, Moscou.
Em uma atualização diária de inteligência sobre a guerra na Ucrânia, o Ministério da Defesa do Reino Unido disse que a Rússia provavelmente considerará os ataques à base como "algumas das falhas estrategicamente significativas de proteção de força desde a invasão da Ucrânia".
"A cadeia de comando russa provavelmente tentará identificar e impor sanções severas aos oficiais russos considerados responsáveis por permitir o incidente", completou.
Ucrânia não reconhece autoria de ataques
A Ucrânia não reconheceu a autoria dos ataques dentro do território russo. Questionado sobre os incidentes, o ministro da Defesa ucraniano, Oleskiy Reznikov, repetiu uma piada de longa data culpando o descuido dos russos.
"Muitas vezes os russos fumam em lugares onde é proibido", ironizou.
O conselheiro presidencial ucraniano, Oleksiy Arestovych, observou que Engels é a única base da Rússia totalmente equipada para a frota de enormes bombardeiros que Moscou usou para atacar a Ucrânia.
"Eles vão tentar dispersar [[aeronaves estratégicas] para bases aéreas, mas tudo isso complica a operação contra a Ucrânia. Ontem, graças ao 'fumo sem sucesso' deles, conseguimos um resultado muito grande", disse.
Os ataques também expuseram a vulnerabilidade de alguns dos locais militares mais estratégicos, levantando questões sobre a eficácia das defesas aéreas russas.
Moeda russa
Paralelamente, o Kremlin pressiona por uma anexação total dos territórios ucranianos sob seu controle. Os ocupantes russos da região ucraniana de Kherson pediram à população que troque suas economias por rublos.
Os pagamentos na moeda nacional ucraniana, a hryvnia, terminarão em 1º de janeiro, anunciou o chefe das forças de ocupação, Vladimir Saldo, em um vídeo no Telegram. Ele citou como motivos a queda maciça no valor da hryvnia devido aos problemas econômicos da Ucrânia.
Na região de Kherson, a capital regional de mesmo nome e outras cidades estão de volta ao controle ucraniano. A maior parte da região, no entanto, ainda está ocupada por tropas russas.
le (Lusa, Reuters, DPA, AP)