Para o bem ou para o mal, a bola vai rolar
6 de maio de 2020Depois de dois meses de paralisação, a Bundesliga recebeu sinal verde do governo para reiniciar a temporada das duas divisões profissionais de futebol envolvendo 36 clubes. Serão jogos com portões fechados para o público já a partir da segunda quinzena de maio, ainda que sob severas condições de higiene. A data exata será definida já nesta quinta-feira pela Liga e pelos clubes.
Coincidência ou não, a atual temporada deveria ser encerrada em 16 de maio, justamente o dia em que a bola poderá rolar novamente. O que era para ser o fim, se tornará um novo começo para o futebol profissional alemão com a benção de Angela Merkel, ministros e 16 governadores.
Visando obter a aprovação das autoridades para a retomada dos campeonatos, a Liga havia submetido ao governo um projeto de segurança sanitária e higienização para limitar ao máximo o perigo de contaminação de todos os envolvidos. Nele está contemplada, por exemplo, a realização de testes regulares para covid-19 de jogadores, membros da comissão técnica, fisioterapeutas e funcionários dos respectivos clubes. Na primeira bateria de 1.724 testes já realizados foram detectados dez casos de infecção, dos quais três são do FC Colônia e dois do Borussia M'Gladbach.
Antes de a bola rolar efetivamente nos estádios vazios, todos os times serão obrigados a se submeter a uma quarentena em local isolado. A duração deste isolamento não foi determinada. Com o reinício em maio, a Bundesliga é a primeira das grandes ligas europeias a fazer a bola rolar. Na Itália, Espanha e Inglaterra ainda se discute sobre a viabilidade ou não da continuação dos campeonatos. Na França, a temporada já foi encerrada.
Para os clubes, a continuação do campeonato é de fundamental importância do ponto de vista financeiro porque garante a entrada em caixa de valores milionários oriundos dos direitos televisivos. São ao todo 280 milhões de euros a serem rateados entre os 36 clubes. Esse aporte vai segurar as pontas especialmente daqueles 13 clubes ameaçados pela insolvência caso tivesse ocorrido a interrupção abrupta da temporada.
Fato é que a Liga depende em grande parte dos valores recebidos da TV e consequentemente dos patrocinadores. Estima-se que a renda oriunda da bilheteria dos estádios cheios representa apenas de 15 a 20% do faturamento anual dos clubes. É um prejuízo que a maioria tem condições de absorver, mas abrir mão de TV e patrocinadores, nem pensar.
Christian Seifert, CEO da Liga, respirou aliviado ao saber da decisão governamental. "Essa decisão é uma boa notícia para a Bundesliga. Agora a responsabilidade é dos clubes e seus funcionários no sentido de implementar com toda disciplina os protocolos sanitários e organizacionais", disse.
O governador da Baviera, Markus Söder, também se manifestou logo depois. "Achamos um bom compromisso, mas sabemos que há controvérsias. Só me resta fazer um apelo a todos: espero que os responsáveis dos clubes e especialmente os jogadores observem rigorosamente as diretrizes de higiene pré-estabelecidas".
O próprio Ministro da Saúde, Jens Spahn, não tem dúvidas que no fim tudo vai dar certo. "É importante para o futebol profissional ter uma perspectiva. Existe um plano muito bem elaborado e detalhado que, se for implementado, justifica a retomada do futebol".
Do outro lado, críticas já se fizeram ouvir. A deputada federal pelos Verdes Monika Lazar afirmou ser incompreensível os privilégios cedidos ao futebol profissional "Enquanto profissionais extremamente expostos como enfermeiros e policiais não são submetidos a testes regulares para covid-19, para jogadores profissionais é aberta uma exceção e se pratica a testagem generalizada", argumentou.
Não são poucos aqueles que, ao contrário dos políticos e dos cartolas do futebol, têm sérias dúvidas sobre a implementação rigorosa das medidas sanitárias e de distanciamento social na prática do dia a dia de um clube de futebol.
Os céticos citam como exemplo um vídeo de Salomon Kalou, atacante do Hertha Berlim, que circulou pelas redes sociais há dois dias. Nele se pode ver um comportamento de jogadores no vestiário que infringe claramente as regras de higiene preconizadas pelo projeto de segurança sanitária elaborado pela Liga e aprovado pelos clubes, inclusive o Hertha.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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