Crise econômica, Ucrânia e euroceticismo: os desafios da UE em 2015
31 de dezembro de 2014"Haverá uma brisa fresca, mas nenhuma tempestade", respondeu o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, à pergunta da Deutsche Welle sobre as mudanças no ano de 2015.
Segundo ele, a Comissão Europeia pretende dar um novo impulso à União Europeia (UE), se concentrando principalmente na criação de postos de trabalho e em seu programa de investimentos no valor de 315 bilhões de euros.
"Mesmo assim, a recuperação das finanças públicas continuará sendo importante", disse Juncker, referindo-se a países economicamente abalados como Itália e França.
Os prognósticos econômicos da União Europeia (UE) se resumem a um modesto crescimento de 1,1% para os Estados da zona do euro. E o desenvolvimento nos diferentes países-membros continuará a ser dissonante em 2015. A Alemanha vai razoavelmente bem, enquanto a situação de outras grandes economias na área de moeda única tende a se estagnar.
"A situação da economia e do emprego não se recupera com rapidez suficiente", reconheceu Jyrki Katainen, comissário europeu responsável pela pasta dos Assuntos Econômicos.
Também no próximo ano, o Banco Central Europeu (BCE) vai continuar lutando contra as consequências da crise de endividamento e do mau crescimento econômico. O BCE está disposto a fazer injeções maciças de capital nos mercados. Ainda não se sabe quando esse passo deverá ser tomado. A Itália faz pressão, enquanto a Alemanha freia e prefere, como de costume, uma política fiscal contida.
Grécia pode cair novamente
A crise do euro, que muitos na Europa acreditavam estar superada, pode voltar com toda força em 2015. Caso o partido radical de esquerda Syriza, que aparece na frente nas pesquisas de opinião, vença as novas eleições na Grécia, a confiança dos mercados financeiros seria fortemente abalada.
"Os gregos sabem muito bem que impacto teria um resultado errado das eleições", advertiu sem rodeios o presidente da Comissão Europeia.
O banco de investimentos Goldman Sachs é mais claro em sua análise: "Se um governo dominado pelo Syriza colocar em prática a sua ameaça e não pagar mais as suas dívidas, entrando em confronto com os credores internacionais, então o BCE seria obrigado a manter os bancos gregos fechados durante dias".
Atenas deve ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e a diferentes instituições europeias um total de 250 bilhões de euros. Uma tragédia grega também teria, evidentemente, efeito sobre outros países altamente endividados.
Os prêmios de risco para os títulos do Chipre, Itália, Portugal e talvez também da França poderiam vir a aumentar. E isso, por sua vez, seria um veneno para os orçamentos públicos. Destinados a investimentos, eles não suportariam uma carga de juros mais alta.
Reino Unido em atrito com a UE
Não somente devido à difícil situação econômica, mas também por causa da insatisfação geral com a Europa e Bruxelas, aumenta a força antieuropeia na UE. Essa tendência deverá se manifestar nas eleições para a câmara baixa do Parlamento britânico, em maio de 2015. O Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), vencedor das eleições europeias de 2014 no país, poderia triunfar novamente.
Impulsionado pelo Ukip, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu a seus eleitores negociações com a UE sobre mais soberania para o país. No entanto, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, traçou uma linha vermelha: "A livre circulação de trabalhadores no bloco não é negociável", disse.
Para lidar com a crescente xenofobia no país, Cameron pretende limitar o afluxo de cidadãos da União Europeia para o Reino Unido. Se o plano falhar, então, ele mesmo poderá fazer campanha pela saída britânica da UE no planejado referendo de 2017 sobre a sua permanência no bloco europeu. Talvez já em maio deste ano seja o caso de dizer: "Adeus, Reino Unido!".
Isso provocaria uma grande crise na União Europeia. Os eurocéticos em Hungria, França, Itália, Suécia e Alemanha receberiam um novo impulso. Na França, onde a populista de direita Marine Le Pen luta pela saída da UE, pressionando o fraco presidente socialista François Hollande, a situação pode vir a escalar. Uma das principais tarefas do novo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, será intermediar negociações entre o Reino Unido e o resto da União Europeia.
Crise na Ucrânia: "cautela extrema"
No topo da agenda europeia, está a crise na Ucrânia e a relação do país com a Rússia. Como presidente do conselho que reúne os chefes de Estado e governo, Tusk quer manter a UE com olhos vigilantes voltados para o Leste e instar Moscou ao diálogo. "Quero introduzir a perspectiva do Leste Europeu", afirmou o presidente ao assumir o cargo.
Em março, a UE vai decidir sobre a prorrogação das sanções contra a Rússia – um teste inicial e sério para a coesão do bloco europeu. Atualmente, já há vozes provenientes da Itália ou Hungria que duvidam do sentido das sanções econômicas, impostas após a anexação da Crimeia pela Rússia.
De olho em 2015, o ministro do Exterior letão, Edgars Rinkevics, declarou à DW que a UE e a Otan devem desenvolver uma resposta adequada. "Precisamos de um diálogo político com a Rússia, mas também de contenção frente ao seu comportamento agressivo." De acordo com Rinkevics, o presidente russo Putin vai continuar a testar a Otan: "Precisamos ter extrema cautela."
A Comissão Europeia comprometeu-se, em 2015, a cumprir uma dieta burocrática e a apresentar menos – porém mais importantes – projetos de lei para votação no Parlamento. Ainda não se sabe se essa proposta poderá ser cumprida, já que muitos parlamentares europeus protestaram veementemente contra o anúncio de que alguns projetos na área ambiental serão enxugados ou engavetados.
Em 2015, a política ambiental vai desempenhar um papel central na Europa, pois, no fim do ano, Paris irá sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas. A UE se esforça para estabelecer metas vinculativas para a redução dos gases do efeito estufa.
Waterloo e Segunda Guerra Mundial
No novo ano, também haverá oportunidade de recordar eventos históricos. Em maio, o fim da Segunda Guerra Mundial será lembrado pela 70ª vez. Sob o pano de fundo da atual crise na fronteira leste da UE, a guerra e a paz na Europa serão mais uma vez motivo de reflexão.
Outro jubileu vai mostrar que consequências de longo prazo podem ter anexações de territórios, guerras de conquista e a extinção de Estados inteiros. Em julho, a Batalha de Waterloo completa 200 anos.
Próximo da atual sede da União Europeia, Bruxelas, Napoleão sofreu uma derrota decisiva em 1815, quando Grã-Bretanha, Prússia, Áustria e Rússia aliaram-se contra o agressor francês. A Batalha de Waterloo será reproduzida com a participação de milhares de figurantes e convidados de toda a Europa.