Pode abater?
6 de janeiro de 2003Durante duas horas, o piloto de 31 anos sobrevoou o centro da metrópole de 650 mil habitantes, após roubar um motoplanador no aeródromo de Babenhausen. O homem ameaçou jogar a aeronave contra um dos arranha-céus de Frankfurt. Em terra, pânico. O aeroporto internacional suspendeu suas operações e cancelou 116 vôos. No centro da cidade, prédios foram evacuados e ruas interditadas. Era domingo, sem movimento no centro financeiro do país. Se fosse dia útil, o caos teria sido certamente maior.
Apesar do perigo iminente – o avião chegou a rondar as torres do Banco Central Europeu e do Commerzbank –, pouco se fez para evitar que o piloto de fato cometesse um atentado. Embora helicópteros da Polícia e caças da Luftwaffe tenham sido enviados para coagir o pirata aéreo, legalmente eles não poderiam evitar o pior. Quase 16 meses após a destruição do World Trade Center e do ataque ao Pentágono, a Alemanha ainda não implantou regras para casos de emergência como este.
"Me perguntam se mandaria abater um avião de passageiros que sobrevoasse a praça Potsdamer Platz (em Berlim). Eu digo: estas são falsas preocupações, pois aí já é tarde demais", respondeu o ministro do Interior, Otto Schily, à revista Der Spiegel, que pouco antes do Natal publicou uma reportagem sobre a ferida ainda sem receita de tratamento.
Oficialmente, a solução alemã restringe-se à fiscalização rígida dos passageiros nos aeroportos e a presença nos aviões de um agente armado, à paisana, que tem como única missão render o seqüestrador. "Não quero levar o comando das Forças Armadas à difícil situação de decidir se deve ou não abater um avião seqüestrado", fundamentou Schily.
Caso imprevisto pelo ministro
É possível que o episódio de domingo leve o ministro a rever suas considerações. A ameaça não decolou de um aeroporto comercial e o avião não era de passageiros, portanto não estava sujeita às novas regras de segurança. "Os pequenos aeródromos também precisam com urgência reforçar suas medidas de segurança. De nossa parte, espera-se – e com razão – que a gente invista ostensivamente em segurança para que se exclua tanto quanto possível qualquer risco. Mas neste pequeno aeródromo aqui perto foi possível alguém entrar tranqüilamente com uma arma e roubar um avião", protesta Wilhelm Bender, diretor-geral do Aeroporto Internacional de Frankfurt.
No Ministério da Defesa, ficou-se satisfeito com o gerenciamento da situação. Tanto o chanceler federal quanto o ministro da Defesa e o governador de Hessen estiveram sempre a par das decisões e participaram delas. Além disto, não teria havido motivos para abater o motoplanador, que não possuía explosivos a bordo, e não poderia causar danos graves mesmo no caso de uma colisão contra um prédio. O sindicato de pilotos Cockpit reivindica um órgão único para fiscalizar aeroportos comerciais e aeródromos de uso privado, mas não acredita que estes tenham condições econômicas de implementar medidas mais rígidas de segurança.
Países aliados já têm suas regras
A Alemanha está atrasada em relação a seus parceiros da Otan. Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo alemão defendeu na Organização do Tratado do Atlântico Norte que a aliança militar não deveria definir uma regra comum, mas cada país encontrar sua solução. Berlim é, entretanto, dos poucos membros da aliança que ainda não definiram suas regras.
Somente em novembro uma comissão foi formada para elaborar um plano de emergência, após a cúpula da Força Aérea, a Luftwaffe, cobrar uma posição do governo. Desde então, representantes dos ministérios dos Transportes e da Defesa, assim como das Forças Armadas (Bundeswehr), chefiados pelo tenente-brigadeiro Hans-Werner Jarosch, discutem o que fazer caso um avião seqüestrado por terroristas esteja voando em direção a uma usina atômica, por exemplo.