Três comunas francesas proibiram em suas praias públicas o uso do burquíni – o traje de banho compatível com a sharia (lei islâmica). Uma decisão dura, mas não desprovida de razão: na França assolada pelo terrorismo, é preciso apagar do quotidiano os símbolos do islã fundamentalista extremo, decidiram os prefeitos em questão. Um tribunal ratificou esse ponto de vista.
Em princípio, qualquer pessoa nada como quiser, coberta de roupa ou totalmente nua, desde que ninguém se sinta insuportavelmente incomodado ou molestado. O exercício da liberdade religiosa, em cujo nome se realiza o banho de burquíni, tem limites. Nem na França nem na Alemanha ele é um direito fundamental: a liberdade de religião termina onde os direitos alheios são restringidos.
Isso não se refere apenas ao burquíni, mas também ao véu de corpo inteiro (burca), ao véu facial (nikap) ou ao lenço de cabeça (hijab). A função de tais peças de vestuário seria a proteção contra homens sexualmente agressivos, que de outro modo se lançariam sobre as mulheres descobertas. Elas representam uma imagem masculina absurda e medieval, que cabe rechaçar radicalmente: nem todos os homens são tarados.
Como homem, eu me sinto agredido e discriminado pela ostentação dessas peças de roupa. Se realmente fosse uma questão de religião e de proteção contra intrusões de cunho sexual, então os homens também deveriam se cobrir, escondendo os seus atrativos, seja para se defender de mulheres lascivas, seja – provavelmente ainda pior, segundo a visão moral muçulmana – para afastar homossexuais excitados.
Os homens do Irã demonstram como são absurdas, na sociedade moderna, essas prescrições vestimentárias derivadas do Alcorão: trajando, eles próprios, lenços de cabeça e véus, protestam contra o ocultação do corpo feminino imposta pela lei do país.
Sim, é certo que 300 anos atrás também as mulheres da Europa tinham que esconder os cabelos debaixo de toucas, e que há meros 100 anos elas só podiam nadar no mar com trajes que iam até os pés. Contudo, desde então o mundo evoluiu. Hoje, essas concepções confusas precisam ser rejeitadas.
A proibição na França, aliás, não vale só para os muçulmanos: ela igualmente atingiria os judeus ortodoxos que desejassem entram na água vestidos da cabeça aos pés.
Nós vivemos os dias de hoje, e também os grupos religiosos até certo ponto se adaptaram às concepções gerais da maioria. Se eu, por exemplo, pertencesse a uma religião que me prescreve andar sempre nu, eu tampouco poderia viver de acordo com essa visão: ela iria perturbar ou molestar outros cidadãos.
Os únicos Estados-membros da União Europeia que proibiram o véu de corpo inteiro foram a Bélgica e a França: eles investem contra a tolerância mal compreendida e, em casos isolados, isso também pode, justamente, incluir a interdição do burquíni em praias públicas.
Nesse ponto, a Alemanha é menos consequente e ainda precisa ganhar terreno. Mais uma vez se discute sobre a proibição da burca, sem que, no fim, isso resulte em ação. O burquíni só é banido em certas municipalidades ou em determinadas piscinas públicas. Ao menos os tribunais alemães obrigam as meninas muçulmanas a participar das aulas de natação na escola: nesse ponto, a missão educadora do Estado suplanta a liberdade religiosa falsamente invocada.
O islamismo, como religião, faz tanto parte da Europa como o cristianismo ou o judaísmo. Mas a burca, os véus de corpo inteiro, o burquíni e outras peças de vestuário com carga ideológica não estão incluídos aí. Eles só servem para impor uma concepção obsoleta do sexo feminino e condenar os homens como bestas obcecadas por sexo. Nenhuma dessas duas coisas é aceitável.