O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou reduzir as exportações de petróleo para países consumidores do Ocidente. Embora ainda não esteja claro o quanto a Rússia vai cortar suas exportações, é provável que o preço do petróleo suba.
Atualmente, um barril de petróleo bruto custa cerca de 130 dólares. Isso é cerca do dobro do que no início do ano. Para comparação, a última vez que o petróleo bruto custou mais foi em meados de 2008, quando o furacão Katrina interrompeu a produção no Golfo do México.
Mas agora a situação é dramática. Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, é possível que o preço de um barril de petróleo suba para mais de 200 dólares. Lembremos que, no início da pandemia, há dois anos, o preço do petróleo caiu abaixo de zero dólares por um curto período de tempo. As empresas petrolíferas pagaram um prêmio a seus clientes quando eles disponibilizavam suas instalações de armazenamento.
Isso agora acabou, e um debate acalorado está ocorrendo no Brasil sobre os preços dos combustíveis. Há várias semanas, o governo, a Petrobras e o Congresso vêm negociando se e como o aumento dos preços do petróleo poderia ser repassado aos consumidores. Afinal, a Petrobras não aumenta seus preços desde o início de janeiro. O diesel atualmente oferecido está cerca de 50% mais barato do que deveria custar se comparado ao preço no mercado mundial. A gasolina é cerca de um terço mais barata no Brasil.
Os preços baixos em comparação com o exterior ameaçam o fornecimento. Cerca de um quinto do combustível é importado ou produzido por empresas privadas. Para elas, vale cada vez menos a pena importar diesel e vendê-lo mais barato. O perigo de que os postos de gasolina fiquem sem gasolina é particularmente grave no Nordeste do país, onde o combustível é importado.
O presidente Bolsonaro está agora diante de um dilema. De alguma forma, a Petrobras tem que aumentar os preços nos próximos dias para evitar o risco de desabastecimento. No entanto, aumentar o preço do diesel vai impulsionar a inflação. O aumento dos preços do transporte irá acelerar ainda mais a inflação dos alimentos. E isso irá arranhar a já baixa popularidade de Bolsonaro. Mesmo o Auxílio Brasil será de pouca utilidade se a assistência social para os pobres for neutralizada por preços mais altos.
E o candidato Bolsonaro fica diante de um dilema. Ele pode compensar os preços mais altos dos combustíveis com subsídios ou incentivos fiscais, como para os motoristas de caminhão. Isso aumenta o déficit orçamentário e, portanto, as taxas de juros, e retardará ainda mais o já baixo crescimento. Ele também pode congelar os preços dos combustíveis, e corre o risco de problemas de abastecimento, adia o problema da inflação para o futuro e empurra a Petrobras para uma crise de dívida, assim como Dilma Rousseff fez há dez anos.
Não só os políticos, mas também os investidores estão curiosos sobre qual caminho Bolsonaro escolherá.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.