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Por que os chineses não estão dispostos a ter mais filhos

Dang Yuan
1 de junho de 2021

Após décadas de um estrito controle familiar, população da China pouco cresce. Aos poucos, governo abandonou limite de filhos e agora permite até três por família. Mas o esperado aumento da natalidade não vem.

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Placar chinês de 1978, com pintura de casal com menina, propaganda da política do filho único
Placar chinês de 1978 faz propaganda da política do filho únicoFoto: picture-alliance/Imaginechina

Você está se perguntando por que as famílias jovens no país mais populoso do mundo estão cansadas de ter filhos? A resposta é simples: qual casal tem vontade e força para cuidar de quatro idosos e três filhos ao mesmo tempo, além de enfrentar as pressões da carreira profissional?

Aqueles que poderiam ter filhos agora são, eles mesmos, quase exclusivamente filhos únicos. No final dos anos 1970, a China introduziu controles rígidos de natalidade, conhecidos como "política do filho único". E exatamente esses filhos únicos é que estão agora em uma posição intermediária extremamente desconfortável na pirâmide demográfica: não só têm que cuidar dos pais e sogros em idade avançada, como também criar seus próprios filhos.

Também na China a pirâmide populacional está de cabeça para baixo. Já há anos que as autoridades tentam enfrentar o processo de envelhecimento com pequenos passos. Foi só em 2016 que Pequim relaxou sua rígida política de filho único, depois de quase 40 anos. Desde então, as famílias puderam ter dois filhos. Mas o esperado baby boom não se materializou. Agora, três crianças são permitidas e até desejadas pelas autoridades.

Mas o esperado aumento da taxa de natalidade até agora não ocorreu devido a um fator decisivo: dinheiro. Conceber e dar à luz um filho é gratuito, mas depois tudo fica muito caro, ainda mais para financiar comida saudável para bebês após a série de escândalos envolvendo leite em pó que destruiu a confiança de jovens pais. Um quarto para cada filho é algo difícil nas metrópoles com aluguel e preços de imóveis nas alturas, ainda mais em bairros com boas escolas. Além disso, os gastos são altos com aulas de música e explicadores particulares. Para não falar nas despesas com férias na praia.

A China tenta otimizar seu sistema de previdência social com recursos financeiros substanciais, justamente para tentar liberar as famílias do ônus de cuidar de idosos e jovens. Mas, em muitos casos, os instrumentos do Estado têm apenas um efeito bastante limitado, de modo que, no fim das contas, as famílias acabam tendo de lidar com o problema elas mesmas. Os contribuintes acabam sendo, assim, duplamente onerados. A partir de agora devem continuar contribuindo financeiramente para a previdência social ao mesmo tempo que educam uma quantidade ainda maior de filhos.

A imagem tradicional da família no confucionismo, em que várias gerações vivem sob o mesmo teto, bate de frente com a realidade de uma classe média autoconfiante, caracterizada por uma atitude cada vez mais individualista. Ela quer mais liberdade, mais espaço próprio e mais tempo livre. Mas, como se sabe, os deveres dos pais são – independentemente do modelo social – o maior obstáculo à realização pessoal.

As autoridades na China querem reagir a isso com um pacote completo de medidas: vantagens fiscais para as famílias, melhor proteção à maternidade no trabalho, as licenças maternidade e paternidade no trabalho não devem mais representar um obstáculo à carreira, oportunidades educacionais iguais para as crianças nas cidades e nas áreas rurais. A China quer se preparar para o futuro por meio de um maior apoio às famílias.

Como esse enorme pacote será financiado? Nesse ponto, o politburo permanece vago e aponta para as autoridades regionais. Mas elas já estão altamente endividadas. Isso parece mais uma tarefa insolúvel. O politburo executa, mais uma vez, apenas uma política simbólica. Nas camas da República Popular da China, isso não vai mudar nada.

O jornalista da DW Dang Yuan escreve sob pseudônimo para proteger a si mesmo e à sua família.