1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Presença de blastocytis pode indicar boa saúde, diz estudo

Fred Schwaller
19 de julho de 2024

Pesquisa italiana mostrou que parasita geralmente considerado nocivo pode indicar melhor perfil cardiometabólico.

https://p.dw.com/p/4iNBe
Blastocystis hominis Ilustração 3D de parasitas
Blastocystis são minúsculos organismos unicelulares que vivem nos intestinos de humanos e animaisFoto: YAY Images/IMAGO

O intestino humano possui uma grande concentração de pequenos parasitas unicelulares chamados blastocystis. Parece nojento, mas um novo estudo mostra que esses parasitas intestinais podem estar associados a uma dieta saudável.

Um estudo publicado na revista científica Cell descobriu que a presença de blastocystis no intestino humano pode estar associada a melhores resultados de saúde em uma amostra da população de 32 países diferentes.

"Descobrimos que a presença de blastocystis no intestino humano está associada a um melhor perfil cardiometabólico e a menores taxas de obesidade", relata um dos líderes do estudo, Francesco Asnicar, da Universidade de Trento, na Itália.

O estudo também colocou 1.124 participantes em uma dieta rica em blastocystis, com alimentos menos processados e ricos em fibras, o que "melhorou a qualidade da dieta e a perda de peso”, segundo Asnicar.   

O que é blastocystis?

Blastocystis é um tipo de micróbio microscópico unicelular – microrganismos, como bactérias – que vive no intestino de todos os animais, inclusive os humanos. Além de viver no intestino, ele também pode infectar a pele e a boca. Quando são bons, eles podem desempenhar um papel importante em nossa saúde. Eles compõem o que é conhecido como microbioma. 

"Até agora, as pesquisas têm se concentrado no microbioma bacteriano, mas o papel de outros microrganismos, inclusive o blastocystis, ainda é pouco estudado", acrescenta a outra autora do estudo, Elisa Piperni, da Universidade de Trento.

O blastocystis é um grupo de microrganismos um tanto controverso, pois os cientistas não conseguiram ainda determinas se esses parasitas são prejudiciais ou não.

"Até o momento, não havia evidências de nenhuma função direta do blastocystis na promoção da saúde. Por questões de segurança, todos os blastocystis foram classificados como parasitas intestinais nocivos", explica Sara Vieira-Silva, microbiologista da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, na Alemanha.

Vieira-Silva, que não fez parte do estudo sobre esses parasistas, diz que as novas descobertas podem ajudar o debate: elas fornecem "suporte adicional de que alguns subtipos de blastocystis fazem parte de um microbioma intestinal equilibrado em indivíduos saudáveis".

A infecção por blastocystis é chamada de blastocistose. Ela pode causar diarreia, dor abdominal, coceira anal e gases, entre outros sintomas.

Primeira parte do estudo: blastocystis e saúde em geral

Os pesquisadores analisaram dados de quase 57 mil indivíduos em 32 países. Eles observaram como os níveis de blastocystis no intestino estavam relacionados à dieta, à saúde cardiovascular e a fatores metabólicos, como obesidade e diabetes.

Níveis mais altos de blastocystis no intestino foram associados a indicadores de melhor saúde cardiometabólica, o que significa menores chances de ataques cardíacos, obesidade e diabetes. Já níveis mais baixos do parasita foram associados a problemas de saúde de longo prazo, incluindo obesidade.

O estudo também encontrou diferenças consideráveis nos subtipos de blastocystis, dependendo da idade do voluntário, do local onde ele vive e do estilo de vida.

Os recém-nascidos, por exemplo, não têm blastocystis. Os microrganismos se estabelecem quando envelhecemos e começamos a comer alimentos complexos.

Luis Pedro Coelho, biólogo computacional da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, disse que a abrangência geográfica do estudo, com dados de 32 países, deu peso às descobertas. "O estudo mostra um quadro complicado", diz Coelho. "Eu esperava que as amostras ocidentalizadas fossem muito semelhantes entre si em comparação com outras, mas tanto aqui, como nos EUA, na Europa e na China são todas muito diferentes."

Parte dois do estudo: dieta de seis meses com blastocystis

Durante o estudo, 1.124 voluntários saudáveis participaram em um programa de dieta personalizada de seis meses, acompanhado de análises do microbioma intestinal antes e depois da intervenção. 

"Descobrimos que os participantes melhoraram significativamente a qualidade da dieta e perderam peso, e observamos paralelamente um aumento significativo de blastocystis", conta Asnicar.

A média de perda de peso foi em 1 ponto do índice de massa corporal (IMC). O IMC é uma forma de categorizar o peso de um indivíduo e possíveis problemas de saúde.

Não foi possível identificar quais itens alimentares específicos aumentaram a abundância de blastocystis no intestino. Mas, de modo geral, os indivíduos que consumiram maiores quantidades de alimentos não processados e de origem vegetal, como abacate, nozes, sementes, legumes e verduras, eram mais propensos a ter microbiomas ricos em blastocystis.

Maria Vehreschild, médica do Hospital Universitário de Frankfurt, não ficou surpresa com o fato da dieta melhorar os resultados da saúde. "Isso já é amplamente conhecido há muito tempo. A parte difícil é mudar os hábitos alimentares. A maioria de nós sabe o que é saudável, mas isso não significa que mudamos nossa dieta por causa disso", afirma Vehreschild, que não participou do estudo.

Blastocystis e saúde

Não fica claro no estudo se a presença de blastocystis leva diretamente a uma saúde melhor ou se indica um estilo de vida saudável em geral, diz Coelho. "Não há evidências causais de que eles tenham um efeito positivo sobre a saúde. Eles podem ser apenas indicadores de boa saúde em geral", conclui.

Asnicar levanta a mesma questão, dizendo que os pesquisadores ainda não sabem qual o "efeito potencial" da presença de blastocystis sobre a saúde. "Vários aspectos genéticos, genômicos e funcionais do blastocystis ainda precisam ser elucidados", diz ele, acrescentando que são necessários ainda mais estudos.

Por que a diversidade no microbioma humano está diminuindo?