Cúpula energética discute futuro do setor
3 de abril de 2006Representantes da indústria, das empresas de energia e dos consumidores começam a discutir, na noite desta segunda-feira (03/04), com o governo em Berlim o futuro energético da Alemanha. Trata-se da primeira reunião de cúpula do gênero com a chanceler federal Angela Merkel para definir um plano de produção e abastecimento de energia até 2020.
Nos últimos cinco anos, o preço da energia elétrica subiu cerca de 30%, o do gás dobrou, onerando o bolso do consumidor e freando a economia alemã. O país importa 100% do urânio usado nas usinas nucleares, 97% do petróleo, 83% do gás e 61% do carvão destinado às termelétricas. E essa dependência externa é perigosa, como mostrou a recente crise do gás entre Rússia e Ucrânia.
Por isso, a Alemanha quer aumentar a participação das fontes renováveis na matriz energética. Também o futuro da energia nuclear será tema da cúpula. Os conglomerados do setor já pressionam o governo a prorrogar o tempo de operação das usinas, em troca de pesados investimentos nas redes e centrais elétricas.
Pauta polêmica
O debate sobre o futuro do setor energético alemão inclui uma série de assuntos polêmicos, sobre os quais ainda há divergências entre os partidos da coalizão governamental (CDU/CSU e SPD). Confira alguns deles:
Desistência da energia nuclear
Um acordo negociado com as companhias energéticas e transformando em lei em 2000 prevê a desativação das 18 usinas restantes até 2021. As empresas do setor e representantes da indústria pressionam para prorrogar este prazo. Parte da CDU concorda, o SPD é contra. Em aberto está também o destino do lixo nuclear do país.
Subvenção ao carvão mineral
Enquanto Merkel (CDU) é a favor da redução das subvenções, os social-democratas defendem o carvão como fonte para reduzir a dependência externa de energia. O sindicato dos trabalhadores do setor (IG BCE) quer que o governo mantenha uma participação de pelo menos 10% de carvão na matriz energética (hoje é de 21%).
Comércio de emissões
Enquanto as operadoras usam o comércio de emissões para justificar o aumento do preço da energia, organizações ecológicas reclamam da distribuição gratuita dos direitos de poluição. A CDU e o SPD brigam a respeito dos critérios para a concessão da próxima leva de CDM (Clean Development Mechanism).
Biocombustíveis
O Partido Verde, clubes do automóvel, ambientalistas e até o deputado Josef Göppel (CSU), que representa a bancada do governo na Comissão de Meio Ambiente do Bundestag, pedem a retirada de um projeto de lei enviado ao parlamento pelo gabinete de Merkel, propondo a taxação dos biocombustíveis (em até 15%). Até agora, eles são isentos de impostos e vivem um verdadeiro boom no país.
Energias renováveis
Ambientalistas e cientistas pedem uma opção clara do governo pelas renováveis (eólica, hidrelétrica, solar, geotérmica e bioenergia), para compensar a desistência da energia nuclear. O governo já anunciou que pretende aumentar a participação das energias limpas de 11% para 20% do consumo final da matriz energética até 2020. As empresas do setor planejam investimentos de 200 bilhões de euros para este período.
Abastecimento de longo prazo
Através de sua política externa, o atual governo planeja apoiar o setor energético para garantir o acesso seguro a reservas de petróleo, gás e outras fontes, e assegurar o abastecimento de longo prazo. O governo anterior, comandado por Gerhard Schröder, já dera seu aval a futuros créditos concedidos à Gazprom russa, que constrói um gasoduto para abastecer a Europa. Schröder ganha 250 mil euros por ano, como presidente do conselho fiscal do consórcio que constrói o gasoduto.
Modernização das centrais elétricas
A Associação das Empresas de Energia Elétrica (VDEW) – com 750 afiliadas – havia prometido, há poucos meses, investir 80 bilhões de euros até 2020 para modernizar as redes de transmissão e usinas, muitas delas em operação há mais 25 anos.
Às vésperas da cúpula de Berlim, essa promessa caiu para 42 bilhões de euros a serem investidos em 21 projetos. Analistas prevêem que este anúncio será o único resultado concreto do encontro em Berlim e que deve servir de justificativa para o próximo aumento dos preços de energia.
Mercado oligopolizado
Atualmente quatro conglomerados – E.on, RWE, EnBW e Vattenfall – dominam o mercado de energia na Alemanha. O Departamento Federal Antitruste (Bundeskartellamt) os acusa de impedir a entrada de outras operadoras, o que aumentaria a concorrência e reduziria os preços.Entidades ecológicas e de defesa do consumidor prevêem que isso não deve mudar no curto prazo, já que os grandes grupos participam em peso da definição do plano energético até 2020.