Pintores alemães transformam hospital em galeria de arte
12 de julho de 2012Um grupo de artistas transformou o edifício de um antigo hospital em uma oficina de arte coletiva. O espaço colorido e em constante mutação trata de temas como a doença, a vida e a morte.
No segundo andar do hospital St. Josef, em Königswinter, nos arredores de Bonn, o ar é quente, úmido e tem cheiro de flores recém cortadas. O chão de um dos quartos no final do corredor foi coberto com terra, e lá crescem plantas em meio a velas de cemitério. As paredes são cobertas por fotos de uma mulher.
Trata-se da esposa do artista Günter Karl, falecida há um ano e meio. Seu marido transformou o quarto em um espaço de luto que relembra sua mulher e o ajuda a superar a morte dela.
"Há um ano, não podia pegar no pincel ou mesmo fazer um desenho a lápis", lembrou Karl. "Estava paralisado, não conseguia mais trabalhar". Hoje ele se sente melhor, e o lugar ajudou-o a superar a dor de perder sua parceira depois de 39 anos de vida juntos.
Hospital cultural
St. Josef não é um hospital comum, e sim um hospital cultural. No verão anterior, os pacientes, médicos e enfermeiros foram transferidos para um outro prédio e deixaram o antigo hospital vazio, a espera da demolição. O artista Helmut Reinelt teve então a ideia de utilizar o local para um projeto artístico.
Depois de um pouco de trabalho, ele conseguiu convencer a direção do hospital, que deu seu consentimento ao projeto. "Assim que perguntei a outros artistas se queria participar, rapidamente a notícia se espalhou", afirmou Reinelt.
Com o nome de Terminal – o último verão de St. Josef, o projeto agrupa uma centena de artistas que têm à sua disposição uma área de 4 mil metros quadrados, distribuídos em seis andares. Nesse espaço eles pintam, constroem e dão um novo aspecto aos quartos. Além de também organizarem shows, concertos, leituras e peças teatrais - tudo com entrada franca.
"Nós mesmos financiamos o projeto, sem subsídios estatais. Todo mundo que quer participar tem que fazer uma contribuição inicial de 35 euros. Com esse dinheiro, financiamos todo que precisamos", disse o artista.
Reflexões sobre a vida e a morte
O estéril hospital se transformou em um colorido centro artístico, com diferentes formas e cores. Mas não foram somente os artistas que transformam o espaço - o hospital também tem influência no trabalho deles.
Regine Kleiner e Andrea Goost pintaram o teto do necrotério de azul celeste e as paredes são da cor do mar. Nas câmeras refrigeradas, onde antes ficavam os cadáveres, hoje estão espalhados sal e carvão como símbolos elementares da vida. "O mar nos leva para o desconhecido, e o barco sobre a mesa de autópsias é um instrumento de transição. O mar e o céu sugerem a amplitude que se contrasta com o espaço em si."
Muitos artistas têm como tema de suas obras a vida, a morte e a doença. Helmut Reinelt se mostrou feliz com a relação que se desenvolveu entre os artistas e o prédio, e diz que o confronto com a morte é algo bastante casual. "Talvez tenha a ver com o fato de o prédio estar condenado à morte", disse.
O prédio será demolido em outubro ou novembro, mas até lá os artistas podem trabalhar. O projeto é um processo, assim como o de Günter Karl após a morte de sua esposa. O quarto de sua obra reflete seu estado de espírito, e a cada dia está mais iluminado.
Autor: Christoph Ricking (mas)
Revisão: Francis França