Agressores e vítimas
18 de março de 2009A violência juvenil, em todas as suas facetas, está diminuindo na Alemanha, ao contrário da suposição tão difundida. Essa é a conclusão dos autores de Jovens na Alemanha – agressores e vítimas, encomendada pelo Ministério alemão do Interior e divulgada nesta terça-feira (17/03). Trata-se da maior pesquisa sobre o assunto já realizada na Europa, envolvendo 45 mil jovens de ambos os sexos, entre 14 e 16 anos.
No final dos anos 90, entre 17,3% e 24,9% dos entrevistados admitiam haver cometido um ato de violência. Dez anos mais tarde os percentuais ficam apenas entre 11,5% e 18,1%. Os números se referem a oito cidades – não identificadas para evitar a estigmatização. O total dos delitos de lesão corporal também recuou sensivelmente: 44%.
Forma especial de discriminação
Entre os entrevistados do sexo masculino, quase 20% revelaram fortes tendências xenófobas e boa parte tende à extrema direita e ao antissemitismo. Porém não se dispõe de números a respeito dos atos violentos relacionados ao extremismo de direita – "infelizmente", comenta o coordenador do estudo, Christian Pfeiffer, diretor do Instituto de Pesquisa Criminológica da Baixa Saxônia (KFN).
Ele também desaconselha conclusões apressadas de que os jovens de famílias de imigrantes sejam mais violentos. Pois quando são eles os autores dos delitos, diz Pfeiffer, é maior a disposição da sociedade de prestar queixa policial.
"Se os jovens imigrantes aparecem mais frequentemente na estatística, é simplesmente por que seus atos criminosos têm maior probabilidade de serem registrados na polícia, do que no caso de alemães entre si. Isto é: quando o choque envolve estrangeiros, recorre-se à polícia com grande rapidez e frequência. Quando se está 'entre os seus', talvez as coisas se arranjem internamente, sem que se peça ajuda ao Estado", argumenta.
Força emocional da música
O ministro alemão do Interior, Wolfgang Schäuble, que encomendou a pesquisa, tende a ver os resultados de forma positiva: eles provariam o sucesso dos esforços integradores do Estado e da sociedade civil.
"Sob as mesmas condições familiares, sociais e educacionais, não se nota qualquer diferença entre aqueles sem ou com histórico de migração, qualquer que seja ele. Assim, o problema não é a migração, mas sim a integração satisfatória do ponto de vista da sociedade, da família e da formação. Essa integração precisa, contudo, melhorar", afirma Schäuble.
O político social-democrata considerou o estudo um bem-vindo apoio à luta contra tendências xenófobas ou racistas na juventude alemã. Quase 5% dos rapazes consultados admitiram estar filiados a um grupo de extrema direita. Entre as jovens, a percentagem de participação cai para a metade.
O criminologista Christian Pfeiffer é da opinião que em especial a música e os shows da direita radical promovem uma "alta conexão emocional". Por outro lado, as tendências extremistas variam muito, dependendo da região. Um fato que se poderia atribuir às ofertas alternativas de ocupação para os jovens.
De acordo com Pfeiffer, a intenção agora é descobrir se nas regiões onde não se observa o extremismo de direita também não há organizações juvenis do partido neonazista NPD nem shows da direita radical.
Enigma de Winnenden
Schäuble e Pfeiffer também ser referiram à chacina escolar no estado alemão de Baden-Württemberg, onde, há uma semana, um jovem de 17 anos fuzilou 15 pessoas sem razão aparente, suicidando-se em seguida. O ministro do Interior alertou para generalizações.
"Sempre haverá, na história da humanidade, ocorrências diante das quais nos quedamos atônitos, apesar de toda sabedoria. Entretanto tentamos tirar todas as conclusões possíveis. Investigaremos tudo. E não só isso: agiremos de acordo. Porém tirar conclusões precipitadas seria a reação errada", alertou Schäuble.
Christian Pfeiffer se pronunciara na segunda-feira, em Hannover, sobre os jogos de computador que glorificam a violência. Uma constatação importante é que, em casos extremos, eles podem se transformar em vício. Porém o criminologista não vê uma relação cientificamente comprovável com atos de violência injustificada como o de Winnenden.
Autor: Marcel Fürstenau
Revisão. Alexandre Schossler