'Bloody Sunday'
15 de junho de 2010O primeiro-ministro britânico, David Cameron, desculpou-se publicamente nesta terça-feira (15/06) pelo massacre conhecido como "Bloody Sunday" (Domingo sangrento). Por ocasião da divulgação do longamente esperado relatório, Cameron desculpou-se: "Em nome do governo, eu lamento profundamente".
"Bloody Sunday"
Em 30 de janeiro de 1972, durante uma passeata pelos direitos civis na cidade norte-irlandesa de Londonderry, para-quedistas das Forças Armadas britânicas dispararam contra um grupo de manifestantes católicos desarmados, matando 13 deles. Um 14º morreu devido aos ferimentos, meses depois.
Em consequência, acirrou-se o conflito entre católicos e protestantes no país, com a ocorrência de diversos atentados terroristas do Exército Republicano Irlandês (IRA) nos meses seguintes, em represália. Todos os anos ocorre na cidade palco do massacre uma passeata em memória às vítimas. Por motivos políticos, os norte-irlandeses católicos retiraram o "London" do nome da cidade, denominado-a apenas "Derry".
Até então, a tragédia não teve quaisquer consequências jurídicas para os soldados responsáveis. Pouco depois do "Domingo sangrento", uma comissão convocada por Londres concluiu que os soldados haviam agido em legítima defesa. Um tribunal inglês igualmente definiu o ocorrido como ato de defesa dos militares de elite contra terroristas irlandeses.
Em 1998, o então premiê britânico Tony Blair decretou a abertura de um novo processo, em apoio ao processo de paz na Irlanda do Norte. Familiares das vítimas e o governo apresentaram novos indícios e iniciaram-se os primeiros inquéritos públicos com o fim de investigar detalhadamente os fatos.
Justiça custosa
O processo, em que foram ouvidas cerca de 900 pessoas, consumiu 12 anos e o equivalente a 230 milhões de euros. Ao anunciar o relatório conclusivo de 5 mil páginas, nesta terça-feira em Londres, o premiê David Cameron observou: "Não há dúvida, o que aconteceu no 'Bloody Sunday' foi injustificado e injustificável. Foi errado". Ele ressaltou que nenhuma das vítimas estava armada e que os soldados não fizeram qualquer advertência antes de abrir fogo.
Havia temores de que o relatório reabrisse velhas feridas. Porém em Londonderry, segunda maior cidade da Irlanda do Norte, sua divulgação foi saudada pelos familiares das vítimas, ao lado de milhares de outros irlandeses.
O vice-premiê norte-irlandês Martin McGuinness disse não acreditar que o relatório reabra feridas. Na época do massacre, ele era o segundo comandante do grupo militante católico IRA em Londonderry. "Minha esperança é que esta seja uma exposição muito clara do terrível ato cometido naquele dia pelo Estado e pelas Forças Armadas britânicas. E que ela contribua para que nunca, nunca mais vejamos atos como esse, em nenhuma comunidade."
Em contrapartida, o partido DUP (Democratic Unionist Party), basicamente protestante e liderado pelo premiê norte-irlandês Peter Robinson, criticou o inquérito por criar uma "hierarquia das vítimas": "Mais de 3.500 pessoas foram mortas durante 'The Troubles' [período de conflitos sangrentos em torno do status constitucional da Irlanda, do final de 1960 até 1998], e há centenas de casos não resolvidos, aqui mesmo. E aí vemos centenas de milhões de libras serem gastas para investigar menos de duas dezenas dessas mortes".
AV/afp/rtr/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer