Sul da Europa tem a aprender com Báltico
3 de janeiro de 2015Em seus seis meses na presidência da UE, na área da política econômica a Itália chamou a atenção principalmente com lamúrias, inação e acusações. O governo do primeiro-ministro social-democrata Matteo Renzi quase não progrediu nas reformas estruturais necessárias. Em vez disso, acusou a Alemanha e outros países da UE orientados para a estabilidade de estrangularem a economia europeia com uma política de austeridade excessiva.
O lema de Renzi parece ser: nós e toda a Europa estaríamos melhor se pudéssemos investir sem levar em conta critérios de estabilidade atravancadores – em outras palavras: simplesmente gastar, de preferência o dinheiro dos outros. Como se as responsáveis pelos problemas atuais não fossem precisamente as décadas de alegre política de esbanjamento à custa das gerações futuras.
A Itália tem hoje uma das maiores dívidas estatais, depois da Grécia. Em outro ponto, também há paralelos em relação à Grécia: após eleições presidenciais fracassadas, Atenas está ameaçada de ganhar um governo de esquerda, cujo líder, Alexis Tsipras, já anunciou o fim da política de austeridade, no caso de uma vitória – que parece provável, segundo as pesquisas de intenção de voto. Sabe-se lá, então, o que será da política internacional de resgate, que garantiu a sobrevivência da Grécia com uma injeção de 240 bilhões de euros.
Na Itália, as coisas estão longe de ser tão dramáticas, até por ela felizmente não ter precisado de ajuda externa. No entanto, está ameaçada por mais um impasse, após a anunciada renúncia do idoso presidente Giorgio Napolitano. Isso quando, na verdade, mais um bloqueio político é um luxo a que uma Itália já pouco disposta a reformas não deveria se dar.
O clima é bastante diferente em dois países do norte da Europa que ocupam as manchetes por estes dias. A Letônia assumiu a presidência da UE em 1º de janeiro; sua vizinha Lituânia acaba de adotar o euro. Juntamente com o terceiro país báltico, a Estônia, todos os três aderem, assim, a uma união monetária que, no auge da crise europeia, muitos deram por perdida.
A introdução do euro nessas ex-repúblicas soviéticas só foi possível graças a bons dados orçamentais e econômicos por um longo período. Ela não cai do céu para os Estados do Báltico, mas sim chega como consequência de uma dura política de consolidação, implementada por iniciativa própria e sem pacotes de ajuda da UE. Hoje, os três países são economicamente muito mais saudáveis do que antes da crise: os sacrifícios valeram a pena.
A prioridade mor da Letônia na presidência da UE são emprego e crescimento no bloco. Contudo, ao contrário das receitas italianas, ela considera que a base para tal deve ser uma maior competitividade. O país se autoprescreveu esse tratamento drástico.
No caso da Itália e da Grécia – mas também da França – fica sempre a impressão de que elas interpretam como impertinência e ingerência indevida mesmo a mais discreta sugestão externa por maior disciplina orçamentária, reformas estruturais e aumento de competitividade.
Especialmente se as advertências vêm de Berlim, os governos desses países costumam reagir com bastante irritação. Os nórdicos, por sua vez, são pequenos demais para serem suspeitos de dominância. Eles só chamam a atenção por sua conduta exemplar. Mas, justamente por isso, são tão importantes para a Europa.