Por que Jane Austen continua atual
18 de julho de 2017Quando morreu, em 18 de julho de 1817, a romancista Jane Austen, de então 41 anos, apenas começava a ficar conhecida por livros que, mais tarde, se tornariam clássicos, como Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Emma.
Hoje, Austen é uma das autoras preferidas dos britânicos. Seus seis romances venderam milhões de exemplares, e a sua obra literária, que disseca a vida da pequena burguesia rural da virada do século 19, segue atual: ainda inspira centenas de adaptações literárias e cinematográficas.
"Há Shakespeare para o teatro e Jane Austen para o romance", diz a autora francesa Catherine Rihoit, que prepara uma biografia sobre a autora inglesa.
Na próxima semana, o Banco da Inglaterra deverá colocar em circulação uma nova nota de 10 libras e uma moeda de 2 libras com a imagem de Austen, considerada uma atenta observadora do poder do dinheiro na sociedade e que viveu a maior parte de sua vida com pouco dinheiro.
Parte do apelo de Austen se deve à sua descrição de uma Inglaterra romantizada: casos amorosos, bailes e festas nas casas luxuosas de famílias ricas, a busca por casamentos vantajosos por parte de jovens moças recém-saídas da adolescência. Os livros de Austen são permanente objeto de estudo por suas críticas a um mundo com estruturas de classe rígidas, mas que estava mudando por causa das Guerras Napoleônicas (1803-1815).
Feminista
Austen também foi implacável ao descrever, de forma precisa, as relações humanas e a posição das mulheres na sociedade da época, que não tinham futuro a não ser por meio do casamento, tornando-as economicamente dependentes dos homens.
Kathryn Sutherland, co-organizadora da exposição The Misterious Miss Austen (A misteriosa Miss Austen) em Winchester (sul da Inglaterra), descreve a romancista como "feminista”. Segundo ela, a condição "desesperada” de dependência econômica das mulheres deixava Austen "frustrada”.
Embora na época o matrimônio fosse visto como uma possibilidade de escapar da pobreza, a própria Jane Austen nunca se casou e chegou a rejeitar um pedido de casamento. Filha de um pastor anglicano – que estimulava a leitura e a formação acadêmica entre seus filhos –, a autora lidou com dificuldades financeiras durante toda a vida.
Ela era a sétima de oito filhos e foi muito próxima do pai, que morreu cedo. Tinha um bom relacionamento com dois de seus irmãos, que serviram na Marinha Real inglesa, e com a irmã Cassandra.
Porém, Austen teve uma relação difícil de dependência com seu irmão mais velho, Edward, que foi adotado por um familiar rico e herdou tudo da família adotiva. Edward deu um chalé em Chawton (mais ao norte de Hampshire) para que Jane, Cassandra e a mãe das crianças morassem, mas a família vivia em condições bastante modestas.
O “gênio” da escritora já foi louvado pela também britânica Virginia Woolf, assim como pelo romancista russo-americano Vladimir Nabokov. Sua obra inspirou de Woolf a Helen Fielding, autora da série de best sellers Bridget Jones. A personagem principal (Bridget) foi influenciada pela protagonista de Razão e Sensibilidade, Elizabeth Bennett, que não quer casar pela segurança financeira, mas por amor.
Jane Austen sabia também perfeitamente como descrever a "rede social” que rodeava a poderosa Igreja inglesa do século 19. O guia do Museu da Casa de Jane Austen em Chawton, Andrew Constantine, diz que Austen era "muito hábil socialmente”.
"Ela conhecia todos na igreja e vivia rodeada por jovens rapazes. Ficava introvertida durante a conversa com seus irmãos inteligentes, mas depois ia para o quarto e escrevia tudo.”, conta.
Jane Austen foi enterrada na Catedral de Winchester, cidade a cerca de 30 km de Chawton, onde a autora morreu. A razão do sepultamento na catedral não foi a fama recém-conquistada, mas sua ligação estreita com a Igreja. Apenas décadas após sua morte, uma placa foi colocada próxima ao túmulo da escritora, com os dizeres: "Jane Austen era conhecida por muitos por sua literatura.”
RK/dpa/afp