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Quem vai pagar pela festa imperial japonesa?

Julian Ryall ip
18 de dezembro de 2018

Uma coalizão de grupos religiosos e de cidadãos não quer que o governo japonês use o dinheiro dos contribuintes para cobrir os custos dos ritos religiosos para a entronização do novo imperador no ano que vem.

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O imperador japonês Akihito (à direita) ao lado de seu filho, o príncipe herdeiro Naruhito
O príncipe herdeiro do Japão Naruhito (à esquerda) ao lado de seu pai, o imperador AkihitoFoto: picture alliance/Kyodo

O príncipe herdeiro Naruhito, de 58 anos e primeiro filho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko, deve assumir o Trono do Crisântemo em 1º de maio do ano que vem, um dia depois de seu pai abdicar.

Cerca de 120 pessoas, incluindo monges budistas e membros de grupos cristãos, entraram com uma ação, alegando que o ato de o governo pagar por "cerimônias religiosas" inerentes às cerimônias de entronização é uma violação do princípio constitucional da separação entre religião e Estado.

A abdicação do imperador já era controversa: será a primeira vez que um imperador deixa o trono desde 1817. A questão de quem pagará pela cerimônia xintoísta de Daijosai, que faz parte da entronização de seu filho, acendeu ainda mais a discussão.

A Agência da Casa Imperial não revelou os custos da extravagante cerimônia, mas em 1990, a entronização do atual imperador custou cerca de 96 milhões de dólares.

"Acho que a maioria das pessoas aceita que há um elemento da religião xintoísta nos rituais de entronização, mas elas não parecem se importar que seu dinheiro esteja sendo usado desta maneira", diz Makoto Watanabe, professor de mídia e comunicação na Universidade Bunkyo de Hokkaido.

"É uma longa tradição da família imperial, e este imperador é muito popular entre o povo", diz. "Ele tem o apoio da grande maioria das pessoas por causa das crises que afetaram o Japão nos últimos anos, sobretudo o desastre do terremoto e do tsunami que atingiram o nordeste do Japão em 2011".

"Não acredito que muitas pessoas apoiem essas ações", continua, acrescentando que desafios legais semelhantes foram acionados no período que antecedeu a entronização de 1990, embora os tribunais tenham arquivado cada um deles.

Em resposta ao desafio legal, o governo nacional reiterou que pretende seguir adiante com seu plano de usar os fundos do Estado para os ritos. No entanto, há indícios de que a própria família imperial acredite ser inadequada a utilização do dinheiro dos contribuintes para as cerimônias.

O príncipe Akishino aproveitou a ocasião de seu aniversário de 53 anos no início deste mês para sugerir que o Estado não deve ser sobrecarregado com o custo dos ritos para a ascensão do seu irmão mais velho ao trono.

Em uma coletiva de imprensa antes de seu aniversário, o príncipe declarou: "Eu me pergunto se é apropriado cobrir os custos deste evento altamente religioso com recursos do Estado". Em vez disso, ele sugeriu que o custo poderia vir diretamente dos fundos da família imperial.

Sob os termos da Constituição japonesa, que entrou em vigor em maio de 1947, o Estado não tem permissão para se envolver em atividades religiosas. A tradição também determina que membros da família imperial não participem de assuntos políticos, incluindo comentários sobre assuntos de política doméstica ou  internacional.

E enquanto a família imperial pretende não comentar assuntos de Estado, o atual imperador encontrou formas sutis de fazer precisamente isso no passado. Mieko Nakabayashi, professora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Waseda, em Tóquio, acredita que os comentários do príncipe podem ser outro exemplo disso.

"Foi uma declaração bem pensada, não algo dito no calor do momento. Por isso acredito que tenha sido o resultado do conhecimento da Agência da Casa Imperial e do imperador", diz.

"Ele tem que ser visto expressando suas próprias opiniões pessoais e não tentando influenciar o governo ou mudar seu modo de pensar. Mas se membros do público então apresentarem uma ação judicial, a família imperial pode facilmente se distanciar disso", acrescentou.

"O Estado tem um enorme déficit financeiro no momento, e o imperador expressou, no passado, preocupação com o bem-estar de seus súditos. Então é muito provável que isso seja outra indicação do que ele pensa sobre o custo das cerimônias e como isso poderia ser gasto de outra forma".

"É essa a mensagem? Ninguém fora do palácio sabe ao certo", diz Nakabayashi. "Mas é interessante que tenhamos essa discussão na sociedade japonesa."

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