Processo contra grupo neonazista leva cinco ao banco dos réus em Munique
6 de maio de 2013Em meio a um forte esquema de segurança e grande interesse da imprensa internacional, o Tribunal Superior Regional de Munique iniciou nesta segunda-feira (06/05) o julgamento da série de assassinatos cometidos pelo grupo Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão). As vítimas são nove pessoas de origem turca ou grega e uma policial alemã, mortas entre 2000 e 2007.
Já no final de 2012, a Procuradoria Geral da República da Alemanha havia denunciado à Justiça Beate Zschäpe, suposta integrante do trio de radicais da NSU, juntamente com quatro supostos cúmplices daquela célula de extrema direita. Antes do início do processo, detalhes das biografias dos cinco acusados circulavam na internet, originados de protocolos oficiais de interrogatórios e de pesquisas de grupos antifascistas.
Zschäpe, de 38 anos, é a figura central do processo. Ela é acusada de cumplicidade na morte de oito pessoas de origem turca, de uma pessoa de origem grega, de participação num atentado a dois policiais em Heilbronn, além de ser incriminada por tentativa de assassinato em atentados a bomba da NSU no centro de Colônia e em Mülheim.
Suspeita de produzir explosivos
A participação de Zschäpe na cena neonazista é tida como indiscutível. Muitas fotos e filmes a mostram participando de manifestações de extrema direita em várias cidades alemãs. Aos 18 anos, ela se juntou a um grupo neonazista em Jena, no qual conheceu Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, com quem formaria a NSU.
Embora os pais de Zschäpe tivessem educação universitária, ela deixou a escola ao final do ensino médio e começou a trabalhar como assistente de pintor de paredes. Em 1998, a polícia encontrou armas e material de propaganda nazista em seu apartamento. Na época, Zschäpe era suspeita de envolvimento na produção de explosivos, tendo entrado na clandestinidade após um mandado de prisão ser emitido contra ela.
Quando a célula terrorista NSU foi descoberta, no final de 2011, ela teria provocado uma explosão no apartamento em que morava em Zwickau, com a finalidade de destruir provas dos crimes cometidos pelo grupo.
Mundlos e Böhnhardt cometeram suicídio quando o caso veio à tona. Zschäpe, se condenada, pode passar o resto da vida na cadeia.
Supostos cúmplices
Ralf Wohlleben, de 37 anos, e Carsten S., de 33, dois ex-funcionários do partido de extrema direita NPD, são acusados de envolvimento nos assassinatos por, supostamente, terem fornecido aos integrantes da NSU a arma do crime, uma pistola Ceska, modelo 83, com silenciador.
Antes de se engajar no NPD, Ralf fazia parte, juntamente com Böhnhardt, Mundlos e Zschäpe, do grupo neonazista Kameradschaft Jena, além de participar, junto com Carsten S., da Thüringer Heimatschutz, uma coalizão de grupos de extrema direita do estado alemão da Turíngia.
Especialista em informática, Ralf monta páginas de internet como autônomo, enquanto Carsten é pintor automotivo. Este afirma que deixou o meio extremista em 2000, após ter sido hostilizado naquele ambiente e dentro do partido por ter se declarado homossexual.
Ele se dispôs a depor como testemunha da acusação e reconheceu ter comprado e encaminhado a arma do crime a Ralf. Já este teria, segundo outra testemunha, fornecido dinheiro regularmente, ao longo de muitos anos, a Böhnhardt, Mundlos e Zschäpe, na época em que eram fugitivos da polícia.
Pantera Cor-de-Rosa
André E., de 33 anos, é acusado de envolvimento nos assaltos da NSU e no atentado a bomba praticado pelo grupo no centro de Colônia. Ele operava a produtora de video Aemedig, em Zwickau, e teria ajudado na produção de um vídeo em que o grupo assume os atentados e brinca sarcasticamente com as vítimas dos assassinatos da NSU, usando a personagem de desenho animado Pantera Cor-de-Rosa. Depois da descoberta da NSU, a polícia encontrou no trailer de André material que aparentemente o incrimina.
O motorista de empilhadeira Holger G., de 38 anos, é acusado de dar apoio à NSU. Morador dos arredores de Hannover e originado de Jena, ele teria sido militante do grupo Freie Nationalisten Hannover entre 1997 e 2004, facção extremista muito ativa, mas que neste meio tempo renunciou à violência.
Holger também confessou sua culpa, tendo afirmado em depoimento que havia se encontrado com Böhnhardt, Mundlos e Zschäpe em maio de 2011 e fornecido um passaporte novo para Böhnhardt. Usando de sua semelhança com Böhnhardt, Holger fornecia desde 2001 documentos de identificação, carteira de motorista e de seguro de saúde. Os papéis foram usados por Böhnhardt durante uma década, no tempo em que se encontrava na clandestinidade.
Investigações em curso
As declarações de Holger aos policiais incriminam Ralf Wohlleben. De acordo com Holger, Ralf teria assumido papel de destaque entre as pessoas que apoiavam a NSU. A disposição em cooperar com a Justiça fez com que Holger fosse posto em liberdade em meados de 2012.
Muitos se perguntam porque somente quatro pessoas são levadas a julgamento com Zschäpe, já que o círculo de ajudantes da NSU incluiria 129 pessoas. As autoridades policiais, entretanto, afirmam que as investigações ainda estão pleno curso.