Agora foi a vez de Hanau. Pela terceira vez em poucos meses, o ódio e a loucura explodiram na Alemanha. Em junho, o político conservador Walter Lübcke foi assassinado em frente à sua residência, em Kassel, devido ao seu engajamento em prol de refugiados. Em outubro, uma porta segura foi o que impediu um extremista de direita de executar um banho de sangue numa sinagoga lotada em Halle.
E, agora, um homem matou dez pessoas em Hanau, perto de Frankfurt. Ele deixou um vídeo no qual faz declarações racistas e dissemina teorias da conspiração. Depois assassinou os clientes de dois bares de narguilé e a própria mãe.
O que une esses criminosos é um ódio a tudo o que não se encaixa na sua definição völkisch [étnico-nacionalista] de Alemanha. Independentemente de eles estarem conectados entre si ou de eles estarem em contato com outros grupos de radicais de direita, a Alemanha precisa aceitar que essa escalada de ódio chegou ao seio da sociedade. Políticos e sociedade civil precisam se confrontar com a constatação de que o caldo em que fermentaram esses assassinatos são as ideologias racistas, misóginas e extremistas que voltaram a ser aceitáveis em muitos círculos sociais.
Esses assassinatos não são casos isolados. Independentemente de os alvos serem políticos, judeus ou muçulmanos – essa violência desumana é uma expressão daquilo que voltou a ter condições de germinar no solo social alemão. E ela é um terrível sinal de alerta de que é necessário verificar se o Estado ainda dispõe dos instrumentos adequados para executar sua tarefa mandatória: garantir a segurança individual de todos os cidadãos da maneira como a Lei Fundamental (Constituição) determina, ou seja, independentemente de origem, religião ou sexo.
Quais medidas podem ser adotadas para acabar com a bolha de ódio e loucura nas redes sociais? Afinal, não se trata de um universo virtual onde almas inofensivas e confusas podem – sob a proteção da liberdade de informação – dar vazão a suas frustrações. Hanau é mais uma prova de que essa disseminação de ódio não fica sem consequências, mas resulta em morte.
Os políticos devem reagir de forma clara, rápida e inequívoca. E não apenas com palavras, pois, do contrário, a situação vai acabar escapando totalmente do controle e, no fim, o que estará em questão é tudo o que o nosso Estado de direito, com suas liberdades individuais, representa.
A chanceler federal Angela Merkel encontrou as palavras certas: é verdade que o racismo é um veneno. Mas o diagnóstico não basta. A resposta deve ser uma declaração de guerra clara a todas as ideologias desumanas e à sua disseminação nas redes sociais. Essa responsabilidade não pode ser simplesmente empurrada para Facebook, Twitter e outras grandes empresas de redes sociais.
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