1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Para que salvar o HRE?

Henrik Böhme (av)6 de outubro de 2008

Pela segunda vez no espaço de uma semana, o banco hipotecário alemão HRE recebeu uma chance de sobreviver. Por que é tão importante salvar justamente esta instituição da bancarrota?

https://p.dw.com/p/FV31
HRE sem brilho no momentoFoto: AP

Já após a primeira tentativa de resgate, há uma semana, as palavras do presidente do Bundesbank, Axel Weber – normalmente reticente, por força do cargo – foram bastante inequívocas: não havia alternativa à dramática ação de resgate. Pois o que ameaçava era uma "paralisação total do sistema financeiro".

Porém o que tem isto a ver com o Hypo Real Estate (HRE), que nem mesmo possui clientela particular? Tem a ver com confiança. Pois se um banco notado no DAX – o mais importante índice do mercado alemão de valores – entra em colapso, a população poderia perder a confiança em todo o sistema bancário do país.

Somente em cadernetas de poupança, os alemães têm depositados bem mais de 500 bilhões de euros. Caso as pessoas começassem a retirar esses investimentos, as conseqüências desafiariam qualquer tentativa de controle. O mercado financeiro secaria inteiramente.

Ruína de um, problema para os outros

Mas, como dito, o HRE não tem clientes privados. Entretanto ele é um dos maiores atores financeiros da Alemanha e da Europa. Com um balanço total de cerca de 400 bilhões de euros, ele conta entre os principais grupos financeiros do país. O banco sediado em Munique se especializou em grandes projetos de financiamento como edifícios comerciais, hotéis e aeroportos. Por exemplo, o HRE financiou a construção do Viaduc de Milau, no sul da França, a mais longa e mais elevada ponte suspensa por cabos do mundo.

O especialista em assuntos bancários Wolfgang Gerke acrescenta que hoje em dia todos os bancos estão interconectados, a ruína de um pode acarretar dificuldades para outros. "É claro que um pacote de emergência não é barato. Mas é o melhor meio. Aprendemos com a crise econômica global que não se pode permitir a criação de pânico. Pois caso contrário entra-se numa espiral. E [através desse pacote] este perigo está, por enquanto, afastado."

Além disso, o banco é um ator importantíssimo no mercado alemão de cédulas hipotecárias, um setor onde é o maior do mundo, com um volume calculado em 900 bilhões de euros. Através destes títulos, considerados especialmente seguros, bancos e seguradoras se refinanciam. As cédulas hipotecárias do HRE, por exemplo, estão asseguradas por imóveis.

Com isto nunca houve dificuldades: quem tivesse paciência e apostasse a longo prazo sempre acabava lucrando. Mas se este mercado, até então seguro, secasse – o que ocorreria, no caso de um colapso do HRE – outras instituições de crédito teriam graves dificuldades de conseguir mais dinheiro. Seria o que se chama de um "risco sistêmico".

Lei do mercado?

O ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück, aponta outras razões para salvar o Hypo Real State. Se o governo o deixasse à deriva, seria o início de um "incêndio descontrolado". Pois a instituição "está conectada com cooperativas, bancos, governos estaduais e municipais, o que mais se queira". "Lidamos com uma situação que pode gerar uma dinâmica de choque, por isso temos que assumir a responsabilidade de solucioná-la agora."

Caso o HRE desaparecesse do mercado, faltaria súbito um grande financiador de orçamentos públicos endividados, a começar pelo governo federal, passando pelos estados federados, indo até os municípios. Também projetos imobiliários comerciais se encontrariam, de um golpe, sem meios.

Entretanto o plano para salvar o banco muniquense não encontra apenas adeptos. Max Otte, professor de Economia e autor do livro Der Crash kommt (O crash vai acontecer, em tradução livre), vê suas advertências confirmadas. "Eles fizeram malabarismos com grandes somas para o financiamento de projetos estatais e de infra-estrutura. Também não creio que a queda do Hypo Real Estate fosse uma catástrofe para a Alemanha, como preconiza o setor bancário. É um banco que se acabou, como ocorreu com o Lehman Brothers [...] Mas também se pode deixar que um instituto bancário se arrebente, é a economia de mercado."