Verdes cobram posição de governo Merkel sobre Bolsonaro
29 de maio de 2020O Partido Verde alemão cobrou uma postura do governo da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, em relação ao presidente Jair Bolsonaro, diante do avanço da pandemia de covid-19 no Brasil, do aumento do desmatamento na Amazônia e de ameaças aos direitos humanos e de povos indígenas.
Em comunicado divulgado nesta quinta-feira (28/05), o deputado alemão e porta-voz de política externa do Partido Verde, Omid Nouripour, afirmou que o fato de o Brasil ter se tornado o segundo país do mundo em número de infecções do novo coronavírus mostra o que ocorre quando a covid-19 é "banalizada" e medidas de distanciamento e proteção não são seguidas.
"Bolsonaro não só aceitou esse resultado, como o provocou decisivamente com suas polêmicas extremamente perigosas", afirmou Nouripour. O texto lembra que, além de uma crise de saúde, o Brasil enfrenta uma crise institucional.
"Em poucas semanas, dois ministros da Saúde deixaram seus cargos, enquanto o ministro da Justiça pediu demissão devido à interferência do presidente na Polícia Federal, e o ministro do Meio Ambiente quer explorar a situação para expandir a mineração e a agricultura em terras protegidas da região amazônica", acrescentou o porta-voz.
O comunicado afirma também que, "em relação à situação precária da Amazônia devido ao desmatamento ilegal e ao enfraquecimento de órgãos de proteção ambiental, mais uma vez fica evidente que, para o governo Bolsonaro, todos os meios são válidos para sacrificar a Floresta Amazônica e os povos indígenas em prol dos interesses econômicos".
Nouripour lembra ainda o impacto da covid-19 entre os povos indígenas. Somente na Amazônia, 731 casos do novo coronavírus foram confirmados e 116 mortes, de acordo com os dados mais recentes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). O deputado diz que há "cinismo misantropo grave" quando se leva em conta que os indígenas são afetados "de forma desproporcional pela propagação do coronavírus".
"Bolsonaro é, sem dúvida, uma ameaça à democracia, ao Estado de Direito, aos direitos humanos e à sobrevivência da Amazônia. O governo alemão precisa se posicionar categoricamente em relação a isso e não deve continuar aceitando silenciosamente as consequências para os cidadãos brasileiros", encerrou Nouripour.
O Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia de covid-19 e bateu nesta quinta-feira novamente o recorde no número diário de casos, com 26.417 novos registros em apenas 24 horas. Ao todo, o país acumula 26.754 mortes e 438.238 casos confirmados da doença.
O comunicado foi divulgado depois de diversos parlamentares alemães, inclusive Nouripour, terem repudiado as declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante uma reunião ministerial com o presidente Jair Bolsonaro no dia 22 de abril.
Na reunião ministerial, cujo vídeo foi tornado público pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada, Salles destacou que o fato de a imprensa estar com as atenções voltadas para a pandemia apresentava uma oportunidade para o governo alterar leis, cujas mudanças em circunstâncias normais poderiam ser recebidas com fortes críticas pela mídia e pela opinião pública.
Questionado pela DW Brasil sobre as declarações de Salles, o Ministério alemão do Meio Ambiente não quis comentar as falas.
CN/ots
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