Toda vez é a mesma coisa: a luta pelo quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos se torna uma disciplina esportiva por si. No último dia de Tóquio 2020, os Estados Unidos ainda conseguiram ultrapassar a China no ranking oficial, com uma medalha a mais.
Mas os EUA contam mesmo diferente: para eles o que vale é a quantidade, e o país teve até consideravelmente mais medalhas do que os chineses. Muitas vezes, a vitória nos Jogos Olímpicos é uma questão do método de contagem.
Isso é uma luta indigna, que deve ser eliminada do programa olímpico. Os rankings de medalhas só refletem o resultado, mas não o processo que resulta numa classificação bem-sucedida. Eles estimulam o doping controlado pelo Estado e favorece as categorias individuais mais do que as de equipe – assim como as nações que injetam muito dinheiro no esporte.
Alimento para nacionalismos
Se o número de medalhas fosse, por exemplo, posto em relação com a população e o Produto Interno Bruto (PIB), outras nações estariam no topo: a Jamaica ou as Bahamas, digamos, ou o Kosovo.
O quadro de medalhas, encarna, sim, a ideia olímpica do esforço pelo desempenho máximo, só que em detrimento de outros valores olímpicos: de ser uma festa esportiva coletiva, a fim de superar os egoísmos nacionais, uma contribuição para a paz e o entendimento internacional.
Em vez disso, o quadro é utilizado por alguns países para demonstrar seu poder e força, visando corroborar seus sistemas políticos com a colaboração de atletas de êxito. As medalhas são celebradas como conquistas de significado nacional. O quadro fortalece o nacionalismo que gera volatilidade política e tragédias pessoais.
A dupla mista chinesa de tênis de mesa desculpou-se publicamente e em lágrimas por "só" ter alcançado uma medalha de prata: "Deixamos o time na mão", admitiu Liu Shiwen., Xu Xin comentou: "Todo o país estava de olho nesta final. Acho que o time chinês não vai aceitar o resultado."
A pressão sobre os atletas chineses nunca foi tão grande, perante as pretensões hegemônicas de Pequim. E a carga das expectativas não deverá ser menor para eles, a cerca de seis meses do início dos Jogos Olímpicos de Inverno 2022, que se realizam na capital chinesa.
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Sarah Wiertz é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.