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Crime

12 de julho de 2009

As reações ao homicídio de Marwa El-Sherbini em Dresden chegaram tarde mais. Consternação forçada não convence, comenta Stephan J. Kramer, secretário-geral do Conselho Geral dos Judeus na Alemanha.

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Na segunda-feira (06/07), visitei Elwi Ali Okaz no hospital de Dresden, junto com o secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha, Aiman Mazyek; o embaixador egípcio Ramzi Ezzeldin Ramzi; o diretor da polícia Brend Merbitz e o secretário de Justiça da Saxônia, Geert Mackenroth.

A mulher de Ali Okaz, Marwa El-Sherbini, foi esfaqueada por um fanático que odeia muçulmanos – isso na sala de um tribunal alemão, diga-se de passagem. Seu filho, ainda no ventre, também morreu. O outro filho, de três anos de idade, foi obrigado a presenciar o ocorrido no tribunal. Seu marido, que tentou ajudá-la, foi ferido gravemente, correndo risco de vida.

Através da visita ao hospital, queríamos encorajar Elwi Ali Okaz após sua perda irreparável e seus ferimentos graves – ele ainda foi, em função de uma terrível confusão, considerado agressor, tendo sido baleado por um policial – e também darmos um sinal para o mundo lá fora de solidariedade não apenas com as vítimas, mas com todos os muçulmanos na Alemanha.

Nossa visita desencadeou uma ampla reação da mídia. Desconcertante é o fato de, para alguns desses jornalistas, a viagem de dois secretários-gerais de religiões distintas a Dresden parecer ser mais digna de nota do que o homicídio por motivos racistas em si. Tudo indica que alguns desses jornalistas acharam a morte de uma muçulmana muito menos relevante do que o aparecimento em público de dois secretários-gerais juntos: um, muçulmano; outro, judeu. Em algumas publicações, percebia-se até mesmo uma satisfação arrogante e cheia de boas intenções em relação a uma "aliança das minorias", que, enfim, agora, mostrava que tinha capacidade de aprender e estaria agindo conjuntamente.

Diante desta situação, há urgência de uma palavra esclarecedora. Não fui a Dresden porque, como judeu, sou membro de uma minoria. Fiz a viagem porque, como judeu, sei que quem ataca uma pessoa por causa de raça, etnia ou religião, não ataca somente uma minoria, mas a sociedade democrática como um todo.

Neste sentido, não é relevante perguntar por que um representante da comunidade judaica manifesta seu pesar e sua solidariedade a Elwi Ali Okaz, mas sim por que não houve também uma avalanche de visitantes nem a solidariedade de representantes da maioria da sociedade alemã?

Por que as reações da mídia e da política ao assassinato chegaram tão tarde? Agora, muito em função da pressão da opinião pública internacional, tenta-se melhorar a situação. Consternação forçada, contudo, não convence.

Parece que a sociedade alemã não entendeu a envergadura do atentado de Dresden. Falta reconhecer que o assassinato de Marwa El-Sherbini é evidentemente o resultado de uma propaganda praticamente desimpedida contra os muçulmanos, feita desde as margens extremistas da sociedade até seu centro.

Principalmente a cena da extrema direita provoca, há anos, um clima de exclusão, demonização e medo frente a pessoas de outras crenças, estrangeiros e membros de minorias. Mas falta também enxergar que a ausência de resistência na sociedade contra o racismo pode incentivar outros atos terroristas – o termo é, nesse caso, absolutamente adequado – como esse homicídio covarde em Dresden.

Por isso, a Alemanha precisa, o mais tardar agora, levar a si mesma a julgamento. Não se trata apenas de isolar e punir os agressores, mas também de fazer um trabalho sustentável de esclarecimento, bem como disseminar o saber sobre a população muçulmana, sua cultura, sua religião e seus costumes.

Nossa meta não é a tolerância, mas sim o respeito no convívio mútuo. Não há nada que substitua um diálogo amplo, do qual participem não somente teólogos e autoridades, mas sim o maior número possível de cidadãos – um trabalho de base, no melhor sentido do termo.

Sei que a indignação e a insegurança entre os muçulmanos são grandes no momento, o que é compreensível. Mesmo assim, eles não deveriam esmorecer em seus esforços pelo lugar legítimo que lhes cabe na sociedade alemã. Para muitos – e isto ensina a experiência de outras minorias, inclusive dos judeus – tal significa um exercício de equilíbrio entre manter a própria identidade e se abrir para o ambiente social. Para solucionar esse dilema, é também imprescindível um diálogo aberto entre a minoria e a maioria. Integração não significa assimilação. Em caso de respeito mútuo, a diferença não é uma pedra no sapato da convivência.

Stephan Joachim Kramer é secretário-geral do Conselho Central dos Judeus na Alemanha. Este comentário foi escrito originalmente para o portal www.qantara.de, que conta, entre outros, com a participação da Deutsche Welle.

Autor: Stephan Joachim Kramer
Revisão: Augusto Valente