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"Protecionistas sempre se autossabotam"

Klaus Ulrich ca
27 de novembro de 2018

Em entrevista, economista alemão diz que Donald Trump provoca efeito bumerangue e se torna vítima de sua própria política protecionista, como mostram demissões em massa anunciadas pela GM.

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Foto de Donald Trump em sua limusine
Trump provoca efeito bumerangue com aumento das tarifas de importação do aço, diz KoothsFoto: Getty Images/M. Cavanaugh

A General Motors (GM) anunciou na segunda-feira (26/11) sua maior restruturação desde que, há uma década, teve que ser resgatada financeiramente pelo governo americano.

A maior montadora americana planeja interromper em 2019 a produção em três fábricas. O plano é cortar a produção de modelos com vendas fracas e demitir até 15 mil funcionários.

Com o anúncio, a GM atraiu para si a ira de Donald Trump – o aumento dos custos devido à elevação das tarifas de importação do aço, imposta pelo presidente americano, teria sido uma razão para a decisão da montadora.

Em entrevista à DW, o economista alemão Stefan Kooths, especialista em comércio exterior e chefe do instituto IFW, comenta a situação e diz que a indústria automobilística americana também será vítima do protecionismo dos EUA.

Deutsche Welle: Trump se tornou vítima de sua própria política de isolamento?

Stefan Kooths: Pode-se ver dessa maneira. Cedo havíamos advertido que essas medidas – como o protecionismo no alumínio e aço – se alastrariam rapidamente para outros setores no próprio país. No final, a economia americana sofre com essas mesmas sanções, assim como o resto do mundo. Do ponto de vista da economia global, perdem-se oportunidades úteis de cooperação.

Assim, a indústria automobilística americana também será vítima do protecionismo dos EUA.

Os problemas da GM certamente não derivam apenas dos preços mais altos do aço. Eles também estão relacionados com a necessidade de reajustar a paleta de modelos. Culpar somente as tarifas seria algo muito simplista. Mas claramente esses são efeitos bumerangue negativos que atingem a sua própria economia.

Mesmo antes de os planos da GM se tornarem conhecidos, Trump teria convidado os chefes das montadoras alemãs VW, Daimler e BMW para negociarem diretamente sobre tarifas punitivas e empregos nos EUA. Essa reunião se tornou menos provável após o anúncio da General Motors?

Isso seria agora mera especulação. É preciso esperar para ver se tais reuniões vão acontecer. De qualquer forma, não faz mal a ninguém trocar ideias em Washington. Claro que ali não se podem negociar tarifas alfandegárias, isso só pode ser feito entre o governo americano e a União Europeia.

Mas a indústria automobilística alemã poderia deixar claro para o presidente dos EUA que os americanos como um todo não são vítimas do comércio de carros.

Na realidade, os modelos off-road da Daimler e BMW são fabricados em plantas nos EUA. A BMW é até mesmo a maior exportadora de automóveis nos Estados Unidos. Apresentar novamente tais fatos pode ajudar o presidente americano a não se ver mais como uma vítima. Tais conversas atenuariam as relações.

Que objetivos Trump poderia ter em vista com essa reunião? Ele sabe que seus interlocutores, os presidentes das montadoras alemãs, não têm mandato oficial de negociação?

Talvez ele tenha algo em mente, algo que os americanos tentaram na década de 1980 com a indústria automotiva japonesa: "restrições voluntárias à exportação". Um lado promete menos exportações, enquanto o outro retira possíveis ameaças.

Mas isso provou ser um péssimo negócio para os americanos, já que, no final, significou apenas que os fabricantes japoneses pudessem impor preços mais elevados para os consumidores americanos. Ou seja, a conta foi paga pelos próprios americanos. Eles deveriam, portanto, aprender com suas más experiências e não cair novamente na mesma armadilha.

Consta que houve uma oferta da UE de baixar a tarifa de importação de carros para zero, se os EUA seguissem o exemplo. Por que isso não é suficiente para Trump, como dizem os rumores?

É difícil avaliar a motivação de Trump. Talvez ele tenha sido pego de surpresa com essa oferta. Porque isso anularia toda a sua retórica de que os europeus como um todo seriam parceiros comerciais injustos. Penso que essa oferta é uma medida muito sensata do lado europeu. Recomendamos isso desde o início.

Pode-se também ir mais longe e dizer que vamos negociar uma redução tarifária completa no comércio transatlântico como um todo, não apenas nos veículos. Isso enfraqueceria bastante a campanha de Donald Trump.

Trump poderia estar hesitante porque, no caso das grandes pickups, que são sucesso de vendas nos EUA, acontece justamente o contrário? No segmento dos grandes carros utilitários, a tarifa de importação de 25% nos EUA é muito maior do que na Europa. Se ela caísse, isso não seria talvez um convite não somente para os fabricantes alemães apostarem mais neste segmento de mercado?

Nesse segmento, os americanos teriam pouco a temer da indústria automotiva europeia. Esses veículos não são construídos aqui na Europa e as montadoras, que os fabricam, alocaram sua produção mais no México ou em outros países.

Por outro lado, não há apenas defensores veementes do livre-comércio na União Europeia. Por que temos então impostos de importação sobre carros comuns dos EUA? Os produtos da indústria automobilística americana dificilmente se encaixam no mercado europeu. Temos tarifas de importação sobre automóveis porque alguns países da UE querem se proteger da concorrência asiática, não da americana.

É por isso que os protecionistas sempre se autossabotam. Em particular no comércio transatlântico, isso desencadeou um conflito que nem sequer existe segundo as condições reais do mercado.

Sobre um possível encontro entre Trump e as montadoras alemãs, há também outra teoria: o presidente dos EUA quer pressionar os fabricantes alemães, para que eles procurem os políticos em Berlim e Bruxelas e repassem a pressão. Quão provável seria essa ideia?

Pode ser que seja verdade. Por um lado, porque Trump provavelmente já experimentou que a maior pressão contra a sua política comercial vem de suas próprias fileiras. Isso provavelmente o impressionou muito mais do que qualquer gesto ameaçador do lado europeu. No entanto, a indústria automotiva não deve se envolver em tal jogo. Ela só tem a perder.

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