Terror
9 de março de 2009Na noite do último sábado (07/03), soldados britânicos do quartel de Massereene, em Antrim, no noroeste de Belfast, foram baleados ao saírem à rua para receber as pizzas que encomendaram. O Real IRA, uma dissidência radical do Exército Republicano Irlandês (IRA), assumiu a autoria do atentado por meio de um telefonema a um jornal de Dublin.
Os dois soldados britânicos assassinados no último fim de semana tinham, respectivamente, 21 e 23 anos e deveriam ser, em breve, transferidos para o Afeganistão. Com o atentado aos soldados britânicos, a lembrança de uma época terrível para a Irlanda do Norte voltou, rapidamente, à tona. A última morte de um soldado na antiga região em crise acontecera há 12 anos.
Além dos militares mortos, dois outros soldados e dois funcionários do serviço de entrega de pizza ficaram feridos. Em visita à Irlanda do Norte, nesta segunda-feira (09/03), o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, declarou que os brutais assassinos seriam identificados e levados a julgamento o mais rápido possível.
Críticas ao chefe de polícia da Irlanda do Norte
Após encontro com Peter Robinson, primeiro-ministro da Irlanda do Norte e líder do protestante Partido Unionista Democrata (DUP), e com o vice-chefe de governo, o católico Martin McGuinness, do Partido Sinn Fein, Gordon Brown afirmou que a paz na região é "inabalável".
O premiê britânico declarou que tanto ele como Robinson e McGuinness gostariam de enviar esse recado ao mundo. O primeiro-ministro visitou também o quartel de Massereene, onde os soldados foram mortos.
Segundo Brown, o Real IRA, que assumiu a autoria dos atentados, não tem nenhum espaço na política da Irlanda do Norte. O líder do partido católico Sinn Fein, Gerry Adams, afirmou que os responsáveis pelo atentado não contam com o apoio da população.
Adams criticou como um "grande erro", no entanto, o anúncio do chefe da Polícia da Irlanda do Norte (PSNI), Hugh Orde, que exigiu a mobilização de uma unidade especial do Exército britânico para vigiar dissidentes republicanos no país.
Adams afirmou não querer justificar o atentado sangrento, mas acresceu que, na Irlanda do Norte, o Exército britânico não é benquisto nem por republicanos nem por patriotas, tampouco por democratas
Mais de 3,5 mil mortes desde os anos 1960
Na Irlanda do Norte, os conflitos entre protestantes pró-britânicos e católicos republicanos, que defendem uma separação do Reino Unido e uma união com a República da Irlanda, já provocaram mais de 3,5 mil mortes desde os anos 1960.
O atentado do último fim de semana foi o primeiro após a assinatura de acordos de paz em 1998. Em telefonema ao jornal irlandês Sunday Tribune, o Real IRA justificou que os soldados foram atacados porque a Irlanda ainda estaria sob ocupação.
Os dois entregadores de pizza teriam "colaborado" com os britânicos por terem lhes trazido as pizzas, acresceu a voz no telefone. O Real IRA separou-se do Exército Republicano Irlandês em 1997, quando este resolveu abdicar da violência armada.
Situação poderá escalar com outros atentados
Segundo o especialista da BBC para a Irlanda do Norte, Peter Taylor, o Real IRA seria a organização mais perigosa entre os dissidentes. Especula-se que ela também seja financiada por irlandeses que vivem nos EUA. Taylor acredita que a influência do grupo seja limitada. O especialista não vê um renascimento de uma campanha do IRA, lembrando que se trata apenas de algumas dezenas de terroristas. O especialista prevê, todavia, novos atentados no futuro.
Taylor afirmou acreditar que a liderança do Partido Sinn Fein conhece os principais membros do Real IRA. Para ele, a pergunta seria se Martin McGuinness, Gerry Adams e os demais estariam dispostos a entregar o nome de possíveis suspeitos à polícia da Irlanda do Norte.
Para evitar novos atentados que ameaçariam o processo de paz, a polícia tem a tarefa de encontrar os responsáveis pela morte dos soldados britânicos. Acredita-se que o ocorrido no último fim de semana não deva provocar grandes turbulências na região. A situação, no entanto, poderá escalar com outros atos de terror.
Autor: Torsten Huhn / Carlos Albuquerque
Revisão: Simone Lopes