Por enquanto é só uma notícia de jornal: o relatório propriamente dito do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU será divulgado apenas no próximo semestre. Mas, se a notícia for verdadeira, a posição dos principais pesquisadores do clima global é nada mais, nada menos que uma declaração de fracasso da política internacional de proteção climática: esqueçam o objetivo de limitar o aquecimento global em 1,5 grau. A meta estaria, "com 66% de probabilidade, fora de alcance", diz o texto, citando o IPCC.
O painel sempre foi caracterizado pelo apego à precisão matemática, o que muitas vezes fez com que suas opiniões não fossem compreendidas. Mas, desta vez, as frases são muito claras: as atuais emissões de gases do efeito estufa e, acima de tudo, a política atual dos Estados e seus investimentos no setor de energia tornam praticamente impossível o cumprimento direto do limite de 1,5 grau.
Há apenas cerca de dois anos, na tão aclamada Conferência do Clima de Paris, a meta desempenhava um papel central. Com ela, especialmente os pequenos Estados insulares e muitos países da África e da Ásia queriam convencer os países ricos a aderir a um programa mais ambicioso de proteção climática. E, no final, foram bem-sucedidos.
Até então, a política climática global tinha estabelecido o objetivo de não elevar a temperatura mundial em mais de dois graus, medida em relação à temperatura do início da industrialização, há mais de 150 anos. Desde então, a enorme queima de combustíveis fósseis pelo homem já permitiu que a temperatura mundial subisse 1 grau. Almejar não mais que 1,5 grau equivale a querer frear totalmente a economia global. Só por isso mesmo, já é uma meta completamente irrealista.
Mas isso não equivale ao fim da política de proteção climática. Sistemas de energia eólica e solar vêm sendo construídos no mundo inteiro, e não faltam investimentos em negócios sustentáveis. Tecnologicamente, a humanidade provavelmente já há muito tempo poderia ter renunciado aos combustíveis fósseis, mas, na prática, isso não ocorre.
Economias emergentes e gigantes econômicos, como a China, têm taxas de crescimento tais que tornam sua sede de energia praticamente insaciável. Eles gostam de usar as novas energias sustentáveis, mas também dependem do carvão. E nos velhos países industrializados, incluindo a Alemanha, falta a vontade política decisiva para implementar de fato uma rápida transformação. Empresas de automóveis e de energia formam um lobby poderoso, que prefere deixar tudo como está. E, em Washington, um cético das mudanças climáticas ocupa a Casa Branca há um ano. Mas, algum dia, a pressão das novas tecnologias afastará também esses empecilhos.
A única coisa fatal é que a meta de 1,5 grau, que os especialistas agora consideram irrealista, é um detalhe essencial do Acordo do Clima de Paris, que só deverá entrar em vigor realmente a partir de 2020. E esse número marcante sempre foi, até agora, a principal motivação para muitos Estados pobres continuarem a apostar no tratado – mesmo sem o ignorante governo americano.
Mas talvez a franqueza da formulação do IPCC seja também uma chance. Os países, sobretudo os pobres, não têm muitas alternativas além de manter em curso as negociações internacionais sob os auspícios das Nações Unidas. E abandonar metas irrealistas, que só geram frustração, pode até mesmo liberar energia.
A linguagem clara do IPCC também deixa patente, mais uma vez, do que se trata: a diferença entre 1,5 e 2 graus significa mais tempestades, um nível do mar 10 centímetros mais alto e, provavelmente, também a perda de gelo na Groenlândia e na Antártida Ocidental. E, por último, mas não menos importante, o que está em jogo é a existência de muitos pequenos Estados insulares. Que ninguém diga que não ouviu o aviso.
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