Grupo de escoteiros dos EUA recebe 95 mil denúncias de abuso
17 de novembro de 2020Dezenas de milhares de vítimas de abusos sexuais ocorridos na Boy Scouts of America (BSA, Escoteiros da América em inglês) apresentaram denúncias até a noite de segunda-feira (16/11), o prazo final para o requerimento de indenização por parte de um fundo criado pela organização.
"Até hoje, 95.000 reclamações foram feitas", disse o advogado que representa as vítimas, Paul Moses, apontando que as denúncias foram apresentadas por americanos com idades entre 8 e 93 anos.
O número, que revela a escala dos supostos abusos cometidos ao longo de décadas por líderes escoteiros, supera as cerca de 11.000 acusações que foram apresentadas nos últimos anos contra a Igreja Católica nos EUA.
"É de longe o maior escândalo de abuso sexual dos Estados Unidos", disse Moses, acrescentando que o escotismo oferecia um palco ideal para os pedófilos: "Os meninos fazem um juramento de lealdade, estão longe de seus pais, em área selvagem."
"Estamos arrasados com o número de vidas afetadas por abusos anteriores no escotismo e movidos pela bravura daqueles que se apresentaram", afirmou a BSA em comunicado.
"Desenvolvemos intencionalmente um processo transparente e acessível para localizar os sobreviventes e ajudá-los a dar um passo essencial para receberem compensação. A resposta que vimos dos sobreviventes foi angustiante. Lamentamos profundamente", acrescentou a organização.
Fundado em 1910, o grupo tem 2,2 milhões de membros com idades entre 5 e 21 anos. O número, porém, é metade do que o registrado na década de 1970.
Abalada pelas acusações de abuso sexual, a BSA entrou com pedido de falência em fevereiro em um esforço para impedir que os pedidos de indenização do acordo atingissem a organização diretamente e, em vez disso, encaminhou-as para um fundo de compensação.
O grupo, que tem um patrimônio avaliado em mais de 1 bilhão de dólares (R$ 5,34 bilhões), não disse quanto pretende gastar com esse fundo.
Revelações de má conduta nos círculos de escotismo dos Estados Unidos chamaram a atenção em 2012, quando o jornal Los Angeles Times publicou documentos internos detalhando décadas de abuso sexual.
Cerca de 5.000 arquivos foram descobertos, que apontavam culpados entre a liderança dos escoteiros, incluindo chefes de escoteiros e líderes de tropa. A maioria dos incidentes nunca foi relatada às autoridades, e a BSA se limitou a afastar os suspeitos.
Mas já nos anos 1930 havia notícias de que abusos aconteciam no grupo. Em 1935, uma reportagem do New York Times apontou que o grupo havia identificado "centenas de degenerados" entre os líderes de tropa.
As negociações entre as vítimas, a BSA e suas seguradoras devem determinar os valores a serem pagos. A BSA "terá que vender algumas de suas propriedades", disse Moses, acrescentando que se trata de um processo "muito complicado" que pode durar um ou dois anos.
Vários casos foram apresentados contra a BSA desde 2012, especialmente depois que vários estados americanos prorrogaram a prescrição de alegações de agressão sexual.
JPS/afp/ots