Polêmica nuclear marca cúpula sobre matriz energética alemã
9 de outubro de 2006Novas divergências sobre a desistência da energia nuclear antecederam a reunião de cúpula da chanceler federal alemã Angela Merkel com 28 representantes da indústria, do setor energético e lideranças partidárias nesta segunda-feira (09/10) em Berlim. Oficialmente, o encontro serviu para discutir um programa destinado a aumentar a eficiência energética.
Enquanto líderes da União Democrata Cristã (CDU) e associações empresariais pediram uma prorrogação do prazo de atividade dos 17 reatores nucleares, que devem ser desativados gradativamente até 2021, o Partido Social Democrata insistiu no cumprimento do plano de desistência previsto em lei.
Desistência da desistência
A briga foi desencadeada por um requerimento da companhia RWE para protelar a desativação do reator Biblis A, marcada para 2007. O pedido foi endossado pelo líder da bancada da CDU no Parlamento, Volker Kauder. "Num prazo previsível, não podemos renunciar à energia nuclear porque não há alternativa", disse.
Também os governadores da Baixa Saxônia, Baden-Württemberg, Hessen e Turíngia (todos da CDU) e da Baviera, Edmund Stoiber (União Social Crsitã – CSU), bem como a Confederação da Indústria Alemã (BDI) e a Câmara da Indústria e Comércio (IHK) pediram uma prorrogação do prazo.
O ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, garantiu que o SPD não desistirá do "consenso energético. A desativação ordenada dos reatores dá segurança de planejamento. O debate nuclear apenas desvia a atenção da necessidade de economizar energia", disse.
Na opinião do ministro da Economia, Michael Glos (CSU), a Alemanha precisa de uma "matriz energética equilibrada, composta por petróleo, gás, carvão mineral e fóssil, energia nuclear e energias renováveis. Precisamos refletir sobre o papel da energia nuclear – e refletir sobre isso nunca deve ser proibido".
Eficiência energética
Ao final da reunião em Berlim, a chanceler federal Angela Merkel anunciou um programa para reduzir em 20% até 2020 a demanda de carvão, petróleo e gás na Alemanha.
O pacote de medidas inclui alterações nos impostos sobre veículos, programas de saneamento de edifícios velhos, incentivos fiscais para empresas que economizam energia e fomento à construção de centrais elétricas eficientes. A meta é duplicar a eficiência energética e reduzir a dependência do país da compra de energia no exterior.
Segundo informações oficiais, a questão da energia nuclear não foi tratada na reunião. O presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), Jürgen Thumann, saudou o programa de eficiência, mas também apontou falhas na estratégia do governo.
"O governo dá um passo curto demais, se sustentar a futura política energética apenas nos dois pilares da eficiência e das energias renováveis. A indústria espera condições para uma matriz energética ampla, que não exclua nenhuma opção e que garante um abastecimento internacionalmente competitivo", disse.
UE e G-8
No encontro de Berlim, seriam discutidas também propostas para enfrentar a concorrência mundial pelas escassas fontes de energia e a mudança climática, assuntos que estarão em pauta nas presidências da UE e do G-8, que a Alemanha vai exercer em 2007.
Na primeira cúpula energética, em abril deste ano, as grandes companhias do setor prometeram realizar novos investimentos de 30 bilhões de euros em centrais e redes de transmissão até 2012, o que agora já começam a colocar em dúvida. Já as empresas do ramo de energias renováveis anunciaram investimentos de 40 bilhões de euros. E o governo comprometeu-se a aplicar 2 bilhões de euros em pesquisa nesta área.
Até meados de 2007, Berlim pretende aprovar um projeto nacional para o abastecimento de energia. Céticos, no entanto, duvidam que este projeto venha a se concretizar, devido à falta de consenso sobre o futuro da energia nuclear. A decisão sobre a desativação ou não do reator Biblis A deve determinar o rumo que a coalizão formada por CDU/CSU e SPD deve seguir.