Ao lembrarem Primeira Guerra, Berlim e Paris fortalecem Europa
3 de agosto de 2014Hinos, bandeiras, convidados de honra, homenagem aos mortos, lançamento de pedra fundamental, abraços calorosos e os dois presidentes, discretamente, de mãos dadas. As imagens do Hartmannsweilerkopf, nos Vosges, foram emocionantes. Mas não vão ficar impressas na memória coletiva como a imagem do ex-presidente francês François Mitterrand e do ex-chanceler Helmut Kohl em 1984, de mãos dadas diante dos túmulos de soldados em Verdun. Naquela ocasião, Mitterand e Kohl sinalizavam que a reconciliação dos antigos "inimigos hereditários" França e Alemanha estava finalmente cimentada. "A Europa é a nossa pátria", disseram eles, à época.
Hoje, 100 anos após o início da Segunda Guerra Mundial, o presidente francês, François Hollande, e o presidente alemão, Joachim Gauck, sinalizam que nós aprendemos as lições proporcionadas pelo nacionalismo excessivo e pelo massacre bárbaro. Hoje, a reconciliação franco-alemã faz ambas as nações se comprometerem a continuar construindo a Europa.
Projeto de paz
A União Europeia é para Gauck não "um capricho da história, mas um ensinamento da história transformada em instituição". Hollande vai mais longe e apresenta o projeto de paz Europa, cujas raízes estão nos horrores das duas guerras mundiais como um modelo, como um incentivo para outras partes do mundo. Se "inimigos hereditários", que por centenas de anos se infligiram tanto sofrimento, se reconciliam no final, por que não seria possível isso ocorrer também no Oriente Médio ou na África?
Claro que isso também deve ser aplicado à própria Europa. A França se oferece para fazer mais pela reconciliação na Ucrânia e com a Rússia, disse Hollande. Gauck permaneceu mais genérico e reservado. O importante é que ambos sinalizaram para a Rússia que já não vivemos mais no mundo dos Estados nacionais de 1914. Os povos da Europa estão agora trabalhando em conjunto. A Rússia de hoje não deve mais seguir o caminho errado do Império Russo da época.
A mensagem de Hartmannsweilerkopf é: a guerra não deve ser mais um instrumento de política na Europa, mesmo que, infelizmente, o tenha sido nas últimas décadas nos Balcãs, na Geórgia e agora na Ucrânia. Já Joachim Gauck seguiu a ideia do "somente juntos!". A Europa vê crescer uma geração profundamente pacífica. Não existem mais inimigos hereditários como aqueles que os avós e pais de Hollande e Gauck haviam conhecido.
François Hollande também mirou com seu discurso nos eleitores da França, país onde o crescimento alarmante do partido nacionalista Frente Nacional preocupa. Ele afirmou que a Europa não distancia as pessoas de sua terra natal e que o amor à pátria, o patriotismo, deve ser, por isso, entendido como a vontade de vivermos juntos.
Europa imperfeita
Hollande tem razão quando diz que a Europa hoje não é perfeita, e é até controversa em muitos aspectos, que precisa de mais crescimento, de mais emprego e mais solidariedade. Mas, segundo ele, ela continua sendo uma garantia de paz e liberdade. Após as experiências das guerras mundiais, europeus não têm outra escolha senão insistir, conforme o líder francês, nesta "aventura extraordinária na história da humanidade".
O presidente alemão também criticou populistas eurocéticos de forma clara, ressaltando que a Europa continua a ser difícil, mas que as gerações dos nossos antepassados ficariam felizes se tivessem que lidar apenas com dificuldades desse tipo.
O presidente francês também deixou entrever um pouco de sua própria história familiar. Ele afirmou que seus avós nunca contaram muito sobre suas experiências de guerra, porque eles não podiam. Por isso, ele observou que hoje os europeus têm a obrigação de não silenciar. "Temos que recordar e homenagear o passado, também para evitar que as mortes sem sentido e os horrores da guerra se repitam novamente", alertou. Para Joachim Gauck, é importante um novo pensamento e um novo recordar.
Foram bons e importantes os discursos realizados pelos dois presidentes. A dimensão histórica do gesto de Mitterand e Kohl, eles não vão conseguir alcançar, mas esse gesto de agora também é algo difícil de se repetir ou se superar.