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Os prós e contras da expansão do Airbnb na América Latina

Andrea Ariet
13 de março de 2024

Airbnb tem experimentado grande crescimento na América Latina, mas sem maiores regulações, o que tem forte impacto no mercado de aluguéis.

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Estátua do Cristo Redentor vista do alto
Rio de Janeiro é uma das cidades com forte pressão sobre os aluguéis devido ao AirbnbFoto: Carl De Souza/AFP

As plataformas de locações de temporada, como o Airbnb, mudaram a maneira como as pessoas viajam e também a própria hospedagem e mesmo quais áreas são visitadas.

E elas também transformaram centros urbanos inteiros por meio da gentrificação. E isso não só na Europa e nos Estados Unidos como também na América Latina.

A oferta desse tipo de aluguel de curto prazo nas principais capitais e cidades latino-americanas teve um aumento considerável desde a pandemia de covid-19. Só no quarto trimestre de 2023, ele foi de 22% na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Os dados mais recentes, fornecidos à DW pela AirDNA – uma plataforma que monitora alojamentos temporários em todo o mundo – apontam o Brasil e o México como os mercados mais fortes, respondendo por 35% e 20% de toda a oferta na América Latina, seguidos pela Colômbia e pela Argentina.

Rápida expansão

Para a geógrafa argentina Natalia Lerena, do órgão de fomento à pesquisa Conicet, plataformas como o Airbnb proliferaram devido a um contexto latino-americano de "inquilinização", ou seja, "de aumento de inquilinos em relação a proprietários"; no qual faltam de políticas de aluguel social; e no qual, ao contrário da Europa, "o acesso à moradia tem sido tradicionalmente através da propriedade privada, da ocupação ou da autoprodução individual".

Mas há várias razões para essa expansão. Em primeiro lugar, trata-se de um tipo de tecnologia de muito fácil acesso – mais de 6 milhões de downloads em 2022 somente na América Latina –, o que facilita a entrada de proprietários privados e também a de profissionais. E, em segundo lugar, por ação ou omissão dos governos locais, como diz Lerena. "Quase não há regulamentações e, quando elas existem, sua aplicação não é controlada ou é muito pouco controlada."

Lerena também menciona um terceiro motivo: esse setor permite aos proprietários terem acesso a consumidores que usam moedas estrangeiras fortes, algo que, "em alguns países, como a Argentina, é uma estratégia da classe média para aliviar a crise econômica".

O desafio da regulação

Com a proliferação desse tipo de aluguel temporário, algumas cidades optaram pela regulação. Medidas já foram implementadas em Barcelona, Parise Londres e, mais recentemente, em Nova York.

Em alguns países da América Latina existem algumas regulações, mas a falta de fiscalização compromete a sua aplicação. Em Buenos Aires, por exemplo, há um registro obrigatório de aluguéis temporários que tem apenas cerca de 500 propriedades listadas, embora no Airbnb haja mais de 35 mil ofertas, de acordo com a plataforma Inside Airbnb.

Vista de Buenos Aires
Buenos Aires é uma das cidades em que há tentativas de regular o aluguél de curto prazoFoto: DW

De acordo com o economista Ignacio Ibarra, do Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey, no México, a falta de elementos regulatórios e protocolos rigorosos faz do Airbnb uma plataforma segura para o proprietário, que não precisa recorrer a "mecanismos informais" nos contratos.

Ibarra também lembra que há um certo relaxamento na aplicação dos regulamentos devido às limitações de pessoal nos órgãos públicos responsáveis, bem como nas próprias plataformas, que não realizam os controles exigidos.

Gentrificação, "a consequência lógica"

A expansão do Airbnb pressionou o mercado de aluguéis tradicionais em praticamente todas as grandes cidades latino-americanas, mas especialmente em Buenos Aires, na Cidade do México, no Rio de Janeiro ou em outras cidades de médio porte, como Cancún, Bariloche e Salvador da Bahia.

"Há um efeito de 'deslocamento em cadeia', em que a classe média precisa 'ir mais para lá' para encontrar um bairro para morar", diz Lerena. Ela acrescenta que "não há um efeito de 'democratização' territorial, mas uma valorização ainda maior das áreas mais abastadas da cidade, que são as mais atraentes para os visitantes estrangeiros".

À DW, o Airbnb enfatizou que está ajudando a redistribuir o turismo para bairros menos populosos, o que "traz benefícios econômicos para comunidades que antes não os tinham".

Para Ibarra, no entanto, as plataformas de aluguel estão se aproveitando das vantagens já oferecidas por esses bairros. Esse é o caso da Cidade do México, com bairros que atraem nômades digitais, que, por sua vez, impulsionam a procura por aluguel e o consumo de um modo geral, a ponto de gerar um "processo de reconversão", explica. "A gentrificação é a consequência lógica", resume.

Para a consultora em desenvolvimento urbano Rosalba González, da Universidade Católica do Chile, "é contraditório criar um projeto que atrairá mais habitantes de alto poder aquisitivo a uma área cada vez menos acessível para os habitantes locais", citando como exemplo o projeto criado pela Cidade do México em 2022 em parceria com o Airbnb e a Unesco para promover o nomadismo digital.

"A questão é como tornar essa colaboração entre as plataformas de aluguel de curta duração e os governos locais justa para todos", ressalta.

O Airbnb foi lançado em 2008 em San Francisco, nos EUA, e atualmente tem mais de 7,7 milhões de anúncios ativos em mais de 200 países e 100 mil cidades. De acordo com o portal SearchLogistics, seis hóspedes são acomodados por um anúncio do Airbnb a cada segundo.