Lula diz que vai fechar acordo UE-Mercosul em seis meses
22 de setembro de 2022O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, se for eleito nas eleições presidenciais de outubro, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) será fechado ainda no primeiro semestre de 2023.
"Se eu ganhar as eleições, eu vou tomar posse e, nos primeiros seis meses, nós vamos concluir o acordo com a União Europeia. Um acordo que leve em consideração a necessidade de o Brasil voltar a se industrializar", disse o petista em entrevista ao Canal Rural exibida na quarta-feira (21/09). Segundo Lula, o Brasil precisa do acordo.
O pacto de livre-comércio entre sul-americanos e europeus foi firmado em 2019, após 20 anos de negociações. O acordo, porém, ainda não entrou em vigor porque depende da ratificação dos parlamentos de todos os países envolvidos.
Um dos principais entraves para a ratificação vem sendo a preocupação de países europeus quanto aos compromissos do Brasil em relação à preservação do meio ambiente.
Mencionando piora nos indicadores ambientais sob o governo de Jair Bolsonaro, alguns líderes da UE disseram que não ratificarão o acordo até que sejam colocadas em prática medidas concretas para frear a destruição da Floresta Amazônica, por exemplo.
Desmatamento
Na entrevista ao Canal Rural, Lula chamou de "gente grotesca" aqueles que desmatam e garantiu que o país não precisa derrubar mais árvores para aumentar sua produção agropecuária.
"As pessoas precisam entender que não é preciso desmatar tanto, que a gente pode produzir em terras menores", disse, defendendo o uso de terras degradadas para aumentar a produção.
"Esse negócio do desmatamento é gente grotesca que não tem respeito pela própria produção que ele faz, porque ele pode se prejudicar. O mundo está muito exigente, o mundo está cada vez mais querendo exigir e nós também aqui dentro queremos comida mais saudável", afirmou.
Exportações de carne
Em meio à alta no preço dos alimentos, o ex-presidente também foi questionado sobre a possibilidade de seu governo controlar as exportações de carne bovina para aumentar sua disponibilidade no mercado interno e reduzir seu preço.
Em um comício neste mês, Lula afirmara que, se eleito, iria "discutir" uma forma de pôr em prática essa medida, assim como fez a Argentina – embora sem resultados sustentáveis.
Contudo, agora em mudança de tom, o petista disse ao Canal Rural que qualquer país que intervenha nas exportações de carne irá "quebrar a cara".
"O que está faltando no Brasil é o povo ter o poder aquisitivo para poder comprar carne. Na hora que o povo tiver o poder aquisitivo, quem produz a carne vai vender no mercado interno. Se você tentar fazer uma intervenção e bloquear vai quebrar a cara mesmo. Quebra a cara do Brasil, quebra a cara do negócio e quebra a cara da sua respeitabilidade no mundo", disse.
Especialistas afirmam que a medida poderia reduzir o preço no curto prazo, mas no médio e longo prazo desestimularia os pecuaristas e provocaria queda na produção, falta de produto e inflação, com efeito na balança comercial e nas reservas internacionais.
Agronegócio e fascismo
Lula ainda se explicou sobre uma declaração feita em sabatina no Jornal Nacional em que disse que parte do agronegócio tem comportamento fascista. Ao Canal Rural, ele afirmou que não estava falando de todo o setor.
O petista alegou que, durante seus dois mandatos à frente do Planalto, sempre manteve uma relação civilizada com o agronegócio – mas que recentemente surgiram pessoas que proferem discurso de ódio e fascista.
"Dentro do agro tem dezenas de pensamentos políticos e ideológicos. O agro não é uma coisa só, como o PT não é uma coisa só, como o centrão não é uma coisa só. Você tem gente mais democrática, mais à esquerda, mais ao centro, mais à direita, você tem gente ultradireita, tem gente com comportamento fascista e tem gente com comportamento democrático."
ek/lf (ots)