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Parlamento alemão homenageia vítimas do Holocausto

27 de janeiro de 2022

Presidente do Bundestag alerta para aumento do antissemitismo na Alemanha. Sobrevivente fala do sofrimento no campo de concentração e diz que "o ódio aos judeus voltou a muitos países do mundo".

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Sobrevivente do Holocausto Inge Auerbacher no plenário do Bundestag
Sobrevivente do Holocausto Inge Auerbacher no Bundestag: "Ainda tenho lembranças muito claras daquela época sombria, uma época de terror e ódio"Foto: STEFANIE LOOS/AFP

Legisladores alemães se reuniram nesta quinta-feira (27/01) no Parlamento do país, o Bundestag, para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

O dia marca o aniversário da libertação por soldados soviéticos do campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau, na Polônia ocupada, há 77 anos, em 27 de janeiro de 1945, e recorda todas as vítimas do regime nazista, incluindo os 6 milhões de judeus assassinados.  

Ao abrir a cerimônia, a presidente do Bundestag, Bärbel Bas, alertou em seu discurso para o aumento do antissemitismo na Alemanha. "É um problema da nossa sociedade. Toda a sociedade. O antissemitismo está entre nós", disse Bas.

"Recordamos as milhões de pessoas que foram perseguidas, roubadas, humilhadas, privadas de seus direitos, torturadas e mortas. Porque pensavam diferente, acreditavam diferente, amavam diferente ou porque os nacional-socialistas consideravam suas vidas 'indignas'", afirmou.

"Quando extremistas de direita, revisionistas e nacionalistas étnicos comemoram sucessos eleitorais, então isso não é um sinal de alarme. Então é hora de agir", enfatizou. "Então é hora de nos unirmos para proteger os valores e instituições de nossa sociedade livre e democrática", frisou a presidente do Bundestag.

Memórias de uma sobrevivente

Falando no evento, a sobrevivente do Holocausto Inge Auerbacher contou sobre suas lembranças quando criança antes de ser deportada para o campo de concentração de Theresienstadt, na na República Tcheca, aos 7 anos de idade, em 1942.

"Ainda tenho lembranças muito claras daquela época sombria, uma época de terror e ódio", disse Auerbacher. "Infelizmente, esse câncer voltou, o ódio aos judeus voltou a muitos países do mundo, incluindo a Alemanha. Essa doença precisa ser erradicada o mais rápido possível".

Sobrevivente do Holocausto Inge Auerbacher no Bundestag
"Infelizmente, esse câncer voltou, e o ódio aos judeus voltou a muitos países do mundo", afirmou a sobrevivente Inge Auerbacher Foto: STEFANIE LOOS/AFP

Auerbacher, que vive nos Estados Unidos há 75 anos, disse que era a mais jovem de cerca de mil pessoas no trem para Theresienstadt. "Meus pais e eu estávamos entre os poucos que sobreviveram."

Auerbacher descreveu as terríveis condições no campo, usado como um local de trânsito para aqueles que eram enviados para as câmaras de gás. "Havia epidemias frequentes causadas pela falta de saneamento e pelas condições de superlotação em que vivíamos. O tifo era um dos piores perigos que enfrentamos. Ratos, camundongos, pulgas, piolhos e percevejos eram nossos companheiros constantes. Havia também deportações frequentes, principalmente para Auschwitz."

Fragilidade da democracia

O presidente do Parlamento israelense, Mickey Levy, falou sobre a necessidade de lembrar a fragilidade da democracia. "Somos lembrados de nosso dever de protegê-la a todo custo."

Levy afirmou que manter viva a lembrança do Holocausto "é uma tarefa difícil, que deve ser assumida por cada geração novamente", citando estatísticas "muitas vezes incompreensíveis".

"Os 6 milhões de judeus assassinados são 6 milhões de histórias individuais. Histórias de vidas não vividas, histórias de pessoas que não estão mais conosco", disse Levy.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e o chanceler federal Olaf Scholz, assim como o presidente do Bundesrat, Bodo Ramelow, estavam entre os presentes na cerimônia.

O repertório da celebração incluiu música de dois compositores que também foram enviados a Theresienstadt, tocadas por músicos da Ópera de Praga.

Também foram entoadas duas canções da resistência judaica contra a ocupação nazista na Europa Oriental.

A presidente do Bundestag, Bärbel Bas, discursa
"O antissemitismo está entre nós", disse a presidente do Bundestag, Bärbel BasFoto: STEFANIE LOOS/AFP

Responsabilidade de combater discriminação

Steinmeier pediu na noite de quarta-feira que a memória dos crimes de guerra nazistas seja mantida viva. "Lembramos dos milhões de pessoas que foram deportadas para campos de concentração, torturadas e lá assassinadas", disse o presidente, durante uma visita ao antigo campo de concentração de Sachsenhausen, perto de Berlim.

"Eles foram presos aqui porque eram opositores políticos do regime, porque eram judeus, porque eram contados entre os sinti e roma, porque eram homossexuais ou porque eram prisioneiros de guerra", afirmou.

A responsabilidade hoje, disse o presidente alemão, é combater firmemente todas as formas de antissemitismo, racismo e discriminação.

Mais de 200 mil pessoas foram presas no campo de concentração de Sachsenhausen entre 1936 e 1945. Dezenas de milhares morreram de fome, doenças, trabalhos forçados, experimentos médicos, maus-tratos ou extermínio sistemático.

Os líderes da União Europeia prometeram nesta quarta-feira que combaterão o aumento do antissemitismo e da negação do Holocausto testemunhado durante a pandemia de coronavírus.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que as lições do Holocausto são agora "mais relevantes do que nunca".