Para aprender alemão brincando
11 de fevereiro de 2004Os jardins de infância da Alemanha são, de fato, multiculturais. Por todos os lados, crianças falam turco, polonês, russo, vietnamita ou árabe enquanto brincam. Uma diversidade à primeira vista positiva, que traz um grave problema. Quase nenhum desses filhos de imigrantes sabe se expressar bem em alemão.
A origem do problema está em casa: os pais vivem isolados da sociedade alemã, convivem apenas com pessoas do próprio círculo cultural e nunca aprendem o alemão direito.
Conhecido há muito tempo, o fato só passou a ser debatido pela sociedade desde que o estudo internacional Pisa atestou o mau desempenho dos alunos alemães em comparação com os de outros países industrializados. Ficou então patente que as diferenças na competência lingüística das crianças, dependendo do meio em que crescem, são consideráveis.
Treinar desde cedo
A editora Finken está apresentando na Didacta, maior feira de materiais educativos da Europa, um novo programa de aprendizado do alemão destinado a crianças em idade pré-escolar.
"Começamos com as crianças de três anos, a partir dos mais diferentes temas. São temas com os quais as crianças têm a ver diretamente no dia-a-dia. Trata-se dos conceitos mais elementares, porque coisas como mesa ou cadeira também precisam ser aprendidas", é assim que Manfred Krick, diretor da editora, esclarece a concepção de seu programa didático.
A meta é os baixinhos aprenderem alemão brincando. Um dos materiais é um jogo de cartas com ilustrações na frente e o nome do objeto atrás. Sozinha ou em brincadeiras em grupo, a criança vai aumentando aos poucos seu vocabulário em alemão.
O programa da editora destina-se em especial às professoras dos jardins de infância, o que, como o próprio Manfred Krick admite, é uma desvantagem da concepção. Na correria do dia-a-dia, é difícil as professoras arrumarem um tempinho para treinar com os filhos de imigrantes. Mas o diretor da editora não vê outra solução no momento.
Chegar aos pais através dos filhos
"O maior empecilho são os pais, que vivem em espécies de gueto. É terrivelmente difícil conseguir acesso a eles", afirma Krick. "Sei que existem algumas comunidades onde os pais das mais diferentes partes se encontram para cozinhar juntos e vão assim aprendendo as expressões relacionadas com as atividades domésticas. É um ótimo ponto de partida, mas esses fenômenos infelizmente são isolados."
A esperança da editora é que, vendo os filhos falar cada vez melhor alemão, os pais também passem a se interessar pelo aprendizado da língua. Um curso de alemão desenvolvido especialmente para essa finalidade deve chegar ao mercado nos próximos meses.
Baviera na ofensiva
O domínio insuficiente da língua do país dificulta a integração desses alunos nas escolas, reflete-se negativamente em suas notas e tem conseqüências para toda sua vida futura. O círculo vicioso prossegue mesmo depois que os jovens saem da escola: com suas notas baixas nos boletins, suas chances de emprego são limitadas. Para muitos, nada resta senão trabalhar num ambiente em que se fala a língua de seus pais. No casos dos turcos, por exemplo, são as lanchonetes, quitandas e mercearias operadas por membros da comunidade.
O primeiro Estado alemão a oferecer cursos de alemão para filhos de imigrantes é a Baviera. Um curso do idioma faz parte da agenda dos baixinhos antes da alfabetização. E isso é apenas o começo. Os políticos pretendem dar início a uma grande ofensiva pelo aprendizado do alemão nos próximos tempos.