Extrema direita
14 de abril de 2009Quando o deputado Johannes Lichdi encontra pelos corredores da Assembleia Legislativa do estado da Saxônia os parlamentares do NPD, não se ouve uma palavra de cumprimento. Lichdi, porta-voz para questões de política interna do Partido Verde, aposta no isolamento absoluto dos representantes da extrema direita. O motivo: o parlamentar verde não nutre ilusões a respeito da postura política do quarto maior partido na Assembleia Legislativa da Saxônia.
"O NPD é inequivocamente um partido nacional-socialista. Embora de forma dissimulada, as metas que segue são absolutamente idênticas aos objetivos defendidos por Adolf Hilter. Bom seria se um partido como esse não tivesse representação em parlamentos alemães", diz Lichdi.
Passeatas de luto
No ano de 2004, na Saxônia, 190 mil eleitores votaram no NPD, o que significou 9,2% de todo o eleitorado naquele ano. Desde que o partido de extrema direita passou a ser representado na Assembleia Legislativa, Dresden, a capital do estado, passou a ser palco de uma série de provocações que ecoaram na mídia. Todo ano, no dia em que se lembra a destruição da cidade por bombas anglo-americanas na Segunda Guerra Mundial, milhares de radicais de direita vão às ruas numa passeata de luto.
Na Assembleia Legislativa, o ideólogo-mor do partido, Jürgen Gansel, provocou indignação pública dentro e fora do país ao cunhar, em 2005, o conceito de "holocausto das bombas aliadas". Os governos estadual em Dresden e federal em Berlim são regularmente acusados pelo NPD de traição dos interesses alemães. Como recentemente, quando Gansel atacou a premiê Angela Merkel durante o conflito com a Polônia em relação à postura do governo frente a uma fundação em memória dos alemães expulsos do Leste Europeu no pós-guerra.
Questão dos desterrados
"Se tivéssemos hoje um governo federal que merecesse o atributo de alemão, e se tivéssemos uma chanceler federal com pelo menos um mínimo de semelhança com Bismarck, a Associação dos Desterrados teria recebido apoio contra as tentativas atrevidas da Polônia de se intrometer no assunto", afirmou Gansel perante os parlamentares, no que foi repreendido de imediato pela presidente da sessão na Assembleia Legislativa.
Repreensões como essa são o preço que os parlamentares do NPD costumam pagar sorrindo. Essa é mais uma razão pela qual os outros partidos ficariam felizes se os colegas indesejados desaparecessem para sempre depois das próximas eleições estaduais, marcadas para agosto.
Estratégia de exclusão
"Tanto no que diz respeito à aparição pública, quanto em relação ao programa do partido, o NPD é, na verdade, um inimigo completo da democracia", afirma Steffen Flath, líder da bancada da União Democrata Cristã (CDU), um dos partidos da coalizão de governo.
A CDU, assim como seu parceiro de coalizão SPD (Partido Social Democrata) e as facções de oposição A Esquerda, Partido Liberal (FDP) e Verdes, decidiram não apoiar, por princípio, qualquer projeto de lei do NPD, para que os candidatos do partido não saiam fortalecidos para as eleições.
Reaver o eleitorado
Exceto algumas panes, a estratégia de exclusão tem funcionado, diz Flath. A estratégia foi também facilitada pelo fato de que a facção do NPD na Assembleia Legislativa foi reduzida de 12 para 8 cadeiras: três deputados renunciaram espontaneamente, um foi expulso. Lidar com os extremistas de direita na Assembleia estadual é mais fácil do que reaver os eleitores perdidos para eles, observa o democrata-cristão Flath.
"Há um contingente representativo de eleitores que estão insatisfeitos, talvez exatamente com a CDU, que não dá abertamente nome aos bois. São possivelmente pessoas que estão muito insatisfeitas e querem protestar através de seu comportamento nas urnas", comenta Flath.
Intolerância da população a estrangeiros
A CDU, que governou sozinha a Saxônia desde a reunificação alemã em 1990 até 2004, caiu do cavalo. "Os saxões são imunes ao extremismo de direita", afirmava erroneamente Kurt Biedenkopf, governador do estado por quase 12 anos. Biedenkopf acreditava que a crença no Direito, a diligência e a tradição civil de seus saxões seriam suficientes para pôr em xeque os extremistas. Além de ter superestimado o grau de satisfação da população no "estado exemplar" do leste alemão.
O político verde Johannes Lichdi enumera algumas razões pelas quais o NPD ganhou tanto terreno na Saxônia: a escolha proposital do estado como moradia de vários chefões do partido e sede do orgão central do NPD – a Deutsche Stimme (Voz Alemã) – que se uniu a uma falta de tolerância à presença de estrangeiros oriunda dos tempos da Alemanha Oriental, e o fato de, após duas ditaduras, a população ter se desacostumada a estruturas democráticas.
Além disso, expectativas exageradas em relação ao Estado, que, frustradas, se transformaram em protesto radical, como no caso da indignação com as reformas do mercado de trabalho (Hartz IV) no ano eleitoral de 2004, lembra Lichdi.
"Forças livres" de extremistas crescem
Com alguns temores, o político verde observa os índices futuros de desemprego na região. "Há naturalmente um receio de que as atuais crises econômica e financeira impulsionem as palavras de ordem do NPD. Mas essa crise mostra exatamente que é preciso regular os mercados financeiros, em nível internacional e em conjunto, e é exatamente contra isso que o NPD se posiciona. Acredito que essa situação esteja clara para a maioria dos cidadãos", aponta Lichdi.
As previsões do político verde são plausíveis, embora conhecedores do cenário político acreditem que na Saxônia haja "um eleitorado do NPD ideologicamente sólido", que deverá proporcionar ao partido uma influência crescente nos municípios. Em 2008, o NPD entrou pela primeira vez em todas as representações distritais da Saxônia; as camaradagens de extrema direita associadas ao partido estão representadas em associações desportivas e no corpo de bombeiros.
Embora o número de membros do NPD tenha diminuído ligeiramente para 850, cresceu o número das chamadas "forças livres", formadas por extremistas de direita sem partido. Entendidos no assunto preveem uma reaparição do NPD na Assembleia Legislativa da Saxônia com as eleições em agosto próximo.
Autor: Bernd Grässler
Revisão: Roselaine Wandscheer