A explosão do que pode ser uma bomba de hidrogênio pela Coreia do Norte é um momento duro para os Estados Unidos. Uma única bomba desse tipo pode destruir completamente uma cidade como Nova York. Da mesma forma, a detonação de uma bomba H na atmosfera acima do Vale do Silício poderia paralisar completamente, através de seu impulso eletromagnético, as centrais da Apple, do Facebook e da Google. E, em breve, Pyongyang terá os meios para levar esse explosivo diretamente ao alvo.
Saiba mais: Primeira crise nuclear da Coreia do Norte é de 1994
A estratégia americana de usar sanções para conter o programa nuclear e de mísseis dos Kim fracassou. A resolução 1718 da ONU, com as primeiras medidas punitivas que o Conselho de Segurança impôs, após o primeiro teste nuclear da Coreia do Norte, já tem quase 11 anos. Apesar dela, os governantes da dinastia Kim conseguiram chegar ao primeiro teste nuclear. Os Estados Unidos não estavam preparados para isso, como mostram as reações perplexas.
O presidente Donald Trump pode até ameaçar usar seu potencial nuclear, mas nem ataques militares convencionais nem nucleares são uma opção realista. Os aliados Coreia do Sul e Japão seriam os primeiros a dizer não, pois eles seriam as primeiras vítimas de contra-ataques norte-coreanos. E se o governo americano continuar apostando no endurecimento de sanções e aguardando pelos seus efeitos, a Coreia do Norte ganhará mais tempo para aperfeiçoar seus mísseis.
Mas negociações também não beneficiariam Washington. A Coreia do Norte entraria nelas para negociar um acordo de paz, obter uma garantia de existência e se livrar das sanções. Mas, ao contrário de antes, o regime dos Kim iria querer sair dessas negociações com o reconhecimento de que é uma potência nuclear. Como exemplo, os diplomatas norte-coreanos mencionam o Paquistão, que também foi aceito pelos EUA como potência nuclear. Assim, para iniciar conversações, os Estados Unidos teriam de abrir mão de sua exigência de uma Coreia do Norte livre de armas nucleares. Possivelmente daria para negociar uma restrição do arsenal, mas nada mais. Essa situação, no entanto, seria inaceitável para a Coreia do Sul e o Japão.
O jogo duplo da China também frustra a equipe de Trump. Os americanos dependem de Pequim implementar as sanções. Mas o presidente Xi Jinping persegue interesses próprios. Primeiro, a Coreia do Norte deve continuar sendo um Estado-tampão. Por esse motivo, a China não vai apoiar um embargo petrolífero. Segundo, os chineses querem diminuir a influência dos Estados Unidos na Ásia Oriental. Para isso, o programa nuclear e de mísseis da Coreia do Norte é bastante útil, porque semeia a discórdia nas alianças dos EUA com o Japão e a Coreia do Sul.
A Rússia também não é de forma alguma neutra nessa história. A suposição de que o presidente Vladimir Putin usa a Coreia do Norte como um veículo para humilhar os EUA não é exagerada. Os rápidos progressos na tecnologia de mísseis da Coreia do Norte são muito suspeitos, mesmo que faltem provas de uma suposta ajuda russa. A mudança de situação torna Moscou um importante ator no Extremo Oriente. Isso combina com o apelo da Rússia contra sanções e a favor de negociações.
Pode-se encarar a situação como quiser: seja com, seja sem negociações com a Coreia do Norte, os EUA são os atuais perdedores na Península da Coreia. George W. Bush e Barack Obama não estudaram Maquiavel tão bem quanto Kim Jong-il e seu filho Kim Jong-un. E a cada tuíte contra Pyongyang, Trump mostra ser um tigre sem dentes, porque atualmente não há nenhuma opção para os americanos saírem ganhando.
Talvez Washington devesse procurar um mediador neutro, como, por exemplo, a Suécia ou a Alemanha – ambos os países têm uma embaixada em Pyongyang –, e negociar nos bastidores uma possível base para as negociações. Mas esse passo requer dos americanos a percepção de que, neste momento, estão do lado mais fraco da corda.