Literatura internacional
30 de setembro de 2009O termo "literatura internacional" é usado frequentemente para definir livros de autores norte-americanos ou europeus. Ampliar essa percepção limitada é o objetivo da Casa das Culturas do Mundo e da fundação Elementarteilchen, de Hamburgo, com a criação no novo Prêmio de Literatura Internacional. Ele será entregue em Berlim nesta quarta-feira (30/9), destinando-se a obras narrativas traduzidas pela primeira vez para o alemão.
A iniciativa pretende dar visibilidade a vozes literárias da Ásia, África ou América Latina, e assim contribuir para uma compreensão completa do que seja "literatura global". Pois, no momento, o mercado literário alemão ainda tem muito o que aprender sobre o assunto.
"A forma específica da literatura europeia e norte-americana tanto a tantos leitores de uma maneira tão forte, que para a maioria é realmente trabalhoso penetrar em outros tipos de literatura", diz Barbara Klefischer, dona da livraria Bittner, da cidade de Colônia.
Ela é responsável pelo abastecimento da seção de literatura não-europeia, e, em sua livraria, diferente da maioria, os livros de autores africanos, asiáticos ou latino-americanos são não só numerosos como apresentados em seções separadas.
Assim ela procura chamar a atenção dos leitores para a grande oferta de traduções para o alemão, que, sem receber um destaque especial, acabam se perdendo em meio à gigantesca oferta.
República democrática da literatura internacional
O interesse pela literatura não-europeia na década de 1970 era motivado principalmente por questões políticas. A qualidade literária dos produtos ficava em segundo plano. Assim, até 1980 muitos grandes autores da África, Ásia, dos círculos árabe e caribenho ainda não haviam sido traduzidos para o alemão. Um nicho que aproveitou a editora Zürcher Unionsverlag, ainda jovem na época.
A meta do fundador da editora, Lucien Leitess, era criar "um tipo de república democrática da literatura mundial, independente da origem, da língua e do estilo". Leitess queria que os grandes autores contemporâneos de todo o mundo recebessem tratamento igualitário. Ele acabou se tornando um indicador de tendências, com faro para autores em ascensão.
A Unionsverlag lançou em meados de 1980 a primeira tradução para o alemão do escritor egípcio Nagib Machfus. Em 1988 ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura por seus grandes romances situados na cidade do Cairo – como primeiro, e até então único, autor de língua arábica.
Machfus é também um exemplo do efeito mercadológico de um prêmio de literatura. Em três anos, a Unionsverlag havia vendido apenas 300 exemplares dos romances de Machfus. No dia da entrega do Prêmio Nobel, eram 30 mil.
Mediar diferenças é trabalho duro
O sucesso de um único autor pode despertar a curiosidade sobre a literatura de uma grande região, embora haja diferenças específicas de cada país. É o que acredita Monika Bilstein, chefe da editora Peter Hammer, na cidade de Wuppertal, uma das primeiras a trazer para o mercado alemão livros de autores africanos e latino-americanos. Segundo ela, a literatura latino-americana em geral se beneficiou muito de grandes nomes como Gabriel García Márquez, Isabel Allende ou Mario Vargas Llosa.
Conhecidos no mercado literário alemão, esses autores atingem grandes tiragens, e "isso deu visível vantagem aos jovens autores latino-americanos nos anos seguintes", diz Bilstein.
Para os autores africanos, infelizmente, não funciona da mesma forma. Mesmo os nomes mais famosos, segundo Bilstein, são "para muitos totalmente desconhecidos, e as novas gerações têm muita dificuldade para começar".
Quanto mais estranho parece o país ou a cultura, mais difícil é divulgar sua literatura na Alemanha, como observa Barbara Klefisch, da livraria Bittner. "Mesmo entre as pessoas mais abertas, que estão dispostas a explorar muitas novidades, a literatura não-europeia fica sempre um pouco de fora."
E no entanto, justamente vindos de partes do mundo aparentemente tão distantes, tomam a palavra autores que muito têm a dizer sobre as mudanças no mundo globalizado. São experiências de migração e exílio e as transformações que estes causam nas identidades culturais. Portanto chegou a hora de chamar a atenção para essas novas vozes literárias, através de um novo prêmio de literatura.
Autora: Christel Wester (ff)
Revisão: Augusto Valente