Populismo de direita se fortalece também na Alemanha
14 de março de 2016Partidos populistas ao estilo da Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) estão no poder em cinco países da Europa. Na Polônia e na Hungria, os populistas de viés nacionalista-conservador têm a maioria absoluta no Parlamento. Porém, o campeão nessa categoria é a Grécia, onde um partido populista de esquerda governa em coalizão com um populista de direita. Também na Noruega e na Suíça – que não são membros da União Europeia (UE) – os populistas são parte da coalizão de governo.
Depois das eleições estaduais deste domingo (13/03), a Alemanha ainda está bem longe de ter um partido populista de abrangência nacional. Mas a crise dos refugiados e a crise do euro fortaleceram uma tendência na Europa, e ela se evidencia agora também na Alemanha.
"De forma geral, pode-se dizer que essa falta de solidariedade europeia e a renacionalização da Europa criam tendências que se difundem em vários aspectos. Não é nem necessário olhar para a Europa Central ou Oriental, basta olhar para o Reino Unido", comenta o cientista político Florian Hartleb.
No Reino Unido, o "partido da independência" Ukip conseguiu uma alta votação também nas eleições nacionais e pode ser considerado o verdadeiro motivo para a existência do referendo que o governo britânico convocou sobre a permanência na UE.
Em outros 12 países da União Europeia há populistas de direita nos parlamentos nacionais: desde a Frente Nacional, na França, até o antissemita Ataka, na Bulgária, passando pelo Partido da Liberdade da Áustria – para citar apenas alguns.
Na Alemanha, os populistas de direita estão representados apenas em nível regional, e desde este domingo em oito dos 16 parlamentos estaduais. Porém, em 2014, a AfD conseguiu enviar sete representantes para o Parlamento Europeu. Depois de uma divisão do partido, ainda há dois deputados da legenda por lá. Além disso, o NPD, partido extremista de direita, tem um parlamentar em Estrasburgo.
"A experiência mostra que, na Europa, quando um partido como esse se torna parte do sistema, é muito difícil se livrar dele. Mesmo na Áustria e na Holanda, onde esses partidos sumiram por um tempo, eles foram refundados. Na Alemanha não foi assim por um bom tempo", comenta Hartleb.
Fim da exceção alemã
No início dos anos 1990, o partido alemão Os Republicanos chegou a fazer algum sucesso e entrou em alguns parlamentos estaduais e no Parlamento Europeu. Também naquela época temia-se que a Alemanha estivesse seguindo o que já estava acontecendo em outros países da Europa. Só que Os Republicanos sumiram sem deixar rastros. Em 2001, o populista de direita Roland Schill chegou até mesmo a entrar no governo de Hamburgo, mas, depois de um escândalo, o partido dele desapareceu logo.
Para Hartleb, o destino da AfD pode ser outro. "A AfD tem boas chances porque dois temas –o ceticismo perante o euro e a migração – vão dominar decisivamente o debate político nos próximos anos."
A AfD foi fundada por professores universitários conservadores, no rastro da crise do euro, e radicais nacionalistas assumiram o comando do partido durante a crise migratória. Também na Alemanha, a xenofobia se torna cada vez mais presente na sociedade por causa do medo perante os refugiados. Esse tabu já foi quebrado antes por outros partidos na Europa. A AfD está fazendo agora o mesmo na Alemanha, diz Hartleb. "Essa situação mudou radicalmente com a crise dos refugiados."
Numa análise de novembro de 2015, o pesquisador Werner T. Bauer concluiu que a Alemanha era relativamente imune ao populismo de direta no campo nacional. Para ele, as eleições estaduais ofereciam uma válvula de escape para o voto de protesto de eleitores decepcionados com os partidos tradicionais. Essa exceção alemã parece estar acabando. Para Hartleb, a AfD pode agora repetir na Alemanha o sucesso da Front Nacional na França e do Partido da Liberdade na Áustria. Esses partidos conquistaram até 20% dos eleitores.
Depois da crise dos refugiados, a AfD vai, à semelhança da Frente Nacional, investir com mais força na segregação do islã político e da migração muçulmana. A força motriz por trás dessa orientação é a eurodeputada Beatrix von Storch, afirma a revista Der Spiegel. "O euro e os refugiados estão desgastados e não trazem nada de novo", escreveu ela a colegas de partido, num e-mail confidencial revelado pelo semanário.