História
1 de junho de 2007Outra coincidência é o uso de pseudônimos. O franco-alemão Max Ophüls, nascido em Saarbrücken, chamava-se na realidade Max Oppenheimer, enquanto Hans Detlef Sierck era o nome de registro de Douglas Sirk, natural de Hamburgo e filho de um jornalista dinamarquês.
Pontos em comum
Nos anos 1930, ainda antes da saída da Alemanha, os dois deixaram o palco de lado e levaram à tela, na era pós-cinema mudo, alguns dos mais bem-sucedidos filmes no país.
Algum tempo depois da emigração para Hollywood, tanto Douglas Sirk quanto Max Ophüls conseguiram se tornar nomes também conhecidos nos EUA. Após concluir quatro filmes, Ophüls retornou à Europa, enquanto a carreira de Sirk acabou se consolidando do outro lado do Atlântico.
Carta de uma desconhecida, de Max Ophüls, tornou-se um dos principais melodramas hollywoodianos do pós-guerra. Com Joan Fontaine como protagonista, o belíssimo filme é um sonho em preto-e-branco, permeado por elegantes e fluidos movimentos de câmera. Um jogo de luz e sombras tomado por tristeza e melancolia.
Virada do século
Ophüls partiu de um texto de Stefan Zweig, no qual a jovem Lisa se apaixona, na Viena da virada do século, pelo atraente mas mulherengo Stefan. Somente depois de alguns anos é que ela vem a perceber que por detrás da personalidade elegante esconde-se um galanteador superficial.
Max Ophüls via Carta de uma desconhecida como um de seus filmes mais pessoais, com o qual sonhava tornar-se finalmente conhecido em Hollywood. No entanto, seu trabalho, embora aplaudido por vários colegas como Preston Sturges e Joseph Losey, acabou se reduzindo ao conhecimento de apenas um reduto de artistas e amantes do cinema.
Somente a partir da recepção calorosa do filme na Inglaterra é que Carta de uma Desconhecida começou a despertar o interesse do público em geral. Hoje, o longa é tido como um dos mais importantes dirigidos por Ophüls.
Figuras lendárias
Já Douglas Sirk ficou principalmente conhecido por seus grandes melodramas hollywoodianos dos anos 1950, como Tudo o que o céu permite ou Palavras ao vento, com Rock Hudson e Lauren Bacall, que se tornaram lendas da história do cinema.
Também os filmes que dirigiu antes de deixar a Alemanha, sob o regime nazista – como Schlussakkord (O acorde final), de 1936, e Zu neuen Ufern (Às novas margens), com Zarah Leander –, são hoje conhecidos [no Brasil, nenhum dos dois foi exibido comercialmente].
Em Angelockt (também sem lançamento no Brasil), uma dançarina charmosa, interpretada por Lucille Ball, serve de armadilha para desbaratar os crimes de um assassino de mulheres. "O filme instigante, bem interpretado e de densa atmosfera, faz uma paródia da tradição inglesa de policiais", escreve a Enciclopédia Internacional do Cinema na Alemanha.
Personagens enigmáticas
Já Sonha, Meu Amor (Schlingen der Angst, no original) é um policial cheio de suspense, que lembra Hitchcock em meio a elementos de comédia e melodrama. Um homem quer matar sua mulher, cria um plano complicado para o assassinato, através do qual a mulher, sob hipnose, é levada a sofrer de mania de perseguição e, por fim, ao suicídio.
Douglar Sirk declararia mais tarde: "Eu quis fazer de Claudette Colbert [protagonista do filme] uma dessas personagens enigmáticas, sempre presentes nos meus filmes. A única coisa interessante era essa personalidade dividida", concluía o diretor.