Na Argentina, Scholz defende conclusão do acordo UE-Mercosul
29 de janeiro de 2023O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, aproveitou o primeiro dia de seu giro pela América do Sul, na Argentina, para defender a rápida conclusão do acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.
"As negociações já se prolongaram por tempo suficiente", disse Scholz no sábado (28/01) após se reunir com o presidente argentino, Alberto Fernández, em Buenos Aires. "É importante que (...) trabalhemos juntos e encontremos uma maneira de levar as negociações a uma boa conclusão em breve."
Scholz visitará o Chile neste domingo e na segunda-feira vai ao Brasil, onde será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília. É a sua primeira visita à região desde que ele tomou posse, no final de 2021.
A UE e o Mercosul negociam um acordo de livre comércio desde 1999. Embora um acordo inicial tenha sido alcançado em 2019, algumas questões ficaram em aberto, especialmente em relação à proteção da Floresta Amazônica durante o governo Jair Bolsonaro, que emperraram a ratificação do texto. Também há alguma resistência de agricultores europeus.
O acordo criaria a maior zona de livre comércio do mundo, com mais de 700 milhões de pessoas, quase 20% da economia mundial e 31% das exportações globais de bens.
Fernández disse que ele e Lula também desejam a conclusão do acordo. "Queremos impulsionar este acordo e fazê-lo funcionar. Ele beneficiaria a América Latina e o Mercosul em particular, beneficiaria a Europa e fortaleceria o multilateralismo em um mundo que está prestes a se tornar bipolar novamente", afirmou.
Durante a campanha, Lula disse que pretendia, se eleito, concluir o acordo UE-Mercosul em até seis meses. Ele também conversou sobre o tema com o presidente francês, Emmanuel Macron, na quinta-feira.
Hidrogênio e gás
Durante o encontro entre Scholz e Fernández, foram assinados dois acordos de cooperação, sobre startups e o setor energético.
O acordo energético diz respeito principalmente ao hidrogênio verde, mas Scholz, que busca fontes alternativas de energia após a interrupção do fornecimento de gás russo em meio à guerra na Ucrânia, também manifestou interesse no gás liquefeito argentino.
Fernández disse que a Argentina pretende "tornar-se um produtor de gás seguro no mundo" e expandir suas capacidades. O país tem um dos maiores depósitos de gás de xisto do mundo, mas sua extração é difícil e a tecnologia de fracking usada é vista como controversa devido ao impacto ambiental.
Há também falta de gasodutos para a distribuição no país e a exportação para o exterior. Na segunda-feira, Lula afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiaria parte da obra de um gasoduto para facilitar o escoamento de gás argentino extraído da região de Vaca Muerta.
Guerra na Ucrânia
Scholz e Fernández conversaram também sobre a invasão russa da Ucrânia, e o líder argentino frisou que seu país não planeja enviar armas a Kiev. "A Argentina e a América Latina não estão pensando em enviar armas para a Ucrânia ou qualquer outro país em conflito", disse o presidente argentino.
De acordo com reportagens da mídia, os Estados Unidos pediram a vários países latino-americanos que fornecessem à Ucrânia armas construídas na época soviética. Segundo uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a Alemanha também pediu ao Brasil que fornecesse munição antiga de tanques que possui em estoque, que seriam então repassadas à Ucrânia. Segundo o jornal, Lula negou o pedido.
Na Assembleia Geral da ONU em março passado, Argentina, Brasil e Chile estavam entre um total de 141 países que condenaram a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Os atuais líderes dos três países, no entanto, indicam que não pretendem participar do esforço de apoio bélico a Kiev.
bl (DPA, Reuters, ots)