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Grécia obtém segunda chance

20 de agosto de 2018

Num esforço de oito anos, a UE salvou os gregos da falência. O processo foi duro e por vezes injusto, mas não havia alternativa. Agora começa um novo experimento, sem muita margem para erros futuros, opina Bernd Riegert.

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Moeda de um1 euro sobre mapa da Grécia
Foto: picture-alliance/dpa/CTK/P. Svancara

Durante oito anos, a União Europeia mostrou enorme solidariedade e provou que em conjunto se pode obter resultados surpreendentes. Apesar de todos os erros cometidos e dos apertos por que a população teve que passar, o saneamento da situação de insolvência da Grécia é um êxito da União Europeia e, sobretudo, dos países que têm o euro como moeda.

Quando em 2010 ficou óbvio que o Estado grego estava diante da falência, devido a déficits excessivos, pouca produtividade, salários altos demais e consumo privado exagerado, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – a assim chamada "troica" – decidiram ajudá-lo.

Eles não eram obrigados a tal: os acordos europeus descartam expressamente um bailout, ou o resgate de dívidas alheias. Por isso emprestou-se dinheiro à Grécia sob condições extremamente favoráveis, permitindo-lhe continuar honrando suas obrigações, como o pagamento dos salários públicos e das aposentadorias.

É claro que a zona do euro não deu esse passo por pura solidariedade, mas também em interesse próprio, a fim de evitar o alastramento da crise pelo resto da comunidade monetária. Sim, cuidou-se também para que bancos de Alemanha, França e Espanha não falissem, precipitando-se no precipício juntamente com a Grécia.

Seja como for, os países do euro e o FMI também poderiam ter agido diferente, dando crédito às numerosas Cassandras que profetizavam o fracasso inevitável do salvamento da Grécia.

O saneamento financeiro do país não teria sido possível sem a imposição de condições duras. O Estado foi forçado a reduzir drasticamente seus gastos exagerados; a população teve que abrir mão de parte da renda; a economia encolheu. Todas essas provações eram inevitáveis, pois não se podia continuar vivendo de crédito, como até então.

Olhando retrospectivamente, teria sido possível aplicar os cortes de forma socialmente mais branda. As sanções foram também necessárias para obrigar o Estados e o empresariado a adotarem reformas estruturais que durante décadas não haviam sido possíveis na Grécia.

Estão errados os muitos críticos segundo os quais o país foi arruinado pelas imposições dos credores. Sem as medidas de saneamento ele não teria chegado a nada, e logo estaria totalmente em ruínas – ou seja, fora da zona do euro e desligado de quaisquer fontes de finanças.

O primeiro-ministro populista de esquerda Alexis Tsipras, que agora se faz festejar como libertador do jugo da troica, entendeu isso bem rapidamente. Durante alguns meses ele fez o papel de rebelde, revoltando-se contra os credores, juntamente com seu histriônico então ministro de Finanças, Yanis Varoufakis. Em 2015 Tsipras levou o país à beira da inadimplência.

Após encarar o fundo do abismo, ele fez meia volta, decretando medidas de austeridade mais duras do que nunca; elevou os impostos, mas ao mesmo tempo reverteu algumas reformas. No total, ele acatou o curso de salvamento da zona do euro, e agora vende isso como sua vitória. Difícil entender por que os gregos compram essa história.

Seja como for, as peripécias de Tsipras e Varoufakis custaram ao país quase três anos a mais no programa de resgate e um colapso de seu desempenho econômico, só agora ele começa lentamente a se recuperar. Porém isso não se deve às ideias do governo radical de esquerda em Atenas, mas sim ao bem refletido curso de resgate da UE.

A partir de 21 de agosto, a Grécia vai ter que voltar a se afirmar sozinha nos mercados financeiros e tentar obter créditos a juros praticáveis. Isso só dará certo se todo futuro governo grego também mantiver uma disciplina orçamentária férrea e melhorar a competitividade do país. A segunda chance que a Grécia está tendo agora custou muito esforço, não se pode desperdiçá-la.

A solidariedade europeia deve e vai ser mantida. Também a UE aprendeu com a crise grega. Agora existe um fundo de resgate fixado num acordo e equipado com suficiente capital, há mais experiência com os procedimentos, a próxima crise encontrará a comunidade mais bem armada. A UE vai prevalecer, apesar de todos os anúncios de morte que se ouviu das partes interessadas.

Se os populistas da Polônia até a Itália passarem a ditar o tom na comunidade, então adeus a países como a Grécia. No espírito de "primeiro o meu país", os senhores Matteo Salvini, em Roma, ou Heinz-Christian Strache, em Viena, seguramente não vão ajudar mais uma vez os gregos em apuros.

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Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.