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Reconstruir Notre Dame é contribuir com esperança à Europa

Ines Pohl
Ines Pohl
21 de abril de 2019

Atacar os grandes doadores pela generosidade para o reerguimento da catedral, exigindo que invistam antes em causas humanitárias, é ignorar a importância de um símbolo cultural, opina a editora-chefe da DW, Ines Pohl.

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Vista aérea da Catedral de Notre Dame após o incêndio
Vista aérea da Catedral de Notre Dame após o incêndioFoto: picture-alliance/dpa/Gigarama.Ru

O reflexo é compreensível: quando, em prazo tão breve, são doadas centenas de milhões para reconstruir uma edificação, é legítimo perguntar por que de repente se acha tanto dinheiro para pedras mortas, quando, ao mesmo tempo, seres humanos morrem de fome no Sudão? Ou faltam verbas para possibilitar pelo menos uma escolaridade rudimentar às crianças nos campos de refugiados?

E isso ainda mais quando se trata de uma igreja cristã, devendo ser o amor ao próximo um ponto focal do cristianismo. E este – segundo insiste uma comunidade de internautas bastante barulhenta – não se expressa através da exaltação de uma obra arquitetônica.

Esses são pensamentos que devem passar pela cabeça de muitos, não só nas regiões de guerra e crise, mas também daqueles que, a seu próprio modo, lutam, dia após dia, para tornar o mundo um pouco mais justo, um pouco melhor.

É absolutamente desejável que os ricos partilhem seu bem-estar com quem não está tão bem de vida. Justamente para os cristãos, deve valer a máxima de que riqueza também implica deveres, e sobretudo os bilionários deveriam refletir sobre a advertência de Cristo: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus."

Mas também é certo que certos edifícios são mais do que meras pedras: são bens culturais que há séculos cunham a autoimagem de nações e regiões culturais, sendo, por isso, particularmente importantes e dignos de proteção. A Catedral de Notre Dame é, sem dúvida, um deles.

Não importa em que meios culturais, as sociedades precisam de símbolos a fim se certificar da própria história. Nesse sentido, local de origem é muitíssimo mais do que um ponto no mapa. Num mundo de incerteza, esses espaços culturais são mais importantes do que nunca, pois são capazes de fornecer um lar e uma base. Para alguém que sabe quem é, o estranho, o novo, o outro é menos ameaçador; insegurança é um solo fértil para a exclusão e o ódio.

Notre Dame também é um maravilhoso símbolo pelo fato de milhões de cidadãos de todo o mundo já terem visitado esse local carregado de história. Também não cristãos se emocionaram com a beleza, dignidade e significado histórico que irradia essa extraordinária igreja, no coração da capital francesa. Testemunho desse poder de atração são as incontáveis fotos de visitas à catedral que gente de todo o planeta vem postando no Twitter, desde o incêndio.

Europa é mais do que uma moeda transnacional, mais do que um espaço econômico. Europa é um espaço cultural, e a Notre Dame, um de seus símbolos centrais. Por isso é certo e apropriado que os superricos abram logo suas carteiras. Pois, no fim das contas, a reconstrução da catedral também será um símbolo de esperança.

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Ines Pohl
Ines Pohl Chefe da sucursal da DW em Washington.@inespohl