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Os avanços econômicos da viagem de Scholz à América do Sul

Tobias Käufer Buenos Aires | Ramona Samuel Rio de Janeiro
1 de fevereiro de 2023

A passagem do chanceler federal alemão pelo continente abriu novas portas do ponto de vista econômico. Algo urgentemente necessário. As relações com Brasil, Argentina e Chile, há muito estagnadas, foram retomadas.

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Olaf Scholz em Brasília
Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS

O fim da visita do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, ao Brasil foi um pouco tensa. Como Scholz e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não chegaram a um acordo sobre uma linguagem comum a respeito da guerra de agressão da Rússia na Ucrânia, a coletiva de imprensa ao fim do encontro em Brasília terminou um pouco confusa.

Mas para além da questão da Ucrânia, a passagem da delegação alemã por Argentina, Chile e Brasil marcou alguns pontos importantes do ponto de vista econômico. Scholz conseguiu abrir ou reabrir algumas portas. Agora resta saber quais serão os frutos disso.

Abraço entre Luiz Inacio Lula da Silva e Olaf Scholz
Cordialidades em Brasília após o encontro de Olaf Scholz com o presidente Lula Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS

Acordo UE-Mercosul

Primeiro, há o acordo de livre-comércio UE-Mercosul, que está em negociação há duas décadas. Lula disse estar confiante de que ele possa ser finalizado até meados do ano. Era isso que o chefe de governo alemão, que busca novos e antigos parceiros comerciais após a reorganização geopolítica, queria ouvir.

Scholz fez pressão por isso em suas visitas a Buenos Aires e Brasília, e aparentemente foi ouvido. A União Europeia negocia um acordo com o Mercosul − formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai − desde 1999. Um avanço foi alcançado em 2019, mas os europeus interromperam a ratificação.

"O acordo entre o Mercosul e a UE foi bloqueado pela Alemanha e pela França entre 2019 e 2022 por causa das políticas ambientais predatórias do governo Bolsonaro", explicou o professor Roberto Goulart, da Universidade de Brasília, à DW. "Com a mudança de governo no Brasil, Lula colocou a política ambiental no topo de suas prioridades. Isso foi decisivo para que o chanceler federal alemão e os demais membros da União Europeia retomassem as negociações", continuou Goulart.

Agora ambos os lados estão acelerando o ritmo, porque a janela de oportunidades pode se fechar rapidamente. No entanto, Lula anunciou que pretende renegociar alguns pontos.

"O governo brasileiro acredita que o desequilíbrio entre o Mercosul e a União Europeia precisa ser reduzido", disse Goulart. Os europeus logo descobrirão com mais detalhes onde o sapato aperta. Ouviu-se nos círculos da delegação em Brasília que Lula considera algumas regulamentações ambientais muito rígidas.

Olaf Scholz e Alberto Fernández
Scholz com o presidente Alberto Fernández: de olho nas matérias-primas argentinasFoto: LUIS ROBAYO/AFP

Agricultores alemães relutantes

É exatamente isso que causa certo desconforto entre a Associação de Agricultores Alemães. "A política comercial do governo alemão tende a dar às questões de comércio agrícola uma prioridade menor do que ao comércio de produtos industriais", diz um posicionamento da associação à DW.

Em outras palavras, os agricultores alemães temem que possam se tornar moeda de troca e ficar para trás, com padrões mais baixos, contra um poderoso agronegócio brasileiro.

Para Berlim, a engenharia mecânica e a indústria são mais importantes. "A crença de que o novo governo brasileiro também cumprirá integralmente os padrões nas áreas de higiene animal, uso de pesticidas e questão fundiária não é tão grande", disse Udo Hemmerling, vice-secretário-geral da Associação de Agricultores Alemães, à DW. Segundo ele, já houve violações desses padrões no passado.

Portas abertas na Argentina e no Chile

Antes do Brasil, Scholz visitou a Argentina e o Chile. Nesses países, a principal preocupação foi o fornecimento de matérias-primas para a economia alemã. Ambos possuem lítio, necessário para as baterias dos carros elétricos. Além disso, a Argentina também tem ricos depósitos de gás, podendo, portanto, se tornar um fornecedor interessante após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Gabriel Boric e Olaf Scholz
No Chile, Scholz visitou com o presidente Gabriel Boric o Museu da Memória e dos Direitos Humanos Foto: Pablo Sanhueza/REUTERS

Em Santiago, a Alemanha e o Chile assinaram um acordo de cooperação no setor de mineração. A ministra chilena da área, Marcela Hernando, enfatizou que a cooperação deve focar na sustentabilidade: "Os dois Estados concordam que para o maior desenvolvimento dessa indústria é necessário dar passos concretos para uma mineração sustentável que respeite as comunidades".

Isso é compatível com a abordagem da lei alemã da cadeia de suprimentos, que prevê uma produção sustentável desde o início.

Um começo foi feito, o difícil agora é concretizar as intenções. A cooperação deve acontecer nas áreas de exploração, extração, tratamento e processamento de matérias-primas, até o processamento mineral eficiente e sustentável com tecnologias ambientais nas fundições.