Austronáutica russa
14 de novembro de 2011A nave espacial russa Soyuz TMA-22 decolou nesta segunda-feira (14/11), em meio à neve, do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Os três tripulantes a bordo estão a caminho da Estação Espacial Internacional (ISS), onde devem chegar nesta quarta-feira.
Os dois cosmonautas russos Anton Chkaplerov e Anatoli Ivanichin e o astronauta norte-americano Dan Burbank ficam na ISS até março de 2012. O lançamento da nave russa estava planejado para acontecer dois meses atrás, mas foi adiado depois que um cargueiro de suprimentos Progress, não tripulado, caiu logo após o lançamento, no final de agosto.
A falha teria sido no sistema de propulsão, o que desencadeou uma nova revisão nos foguetes Soyuz, já que estes utilizam o mesmo tipo de propulsor usado pela nave que carregava suprimentos.
A atual missão rumo à ISS está sob o comando de Burbank, de 50 anos. O veterano já foi três vezes ao espaço, ao contrário de Chkaplerov e Ivanichin, que viajam pela primeira vez. Em dezembro, o trio deverá receber reforço, fazendo com que a equipe da ISS esteja de novo composta por seis pesquisadores, como de costume.
Segurança acima de tudo
Sempre que uma nave está prestes a decolar da base espacial de Baikonur, uma importante operação é realizada: um módulo de cerca de três metros de comprimento é acoplado ao alto de um foguete Soyuz. Todos os passos dos técnicos da Roskosmos, a agência espacial russa, são registrados. Cada troca de parafusos tem um responsável.
Segundo o técnico Sergei Trunitshev, que acompanhou os últimos preparativos antes da decolagem desta segunda-feira, esse ajuste é um momento de grande responsabilidade. O Sistema de Salvamento de Emergência (SAS, na sigla em russo) é um dos componentes mais importantes de um foguete Soyuz.
Trunitshev trabalha em Baikonur há 30 anos e explica que esse sistema é a última chance dos cosmonautas caso alguma coisa dê errado durante a decolagem.
Desde que os Estados Unidos encerraram a era dos ônibus espaciais, em julho passado, a Soyuz é o único meio de levar astronautas à plataforma espacial internacional. A atual tripulação da ISS retorna em meados de novembro com a nave que partiu nesta segunda-feira. Caso o lançamento não tivesse ocorrido, os astronautas iriam retornar num equipamento de emergência, e a ISS ficaria sem tripulação pela primeira vez em 11 anos de existência.
Cinco panes em um ano
Além da queda do Progress, foi registrado outro fracasso na semana passada. Após o lançamento, os motores de propulsão da sonda interplanetária russa Fobos-Grunt, que tinha o objetivo de chegar à lua marciana de Fobos, não ligaram, e o aparelho se perdeu na órbita terrestre.
No último final de semana, os serviços espaciais russos tentaram entrar em contato com o aparelho, mas por enquanto sem sucesso. Esta já é a quinta decolagem russa que falha em menos de um ano. Na maioria das vezes, satélites caros acabam se perdendo no espaço.
Porém o problema pode ser maior do que apenas um prejuízo financeiro. O futuro do programa espacial russo está em jogo e com ele, também o futuro da Estação Espacial Internacional.
Depois que os Estados Unidos encerraram a era dos ônibus espaciais, a Rússia assumiu o abastecimento da ISS. Uma nova pane poderia representar o fim da ISS, um projeto que envolve diversos países e custou 100 bilhões de euros.
Os constantes problemas enfrentados pelos russos têm colocado o tópico 'segurança' em questão. Pergunta-se o que afinal está acontecendo com os foguetes russos, que sempre foram tidos como robustos e seguros.
Para o escritor Iuri Muchin, redator-chefe da revista especializada Novosti kosmonavtiki, o tópico segurança é levado muito a sério pelos russos. Segundo ele, os foguetes e naves Soyuz, que existem desde meados dos anos 1960, fazem jus à fama que têm. Desde então já houve mais de mil lançamentos, e em menos de 1% dos casos foram registradas falhas.
Nenhuma morte desde 1971
O especialista Muchin afirma que a vida dos cosmonautas é prioridade no programa espacial russo. Nos 50 anos em que os russos estão no ramo espacial, foram registradas somente duas catástrofes com vítimas fatais.
Uma delas foi em 1967, quando um paraquedas falhou e a Soyuz-1 atingiu com toda a força a Terra, causando a morte do cosmonauta Vladimir Komarov. A outra aconteceu em 1971, quando três cosmonautas morreram asfixiados por causa da despressurização do módulo, durante o pouso na Terra.
Em setembro de 1983, uma nave Soyuz explodiu enquanto ainda estava na rampa de lançamento, em Baikonur. Mas a vida dos dois cosmonautas soviéticos a bordo foi salva graças ao Sistema de Salvamento de Emergência. "O SAS foi ativado automaticamente poucos minutos antes da explosão. A nave foi desconectada do foguete e lançada ao ar", diz Trunitshev.
A nave com os tripulantes pousou a poucos quilômetros do local de lançamento, longe da área incendiada. "Houve uma rachadura num condutor que continha uma mistura altamente explosiva", lembra Trunitshev.
Os recentes fracassos custaram o emprego do chefe da agência espacial russa, Anatoly Perminov. Em seu discurso de despedida, ele disse que a Rússia perdeu a corrida espacial para os Estados Unidos. Segundo ele, os americanos investe 80% mais do que os russos no setor.
O sucessor de Perminov, Vladimir Popovkin, também está sob pressão. Críticos afirmam que ele teria forçado o lançamento da sonda para Marte, antes que a tecnologia estivesse pronta. Mas, para o especialista Muchin, mesmo com algumas falhas, os foguetes russos continuam sendo seguros: "Trata-se de uma técnica altamente complexa e ela também pode falhar".
BR/dw/dapd/lusa/afp
Revisão: Alexandre Schossler