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Os milionários de Berlim

26 de agosto de 2019

Em apenas três anos, número de milionários na capital alemã cresceu 53%. Maioria vive em bairros da Berlim Ocidental. Dados confirmam também fenômeno da gentrificação.

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Görlitzer Park, em Berlim
Em três anos, número de milionários vivendo em Friedrichshain-Kreuzberg passou de 11 para 51Foto: Imago Images/A. Friedrichs

À primeira vista, Berlim parece ser uma cidade um tanto homogênea, sem grande segregação entre ricos e pobres no quesito moradia. Aparentemente, diferentes classes sociais dividem os mesmos bairros e espaços. Não há uma brutal divisão como costuma ocorrer no Brasil, com condomínios fechados e favelas muitas vezes lado a lado.

Apesar dessa aparência inicial, Berlim tem seus espaços exclusivos. Um relativamente conhecido é Zehlendorf, no sudoeste da cidade, com mansões construídas em grandes terrenos cheios de áreas verdes. Dados divulgados recentemente pela Receita Federal da cidade confirmaram a existência desses redutos.

O que mais chamou a atenção, porém, foi a explosão no número de habitantes da cidade que possuem renda milionária, ou seja, que recebem mais de 500 mil euros por ano. Em apenas três anos, houve um aumento de 53%. Em 2016, eram 489 milionários em Berlim; em janeiro de 2019, já eram 749.

Os dados mostraram que a maioria dos milionários ainda está concentrada em bairros considerados mais chiques e burgueses: Zehlendorf (174), Wilmersdorf (106) e Charlottenburg (103), todos localizados na região da antiga Berlim Ocidental. Também confirmaram o fenômeno da gentrificação, que está expulsando moradores que não têm mais condições de pagar os altos aluguéis exigidos nas regiões afetadas.

Enquanto há três anos apenas 11 milionários viviam no distrito de Friedrichshain-Kreuzberg, um dos mais badalados da cidade, hoje já são 51. Há uma alta concentração de milionários também em Mitte (75) e Prenzlauer Berg (35). Todas essas regiões enfrentaram uma explosão nos valores de aluguéis nos últimos anos.

Já os bairros com menor número de milionários são Lichtenberg, com cinco, e Marzahn-Hellersdorf, com seis. São locais mais afastados do centro e que ficam na antiga Berlim Oriental, caracterizados pelas típicas construções habitacionais da União Soviética, conhecidas como Plattenbau.

Se por um lado houve um aumento de milionários, por outro, a cidade registrou também um aumento na sonegação de impostos no ano passado. Em 2018, 379 pessoas foram condenadas por sonegação na cidade, e a soma das multas aplicadas passou de 2,6 milhões de euros – valor semelhante ao registrado em 2014, quando ele começou a cair, chegando a 2,1 milhões em 2017.

Alguns especialistas entrevistados pela imprensa local dizem que o aumento no número de milionários não significa necessariamente um crescimento na arrecadação, pois muitos dos ricos costumam usar vários truques, nem sempre legais, para diminuir o peso dos impostos em sua renda. Por isso, o governo local debate maneiras para reforçar o controle nas declarações de imposto de renda desse grupo.

Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.