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Opinião: Estados Unidos como polícia global

11 de abril de 2017

Em encontro do G7, secretário de Estado diz que EUA sairão em defesa de civis onde for conveniente. Aparente guinada na política externa de Trump suscita questões sem revelar estratégia concreta, opina Bernd Riegert.

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Bernd Riegert é correspondente da DW em Bruxelas

No encontro de cúpula de ministros do Exterior do G7 encerrado nesta terça-feira (11/04) na italiana Lucca, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, não deixou mais nenhuma dúvida de que a Rússia deve mudar sua política para a Síria e cortar suas ligações com o Irã, como também com a milícia xiita libanesa Hisbolá. Esse é um desafio claro lançado em direção a Moscou e que não se poderia esperar alguns dias atrás.

Após o recente ataque com gás na Síria, Tillerson mudou drasticamente a atitude do governo de Donald Trump frente à Rússia. Em vez de aproximação, a posição parece ser agora de uma confrontação mais acirrada. Nessa mudança de curso, Tillerson sabe que conta com a aprovação dos mais importantes ministros do Exterior ocidentais. Itália, Reino Unido, França, Japão, Canadá e Alemanha não tinham opção a não ser aprovar o ataque militar dos americanos e apoiar o novo posicionamento frente ao conflito sírio.

Em princípio, concorda-se que a Rússia deva se afastar do impasse chamado Bashar al-Assad. Mas nas nuances isso não se aplica. Assim, os ministros do Exterior do G7 não conseguiram chegar a um acordo sobre uma ameaça por meio de novas sanções.

Quanto tempo a posição americana clara vai durar? Essa foi a questão que pairou sobre o encontro na região da Toscana. Afinal, nas semanas passadas, Tillerson havia mudado várias vezes de atitude em relação à Síria. Durante a campanha eleitoral, Trump havia rejeitado intervenções por parte dos Estados Unidos, mas agora ele volta atrás e intervém. Na Itália, o seu ministro do Exterior chegou a fazer até mesmo uma promessa bastante abrangente: os Estados Unidos iriam intervir em qualquer lugar para fazer com que sejam responsabilizados todos que cometerem crimes contra inocentes. A potência mundial como polícia global. Se necessário, mesmo sem mandato.

Assim, Trump se aproxima novamente do ex-presidente George W. Bush, que quis investir contra o "eixo do mal" e empreendeu uma guerra no Iraque, que o próprio Trump criticou como um grande erro. Aparentemente, o atual presidente americano e seu secretário de Estado estão dispostos a mexer não somente com a Rússia, mas também com a Coreia do Norte e sua potência protetora China.

As ameaças de "ações unilaterais" podem ser saudadas como uma abordagem enérgica, corajosa, mas também podem ser percebidas como um jogo perigoso no gatilho. Em Lucca, os ministros do Exterior ocidentais não chegaram a um consenso ao avaliarem a doutrina Trump em formação.

Tillerson não deve contar com apoio prático, ou seja, como tropas ou dinheiro, de seus aliados ocidentais em sua nova política para a Síria. Tudo deve ficar em palavras. Nenhuma das outras seis potências quer se envolver num conflito sangrento como na Síria. É questionável se a nova confrontação com a Rússia virá a proporcionar uma chance para um processo de paz político, como almeja o ministro alemão do Exterior alemão, Sigmar Gabriel.

Putin vai realmente mudar de posição e deixar que Assad caia? Não tão cedo, talvez num futuro próximo, quando o presidente sírio não lhe for mais útil. Os russos também vão esperar para ver se a política externa americana se concretiza ou se na próxima semana se anuncia uma nova guinada.

A questão de por que Trump mudou agora sua atitude de "EUA em primeiro lugar" para "EUA por toda parte" ainda não foi suficientemente respondida. Em Washington, alguns observadores suspeitam que isso tenha a ver com a filha do presidente. Sem salário, mas com muita influência sobre o pai, Ivanka Trump apelou aparentemente à moral do genitor para que se utilize a singularidade dos EUA. Outros especulam sobre uma manobra de política interna para distrair a atenção, já que, segundo eles, o presidente quer mostrar que a Rússia não influenciou a sua eleição e que os contatos de sua equipe eleitoral com Moscou foram completamente inocentes.

E o que vai acontecer agora? O porta-voz de Trump na Casa Branca não descartou a possibilidade de mais ataques aéreos se o regime Assad continuar utilizando bombas de barril, o que acontece com frequência. Os EUA vão intervir realmente de forma maciça na guerra da Síria? O que o presidente vai exigir, afinal, de seus aliados na Europa e na Otan? Como os americanos irão se comportar no delicado conflito com a Coreia do Norte, caso o enlouquecido governante em Pyongyang, como é esperado, ordene o próximo teste nuclear? A política externa americana suscita muitas questões táticas, mas uma estratégia concreta ainda não está clara.

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.